O setor de turismo no Ceará enfrenta uma tendência negativa mais acentuada na baixa temporada de 2024 – período compreendido entre o Carnaval até junho – em comparação com os últimos anos. Os altos custos das passagens aéreas e as chuvas intensas foram apontados como as principais influências que afetaram o faturamento de estabelecimentos pelo Estado.
A Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o índice de volume das atividades turísticas do Ceará estava negativo em 8,5% em março deste ano, em comparação a igual período do ano anterior. Houve queda, também, na variação mês a mês, de 3,7%, e na variação acumulada em 12 meses, de 7,7%.
Em março, o nível de ocupação da rede hoteleira cearense, medido pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), foi o menor registrado em 2024, ficando em 58,94% contra 62,65% no mesmo período de 2023. A ocupação também foi menor na base anual de fevereiro, saindo de 63,06% para 60,02%. Já os dados de abril mostraram melhora, indo de 59,03% no ano passado para 63,22% nesse ano, devido a realização de eventos.
A presidente da ABIH, Ivana Bezerra Rangel, destacou que o primeiro semestre não é, geralmente, um período de lazer, tendo uma ocupação mais voltada aos eventos corporativos. “Só que o pouco lazer que viria – uma prova disso são os hotéis de praia (com baixa demanda) – realmente deixaram de vir. (...) Realmente, a gente está com o primeiro semestre bem aquém dos anos anteriores, principalmente comparando com o ano passado.”
Um ponto de atenção unânime apontado tanto por Ivana quanto pelo presidente da Câmara Setorial de Turismo e Eventos, Régis Medeiros, está relacionado à malha aérea, principalmente. “Temos menos voos do que antes e as tarifas estão muito elevadas. Isso é um problema nacional, afeta a hotelaria e o turismo em todo o País. Menos voos e tarifas caras são fatores preocupantes”, de acordo com Régis.
O faturamento de bares e restaurantes na baixa temporada também tem sido afetado, ficando 20% menor do que no ano passado, conforme o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel), Taiene Righetto. “O impacto tem sido enorme. No ano passado, nós já tivemos uma temporada de 15% de faturamento abaixo do ano anterior, e agora com essa baixa temporada mais forte do que o normal, tem causado realmente uma contenção de custo muito grande, contratações.”
A consultora e produtora de eventos voltados ao Turismo, Bruna Fernandes Mello, 37, pontuou que, na baixa temporada desse ano, praticamente todos que atuam com tais eventos junto com ela ficaram sem trabalhar. “Ninguém mais arrisca em fazer evento para não ter público. (...) Fiquei praticamente sem renda nessa baixa. Eu como todos que fazem parte do meu time.”
A situação difícil foi sentida de perto pelo proprietário da pousada e restaurante Altas Horas Beach, Diógenes Sombra, 39, localizada na Praia da Baleia, no município de Itapipoca. “Estamos todos os dias tentando entrar em contato com nossos clientes via WhatsApp, transmissões e Instagram, convidando-os para vir à pousada. Nos finais de semana, temos um movimento razoável, mas, durante a semana, a procura é muito baixa.”
“No ano passado, a baixa temporada foi bem melhor. Este ano, estamos sofrendo muito”, disse Diógenes. Para tentar melhorar o faturamento na baixa temporada, o estabelecimento tem buscado estratégias de redução dos valores das diárias, incluindo descontos no cardápio do restaurante no local, além do oferecimento de promoções, como "compre uma diária e ganhe duas".
Apesar das medidas promocionais, os hóspedes de Diógenes têm cancelado suas estadias quando chove, assim como aconteceu no feriado de Corpus Christi, no dia 30, ou mesmo devido à falta de energia que, às vezes, acontece na região. “Só nas últimas duas semanas tivemos grandes problemas com a falta de energia. Isso atrapalhou muito a nossa pousada, pois os hóspedes foram embora e não quiseram ficar”, comentou.
A Enel Distribuição Ceará esclareceu que o fornecimento de energia foi normalizado na pousada no dia 30, por volta de 13 hora. “A interrupção foi causada por uma vegetação que entrou em contato com a rede elétrica.” A empresa reforçou, também, que irá investir cerca de R$ 4,8 bilhões em toda a área de concessão no Ceará no período de 2024 a 2026; além de ter se reunido com entes do setor turístico nesta semana para falar sobre as temáticas.
O segmento do Turismo também pontuou a necessidade de promover propagandas para fortalecer a imagem do Ceará como destino turístico. “É a velha história de que propaganda é a alma do negócio. Quem não é visto, não é lembrado”, pontuou Ivana. “É fundamental que tenhamos uma promoção mais forte e contínua. Hoje, temos concorrência de outros estados do Nordeste. Todos estão se movimentando, e precisamos acompanhar”, acrescentou Régis.
Ceará investe em capacitação e eventos para atrair visitantes
O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Turismo (Setur), está intensificando seus esforços para promover o turismo em todas as regiões do Ceará. A missão da Setur é fomentar o turismo por meio da capacitação de agentes e operadores, além de executar uma política de promoção turística, que inclui a participação em feiras e eventos nacionais e internacionais.
O POVO solicitou uma entrevista por telefone com a Setur-CE, mas obteve resposta por meio de nota. Já a Secretaria de Turismo de Fortaleza (SetFor) também foi contatada para comentar o cenário, mas não retornou até a publicação desta matéria.
Em maio, a Setur capacitou mais de 1,8 mil profissionais do setor, no intuito de reforçar o compromisso com a qualidade no atendimento e comercialização dos destinos cearenses. Desde o início do ano, o Ceará esteve em oito países e dois estados brasileiros, com estande próprio em feiras do setor turístico.
Apesar de alguns desafios que influenciam a decisão dos turistas, a Setur disse que o Estado tem registrado números positivos no fluxo internacional, e está focado em replicar esse sucesso no turismo doméstico. Em abril, o Ceará destacou-se como o destino nordestino que mais atraiu viajantes estrangeiros.
O turismo de eventos é uma das estratégias essenciais da Secretaria para manter o fluxo turístico em períodos de baixa temporada. O Centro de Eventos do Ceará, administrado pela Setur, sediou 13 eventos em abril, movimentando aproximadamente 50 mil pessoas. "A junção do segmento de negócios com o de lazer é fundamental para o fortalecimento do turismo", afirma a Setur.
Ocupação hoteleira mês a mês no Ceará
2024:
Janeiro: 78,01%
Fevereiro: 60,02%
Março: 58,94%
Abril: 63,22%
2023:
Janeiro: 79,25%
Fevereiro: 63,06%
Março: 62,65%
Abril: 59,03%
Fonte: ABIH
Índice de volume das atividades turísticas no Ceará em março de 2024
Variação (%) Período
- 3,7 Mês/mês imediatamente anterior
- 8,5 Variação mês/mesmo mês do ano anterior
- 7,7 Variação acumulada em 12 meses
Fonte: IBGE
Lei
A Lei nº 14.865, de 28 de maio de 2024, criou o Calendário Turístico Oficial do Brasil com o objetivo de promover o turismo e o desenvolvimento local, divulgando eventos de todo o território nacional
Falta de energia também é um problema para o setor
Apesar das medidas promocionais, os hóspedes de Diógenes têm cancelado suas estadias quando chove, assim como aconteceu no feriado de Corpus Christi, no dia 30, ou mesmo devido à falta de energia que, às vezes, acontece na região. "Só nas últimas duas semanas tivemos grandes problemas com a falta de energia. Isso atrapalhou muito a nossa pousada, pois os hóspedes foram embora e não quiseram ficar", comentou.
A Enel Distribuição Ceará esclareceu que o fornecimento de energia foi normalizado na pousada no dia 30, por volta de 13 hora. "A interrupção foi causada por uma vegetação que entrou em contato com a rede elétrica." A empresa reforçou, também, que irá investir cerca de R$ 4,8 bilhões em toda a área de concessão no Ceará no período de 2024 a 2026; além de ter se reunido com entes do setor turístico nesta semana para falar sobre as temáticas.
O segmento do Turismo também pontuou a necessidade de promover propagandas para fortalecer a imagem do Ceará como destino turístico. "É a velha história de que propaganda é a alma do negócio. Quem não é visto, não é lembrado", pontuou Ivana. "É fundamental que tenhamos uma promoção mais forte e contínua. Hoje, temos concorrência de outros estados do Nordeste. Todos estão se movimentando, e precisamos acompanhar", acrescentou Régis.