Um dos principais delatores da Operação Lava Jato, Sergio Machado, 73 anos, era obstinado com sigilo desde antes de assumir a presidência da Transpetro, que exerceu de 2004 a 2014.
Ainda na Secretaria de Governo da gestão de Tasso Jereissati, no fim da década de 1980, Machado cercava-se de cuidados quanto a documentos oficiais mais sensíveis. "Sergio tinha sempre uma segurança pessoal, tinha cuidados", disse um ex-aliado com quem o ex-senador trabalhou por muito tempo.
Segundo ele, Machado alimentava níveis excessivos de precaução no trato diário. "Tinha segurança no sigilo das coisas dele", conta. E repete: "Sigilo. Não queria que ninguém soubesse de nada, só trabalhava com pessoas da confiança. Sempre foi assim".
Foi desse modo que o então auxiliar de Tasso se tornou homem de confiança do governador, que, no entanto, preteriu o amigo em favor de um jovem político que despontava na cena cearense. Prefeito de Fortaleza, Ciro Gomes foi ungido por Tasso para sucedê-lo no governo.
O episódio feriu Machado, que se afastou do "galego". Como se para compensar, entretanto, Tasso bancou a candidatura do secretário para a Câmara dos Deputados, de onde saiu para em seguida concorrer ao Senado, elegendo-se. Parecia uma trajetória de sucesso.
Depois do período no Congresso, Machado voltou ao Ceará. Tinha influência e amigos. Fundou empresas, entre elas uma fábrica de jeans, a Vilejack, e uma rede de escolas que começou no Ceará e depois se expandiu para outros estados. Ambos faliram.
Pergunto a outro interlocutor de Machado sobre as razões que levaram à bancarrota dos negócios. Ele ri. "Sergio é um cara esperto demais, sempre foi", reconhece. "Mas a expertise dele não é por trabalho. Quebrou todas as empresas. É expertise de ganhar dinheiro fácil." De acordo com ele, o ex-presidente da Transpetro "não tinha capacidade gerencial e humilhava as pessoas". E acrescenta: "É autossuficiente. Não consegue fazer uma equipe de pessoas amigas".
Para ele, as empresas ruíram não porque não fossem maus investimentos, mas porque Machado as administrara da maneira errada. "Da mesma forma que subiu, caiu", avalia. Outro ingrediente para a débâcle empresarial do homem de negócios foram os métodos utilizados para irrigar as firmas. "Ele se valia de influência para conseguir dinheiro dos fundos de pensão do BNB", cita como exemplo.
Com a falência das empresas vieram as dívidas, que resultaram na perda de um imóvel na rua Sebastião de Abreu, que teria sido alienado pelo BNB e penhorado para garantir pagamentos de empréstimos, relata essa fonte. Aos maus ventos financeiros, seguiram-se os tombos na política.
Em 2002, candidatou-se ao Governo do Estado pelo MDB. Ficou em terceiro. Salvou-o uma curiosa e inesperada conjunção de fatores. A partir de 2003, com a eleição de Lula, PT e PMDB passaram a se enamorar. A relação se consolidou em 2003 e ganhou ares de casamento a partir de 2004 e 2005.
Naqueles anos, por influência dos caciques do emedebismo, Machado foi alçado à presidência da Transpetro. Ali ficou por cerca de uma década, durante a qual tratou de operar a divisão de propinas por meio de contratos de empreiteiras com a subsidiária da Petrobras. A porcentagem, disse Machado em delação, era de 5%.
Chegou a desviar R$ 100 milhões, que eram destinados para campanhas eleitorais de aliados de muitos partidos, entre MDB, PP, PT e DEM. Caiu nas delações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e de Delcídio do Amaral, ex-senador do PT apanhado numa trama para livrar aliados. Ambos apontaram Machado como operador de propinas do MDB na estatal.
Nesse momento, o cearense fez jus tanto ao apreço por sigilo quanto à sua pretensa obsessão por segurança. Armado de gravador e de olho num eventual escape para si e os três filhos, que o ajudaram sempre a urdir seus esquemas, cuidou em gravar os companheiros de partido confabulando estratagemas para apear Dilma Rousseff da cadeira de presidente. A delação explodiu em abril de 2016. Arrastou para o centro do furacão metade da gestão Temer. A outra metade pendurou-se como pode.
O POVO tentou contato com Sergio Machado por telefone e presencialmente na última sexta-feira, mas não obteve retorno.