A cearense Ana Carolina Pessoa, ou Carol Pes, segundo a assinatura de suas obras, proporciona às pessoas a oportunidade de carregar, a todo tempo, uma arte consigo. O pincel, que por um período foi ferramenta de trabalho, em 2018 foi substituído por máquinas elétricas com diversas agulhas acopladas, com a função de marcar definitivamente a pele.
Hoje, Carol é tatuadora e tem no seu portfólio centenas de trabalhos, nos quais é possível conferir a riqueza de detalhes e o realismo presente em cada criação. Tudo começou ainda na graduação de Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Ceará (UFC). Os desenhos durante as aulas evoluíram para ilustrações de periódicos de colegas, até chegar nas inscrições na pele.
Todo conhecimento acadêmico virou também referência e marca registrada de suas ilustrações. A delicadeza da fauna e da flora é traduzida por meio de seus traços e cores, que se transformam em besouros, carcarás e lontras e dividem atenção com magnólias, jasmins e lótus. Assim como na natureza, não há limites para a imaginação da tatuadora e do cliente.
As visitas à sua terra natal, como a que acontece nesta semana, entre 3 e 7 de fevereiro, tem intuito pessoal, para matar a saudade e rever familiares e amigos, e profissional. Carol sempre desembarca em Fortaleza com a agenda cheia para tatuagens e horários reservados com até meses de antecedência. Na conversa com O POVO, a artista conta um pouco da sua trajetória e da relação entre a botânica e a tatuagem.
O POVO - Como a biologia e, principalmente, a botânica entrou na sua vida?
Carol Pes - Eu entrei na biologia muito sem saber o que eu queria realmente fazer. Em 2007. No meio do curso, me apaixonei pela botânica e fui seguindo essa linha no mestrado e doutorado. Vim pra Recife só pra fazer a pós em botânica mesmo, que não tinha em Fortaleza.
OP - E como começou a sua relação com a tatuagem?
Carol - No finalzinho do doutorado, eu vinha enfrentando um quadro depressivo por conta da minha situação acadêmica. Tudo muito complicado, com algumas coisas dando errado. Também vinha enfrentando dificuldades financeiras. Então, comecei a desenhar. Fiz alguns trabalhos de ilustração para periódicos de colegas. Vendia artesanato e umas telas pintadas também. Até que me deram a ideia de começar a tatuar.
OP - Se não fosse bióloga, seria tatuadora? Como você enxerga a associação desses dois ofícios?
Carol - Eu sempre fui artista. Mas a tatuagem foi um meio de conseguir viver de arte. É bastante difícil pagar as contas somente com venda de produtos ou serviços. Eu não sou bióloga propriamente dita, porque nunca atuei, de fato, no mercado de trabalho. Acho que, no fim das contas, é mais difícil ser bióloga do que artista (risos). Eu gosto muito de tatuagem, mas foi uma coisa que aconteceu mesmo pela minha situação financeira. A vantagem de ser uma bióloga tatuadora é poder incorporar o meu amor pela biologia nos desenhos que eu faço.
OP - Quanto tempo levou para você pensar em atuar como tatuadora até fazer as primeiras obras na pele?
Carol - Foi bem pouco tempo. Quando eu decidi começar a tatuar, fiz umas aulas com um tatuador e, pouco depois, já comecei a tatuar pele de amigos sob supervisão.
OP - Qual é a faixa etária e gênero das pessoas que mais te procuram para tatuar?
Carol - Meu público é, primordialmente, composto por mulheres dos 20 anos aos 70 anos, com a maior parte dele dos 30 anos aos 50 anos. As mulheres se identificam mais com meu trabalho.
OP - O que você mais gosta nessa profissão?
Carol - A liberdade de poder viajar trabalhando e ser acolhida por diversos estúdios de tatuagem pelo mundo. Já atuei em diversos estados do Brasil, no Uruguai, na Argentina e na Europa.
OP - Qual foi a tatuagem mais desafiadora? E a mais criativa?
Carol - Acho que todas as tattoos são desafiadoras. Porque eu sempre fico nervosa e ansiosa com suprir as expectativas dos clientes. Uma bem complexa que eu fiz foi uma lateral de uma cabeça, por causa da textura da pele e da dor que a pessoa sente.
OP - Quais são os seus próximos passos?
Carol - Acredito que o aperfeiçoamento artístico é sempre o caminho. Também quero expandir a minha marca de cerâmicas e de produtos.