Símbolo da velha guarda skatista, Fábio Conceição, de 43 anos, tem dedicado as últimas três décadas ao esporte. Natural de São Paulo, com passagens pelo Ceará, Fábio segue ativo na disputa de competições regionais e nacionais mesmo após tantos anos praticando a modalidade, agora na categoria master (para atletas acima dos 40 anos).
Conhecido como Dudu — ou Mestre, como é chamado pelos amigos de pistas —, o skatista presenciou e participou ativamente das mudanças no esporte ao longo dos últimos anos.
Mesmo sem nunca ter ascendido à categoria profissional, Dudu acumula diversas conquistas e vê parte de suas melhores experiências atreladas ao skate. Em entrevista ao O POVO, Dudu conta, por meio de sua trajetória, as vivências de um atleta amador em um esporte que vive seu apogeu na era atual. A paixão pela modalidade também rendeu amizade com Chorão, então vocalista da banda Charlie Brown Jr.
O POVO - Como se iniciou a sua relação com o skate?
Dudu - Eu iniciei no skate em 1992. Via alguns amigos do meu bairro praticando e tinha o sonho de ter um skate também, mas não tinha condições de comprar. Foi quando esses amigos se juntaram e cada um foi trazendo uma peça de skate pra mim. Um trouxe a roda, outro trouxe o rolamento, e esse foi meu primeiro contato com o skate, a partir daí deslanchou. E hoje eu sou fruto do que esses meus amigos plantaram, assim como eu vejo outros skatistas sendo fruto daquilo que eu plantei.
O POVO - Quais os campeonatos mais marcantes que você já participou?
Dudu - Já participei de muitos campeonatos e fiquei em várias colocações, mas um grande marco para mim foi a primeira vez que ganhei um campeonato amador, em setembro de 2007. Era um evento disputado por 150 participantes e somente 10 disputavam a final e há dois anos eu só ficava entre o 40º e 30º lugar. Quando cheguei à semifinal, já estava superfeliz, comemorando o 10º lugar.
Então meus amigos se reuniram, me deram apoio e me incentivaram falando que aquele era o meu dia, e era mesmo. Ali eu ganhei o meu primeiro campeonato amador, foi muito marcante para mim. Também em 2016, antes de viajar para a Europa a trabalho, ganhei uma etapa do Grand Master e já cheguei lá como campeão.
O POVO - Durante todos estes anos praticando a modalidade, qual foi a sua maior dificuldade?
Dudu - Parece até clichê, mas foram as lesões. Eu fiquei praticamente de 1998 até 2004 com uma lesão no menisco. O tratamento era bem mais difícil e mais caro na época. Com muito custo, fiz uma ressonância em um hospital de referência em São Paulo e tive o diagnóstico, mas só consegui fazer a cirurgia uns oito meses depois. Era muito difícil querer competir e não ter condições. O médico deu uma previsão de dois anos para eu voltar a praticar, mas só consegui voltar ao meu bom nível em 2007.
O POVO - Você teve que lidar com algum preconceito por ser skatista?
Dudu - Sempre tem muita ignorância em relação a isso, né? Eu sou dos anos 1990, no tempo em que eu comecei a andar de skate isso era visto como coisa de drogado, marginal ou gente sem ocupação. Tive que lidar com repressão policial, olhares de julgamento, pensamentos como “Lá vem o skatista, vai pichar a parede da minha casa”. Graças a Deus nunca pichei a parede e ninguém (risos). Mas os tempos são outros, o pior já passou. E agora que é um esporte olímpico essa questão deu uma amenizada.
O POVO - Você se aproximou do Chorão em um determinado momento. Como era sua relação com ele?
Dudu - A minha relação com o Chorão começou em São Bernardo. A modalidade dele era freestyle e a minha era street. Teria um evento na Praça dos Palmares, em Santos (SP), o evento era domingo e eu cheguei no sábado de madrugada. E aí, naquele perrengue de sempre, sem lugar para se hospedar, acabei me hospedando debaixo do palco. De repente chega um cara com um carrão me dizendo: “Você que é o Mestre lá da Zona Leste? O Presidente (amigo em comum) mandou isso aqui pra você” e me entregou R$ 800.
No dia seguinte, ele apareceu na pista e logo o lugar lotou, praticamente passou de campeonato de skate para show. Depois ele nos anunciou em cima do palco e aí começou a surgir um laço de amizade e irmandade. Enfim, foi uma grande perda, né? Faz uma falta tremenda. E foi através do skate e da música que a gente criou essa afinidade, assim como com tantos outros.
O POVO - Quem são as suas referências no skate?
Dudu - As minhas referências e as pessoas que me motivam são principalmente uma galera que era criança e hoje em dia representa a cena do skate no nosso País, como o preparador da seleção brasileira de skate, Fábio Castilho. Fui um dos primeiros a fazer a inscrição dele nos campeonatos quando era iniciante e hoje em dia ele é uma grande referência para mim.
Posso citar também Thiago Lemos e Marcelo Formiga, que são caras muito acima da média no skate. Eles e tantos outros nomes grandes do cenário nacional. Hoje, mesmo não sendo campeão olímpico, eu me sinto um, porque pessoas que eu ajudei estão representando nosso país e isso é muito gratificante. Não tem preço.