Toda eleição conta uma história. Realizados de quatro em quatro anos os pleitos trazem novos personagens e elementos para o cenário político brasileiro. Nesse processo, uma figura central e corriqueira continua a ter vaga cativa, sempre em busca de garantir o bom funcionamento da dinâmica eleitoral no dia do voto: o mesário.
Elizangela Adelia do Nascimento, 42, é analista de SAC, formada em Administração e atua como mesária desde 2012. Neste ano, ela voltará a cumprir a função vital que milhares de brasileiros se dispõem a protagonizar em domingos de eleição. No caso de Elizangela, a atuação é motivada pelo sentimento de gratificação em participar de um processo que afirma, sem titubear, ter transparência do início ao fim com todos os atores envolvidos.
Em entrevista ao O POVO, a mesária justificou sua participação, disse que pretende atuar em novas eleições que vêm pela frente e falou sobre as mudanças que percebeu ao longo dos anos no comportamento de eleitores.
O POVO - Qual a sua relação com a função e de onde surgiu a ideia de ser mesária?
Elizangela - Comecei por conta de uma amiga que era presidente da seção onde eu votava. Sempre gostava e achava legal esse trabalho. Então sempre tive curiosidade sobre o processo da eleição. Então me inscrevi, pelo site do TRE, e fui convocada. Estou, até hoje, e pretendo ficar por muito tempo (na função). Comecei como segundo mesário e hoje sou presidente de seção. Minha sala tem uma participação ampla de pessoas com deficiência, é uma seção onde temos que ter um pouco mais de atenção com esses eleitores. Gosto de fazer isso, de estar lá. A gente conhece o processo, revê pessoas que não vê há tempos, é um dia bem diferente para mim e é próximo da minha residência”.
OP - A democracia e o sistema eleitoral têm sofrido ataques constantes. Como mesária você percebe mudanças no trabalho em função desse acirramento político no País?
Elizangela - Sou mesária desde 2012 e algumas coisas mudaram um pouco. Nunca presenciei nenhum acontecimento de agressividade, mas você percebe que as pessoas estão levando a eleição mais para o lado pessoal. Acabam levando mais a sério. Vão de camisa (em alusão ao seu candidato), observam o que a gente fala. Existe aquela identificação e elas compram a ideia e brigam por aquilo. Tem pessoas que ficam na fila e falam entre si, tentando mudar a ideia de outras pessoas. Mas nunca vi nenhum caso de violência. Mas isso é algo que eu não percebia antes, mais para trás as pessoas iam procurando em quem votar, mas hoje elas me parecem que vão já com um candidato certo e uma ideia definida”.
OP - Como você se prepara e qual o sentimento no dia da eleição ?
Elizangela - Um dia antes já preparo a roupa que usarei. Procuro não usar roupas com cores que façam alusão a partidos ou candidatos. Sempre vou com uma roupa neutra. Acordo muito cedo e sempre chego cedo na seção. Tento organizar a sala visando o melhor conforto de todos, tendo cuidado com detalhes para pessoas com deficiência. E o sentimento que tenho é de gratidão. Fico grata em poder auxiliar pessoas a votar, participar do processo de forma correta e honesta. A gente, como cidadão, depende muito disso”.
OP - Você já gostava de política ou acompanhava antes de exercer a função?
Elizangela - Já acompanhava política antes de ser mesária e tinha curiosidade para saber como funcionava o processo eleitoral. Quando vi minha amiga participando, me interessei. Mas como sou mesária e presidente de seção evito tomar partido de A ou de B. Como eleitora, busco conhecer propostas de candidatos e saber quais as ideias, mas não me envolvo nesse sentido de tomar partido. Às vezes a gente vê que o eleitor vai votar eufórico, e depois de votar em um candidato começa a falar coisas. Mas a gente que é mesário busca essa neutralidade para não dar margem para interpretações equivocadas”.
OP - Tem alguma história curiosa ou situação que te marcou em dias de eleição?
Elizangela - O que me marca mais são as pessoas que fazem questão de ir votar. Principalmente as pessoas que têm uma idade mais avançada e que enfrentam dificuldade de mobilidade ou outras questões decorrentes da idade mesmo. Elas e outras pessoas com limitações vão votar. É gratificante perceber que apesar disso as pessoas querem participar e não desistem. Nós estamos lá para facilitar essa experiência e esse direito”.