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Financiamento não é gargalo para Eólicas offshore
Economia

Financiamento não é gargalo para Eólicas offshore

| Modelagem | Perfil dos investidores sinaliza segurança nos projetos bilionários. Mesmo assim os bancos de fomento indicam que querem participar dos negócios
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Imagem de apoio ilustrativo de eólica offshore (Foto: FOKKE BAARSSEN)
Foto: FOKKE BAARSSEN Imagem de apoio ilustrativo de eólica offshore

Dinheiro não é considerado um problema para a execução dos 48 projetos de eólicas offshore inscritos no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) para a costa do Nordeste, segundo avaliam agentes do setor. A explicação está no perfil das empresas, uma vez que boa parte das interessadas são grandes petroleiras - de caixas e finanças robustas - ou players consolidados - com a venda dos megawatts praticamente garantida.

No Maranhão, contou Raimundo Fraga, superintendente de Minério-Metalúrgica, Petróleo e Gás do Governo do Estado, a maioria dos projetos pensados para o litoral maranhense pensa em conectar as eólicas às plantas de hidrogênio verde.

Rodrigo Mello, diretor do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), no Rio Grande do Norte, considerou que a participação de petroleiras como a Petrobras e Shell assegura o desenvolvimento da modalidade, demonstrando tranquilidade no componente financeiro.

Já Adão Linhares, secretário executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria de Infraestrutura do Ceará, observou com mais criticidade o cenário e vê com desconfiança os players do petróleo no setor.

"Quando olhamos como Estado é para atrair investimentos. Ficamos satisfeitos vendo essas empresas investindo em energia limpa. Por outro lado, percebemos que o mercado está passando por uma transição muito lenta da substituição do petróleo. E uma petroleira que o negócio dela é petróleo e gás natural vai mudar de um dia para o outro para eólica offshore? Não vai. Então, ficamos preocupados de eles estarem entrando no setor para não deixar fazer."

Mesmo assim, os bancos de fomento brasileiros se movimentam para participarem desta nova frente de progresso. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em estudo publicado no ano passado, a participação dessas instituições, "no âmbito do desenvolvimento e difusão de novas tecnologias", "vem possibilitando a estruturação da cadeia produtiva destas novas tecnologias em nível nacional."

"Esta política de conteúdo local fora de grande relevância, por exemplo, para o desenvolvimento da indústria eólica onshore no Brasil, incluindo seus diferentes estágios da cadeia de valor", diz o relatório "Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono", publicado em 2023 e que projeta a ampliação em 3,6 vezes da capacidade de energia do País a partir da eólica offshore.

A CNI ainda reconhece que o apoio dos bancos deve vir acompanhado de exigências, como a participação da indústria nacional na fabricação dos componentes e equipamentos, mas alerta que o requisito não pode se transformar em "um obstáculo ao acesso ao financiamento".

Responsável pela indução de áreas estratégicas na Região via linhas de crédito específicas, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) faz uso do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) para estimular áreas estratégicas para o progresso dos nove estados nordestinos e sinaliza que os recursos podem ser disponibilizados para fomentar a eólica offshore em Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte.

O presidente Paulo Câmara afirmou ao O POVO que o objetivo do banco é ser complementar às demais fontes dos investidores, além de aplicar recursos dos fundos internacionais parceiros que o BNB tem buscado. "Essa é a ideia: complementação. A gente poder fazer mais buscando uma compatibilidade com o FNE", reforçou.

Aldemir Freire, diretor de planejamento da instituição, explica que a atuação do Banco do Nordeste em empreendimentos do tipo, que requerem aportes bilionários, é diferente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - outro grande indutor do progresso no País. Ou seja, enquanto o BNDES financia um único projeto de grande porte, o BNB opta por entrar como parceiro financeiro de diversos projetos com parcelas menores.

"Então, a nossa estratégia é: Nós vamos participar. Mas, provavelmente, nós não seremos o agente financeiro principal. Até porque são empresas grandes, que já têm acesso à capital internacional e que vão agir com a emissão de títulos de carbono", afirmou, citando especialmente as petroleiras e ressaltando a inadimplência de quase zero deste perfil de cliente.

Na prática, dada a política nacional de estímulo à energia renovável e reindustrialização, ter recursos do BNB, por mais que não sejam a totalidade do empreendimento, funciona como uma chancela do Governo Federal para o investimento e qualifica a empresa para conquistar outras fontes de financiamento com fundos nacionais e/ou internacionais.

Ciente de como funciona a cadeia produtiva eólica após cinco anos como secretário de Planejamento do Rio Grande do Norte, Aldemir aponta, agora como diretor do BNB, a necessidade de apoio para outras áreas essenciais para que a eólica offshore tenha sucesso no Nordeste.

"A expansão da matriz energética brasileira vai passar pelo Nordeste. Primeiro com eólica onshore, depois fotovoltaica e depois eólica offshore. Mas três desafios surgem antes de chegar ao financiamento. A questão regulatória. Depois, a infraestrutura logística, porque os portos do Nordeste ainda não estão totalmente preparados, e a demanda, porque o setor eólico está com excesso de produção."

Exceto pela regulamentação, o BNB pode atuar como estimulador das outras duas áreas carentes e incapazes de ancorar os projetos offshore no Nordeste.

 

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No último ano, com a prática desse modelo de atuação, o BNB atingiu o recorde de R$ 58,5 bilhões em contratações de operações de crédito em 2023. O montante representou um crescimento de 27,1% e teve fatia relevante do Crediamigo (R$ 10,6 bilhões) e Agroamigo (R$ 5,7 bilhões).

Ações de BNB e BNDES são exemplos para AL e Caribe

O modelo de atuação do Banco do Nordeste e do BNDES no Brasil em casos como as energias renováveis - seja em segmentos consolidados como eólica onshore seja em desenvolvimento, a exemplo das offshores - é encarado como exemplo para instituições de desenvolvimento dos países vizinhos, ressaltou Edgardo Álvarez, secretário-geral da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide).

Somos uma associação de bancos e compartilhamos boas práticas. Essas iniciativas que estão tendo BNB e BNDES de apoiar energia eólica no mar nos parecem muito interessantes. Creio que podem ser experiências que poderiam ser copiadas em outros países", afirmou ao O POVO em maio, quando esteve no Ceará para a 54ª Reunião Anual da Alide.

Mais do que estar nestes novos setores, o diretor Aldemir Freire, diz que o BNB fortalece programas de redução da desigualdade na Região. A inadimplência quase zero desses clientes ajuda nos programas de microcrédito da instituição

"Recebemos essa crítica quando o banco entra para financiar grandes empresas, como as petroleiras. Mas se a gente colocar um pouco de recurso nesses projetos, cuja inadimplência é zero, permite que a gente financie outras áreas com inadimplência maior", reforçou.

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