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Na véspera do Copom, Lula endurece discurso em relação a Campos Neto
Economia

Na véspera do Copom, Lula endurece discurso em relação a Campos Neto

| Banco Central | O presidente da República afirmou que o chefe do BC atua com viés político e reiterou que o próximo não poderá se submeter "às pressões do mercado"
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CAMPOS Neto voltou a ser alvo de críticas de Lula na véspera da decisão sobre os juros (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil CAMPOS Neto voltou a ser alvo de críticas de Lula na véspera da decisão sobre os juros

Na véspera de decisão do Copom, que deve interromper o corte de juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou ontem sua artilharia contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Em entrevista à Rádio CBN, Lula disse que o chefe do BC não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

"Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o País do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", criticou ele.

Na sequência, Lula afirmou que o próximo presidente do BC será alguém que "não se submete à pressão do mercado" e que tenha compromisso com "o desenvolvimento do País e o controle da inflação".

Hoje, o BC trabalha apenas com uma meta para a inflação. O mandato de Campos Neto termina em dezembro. Dos nove diretores da instituição, Lula já indicou quatro.

Banco Central

As declarações de Lula esquentaram sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado que discute projeto que amplia a autonomia do Banco Central. Segundo operadores, também tiveram efeito no mercado de câmbio, que já trabalhou de olho na reunião do Copom. A moeda subiu mais 0,23% e foi a R$ 5,43.

"É uma 'minitombinização', porque estamos falando de um BC que vai trabalhar com inflação no teto", reagiu o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, se referindo à ideia do presidente de escolher alguém menos ortodoxo para o BC. Alexandre Tombini ocupou o cargo no governo Dilma Rousseff.

Ainda na entrevista, Lula voltou a criticar o jantar oferecido semana passada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a Campos Neto. "(Tarcísio) tem mais (poder de influência) do que eu. Não é que ele encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%", atacou Lula.

Sobre os rumores de que Campos Neto teria sinalizado que aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Tarcísio, Lula fez uma comparação com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que deixou a magistratura para ser ministro no governo Bolsonaro.

"A gente vai repetir um Moro? O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um paladino da Justiça, com rabo preso a compromissos políticos?"

Nas redes sociais, Moro disse que a comparação é uma "nuvem de fumaça" para a "incompetência" do governo Lula na área da economia.

Requerimento

Ontem, após a fala de Lula, o deputado Merlong Solano (PT-PI) apresentou um requerimento para ouvir o chefe da autoridade monetária na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. O comparecimento é facultativo.

O parlamentar petista quer que Campos Neto fale, em audiência pública, sobre o cumprimento dos objetivos e metas das políticas monetária, creditícia e cambial, "evidenciando o impacto e o custo fiscal de suas operações e os resultados demonstrados nos balanços".

Ele afirma, no documento, que a avaliação refere-se ao segundo semestre de 2023 e atende a determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). (Agência Estado) 

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Projeção

A maioria das instituições do mercado ouvidas na última pesquisa Projeções Broadcast - 43 de 50 - espera que o Copom mantenha a Selic em 10,5%. Outras 17 esperam um corte de 0,25 ponto porcentual, para 10,25% ao ano

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília
Edifício-Sede do Banco Central em Brasília

Especialista vê pouco espaço para mudança em status do BC

Apesar das novas críticas feitas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, e dos debates acalorados no Congresso sobre o tema, há pouco espaço para mudanças no atual status do Banco Central, quer seja no sentido de restringir a autonomia operacional estabelecida em 2021, quer seja no sentido de ampliá-la.

Essa é a avaliação do conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Ricardo Coimbra. “Isso, muito provavelmente, não está sendo discutido de forma efetiva, até porque as indicações dos membros do Banco Central ocorrem dentro das gestões. É um processo, algumas vezes, técnico mas também muito próximo ao governo de plantão e acaba que você tem uma certa influência sobre aqueles indicados”, avaliou.

“Como consequência você tem autonomia, mas com um certo processo de busca de negociação com o governo de plantão. O que deve ocorrer agora no processo do Banco Central é ter como próximo presidente alguém mais alinhado com o governo atual. Por outro lado, o processo de autonomia do Banco Central está meio blindado, referendado pelo mercado”, acrescentou.

Sobre as falas específicas de Lula contra Campos Neto, o economista avaliou que ficaram mais restritas à esfera política e que a provável manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano guarda relação maior com incertezas no cenário interno quanto às políticas de equilíbrio fiscal e também externo, com a pressão inflacionária nos Estados Unidos e a manutenção da taxa de juros norte-americana pelo Fed.

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Acordo sobre "taxação das blusinhas" será mantido

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sinalizou que pretende sancionar a taxação de 20% do imposto sobre as compras internacionais de até US$ 50. O chefe do Executivo, contudo, disse achar equivocada a taxação, mas afirmou estar sancionando a medida para garantir a "unidade" entre governo e Congresso Nacional.

Em entrevista concedida à Rádio CBN ontem, Lula disse achar que "essa é uma briga muito esquisita". "Por que taxar US$ 50? Por que taxar o pobre e não taxar o cara que vai ao free shop e gasta mil dólares?", questionou. "É uma questão de consideração com o povo mais humilde", citando que essa foi sua divergência em relação à proposta.

Lula apontou que, após seu veto, houve uma tentativa de fazer acordo com o Congresso. "Assumi o compromisso com Haddad de que aceitaria colocar PIS/Cofins para a gente cobrar, que daria 20%", disse. "Isso está garantido", destacou.

Apesar de sinalizar a sanção do projeto, Lula não deixou de mostrar que ainda tem divergências. "Estou fazendo isso pela unidade do Congresso e do governo, das pessoas que queriam. Mas eu, pessoalmente, acho equivocado a gente taxar as pessoas humildes que gastam US$ 50", comentou.

Lula rebateu as críticas em relação aos empresários sobre o tema e disse que, muitas vezes, eles não discutem com o governo, mas vão debater já com os congressistas.

O presidente da República ainda afirmou ter ficado irritado em como o tema foi parar em votação. "Essa emenda entrou no programa Mover, que não tinha nada a ver com isso. Foi um jabuti colocado no Congresso Nacional, aí tem que transformar esse jabuti em realidade", reclamou. "É preciso que se leve mais a sério queixa de alguns setores empresariais." (Agência Estado)

Dólar atinge R$ 5,43 e bolsa de valores sobe 0,41%

Após ensaiar uma baixa pela manhã, quando furou o piso de R$ 5,40, o dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e encerrou a sessão ontem em alta moderada, na casa de R$ 5,43.

Já o Ibovespa testou os 120 mil pontos e encerrou o dia sem retomar a marca em fechamento, em alta de 0,41%, aos 119.630,44 pontos. Ontem, foi de 118.872,22 a 120.108,98, saindo de abertura a 119 138,37 pontos, com giro a R$ 18,5 bilhões na sessão.

Há um clima de apreensão com a decisão amanhã do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Embora a maioria dos economistas aposte em manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano, há receio de dissenso na decisão do comitê, com diretores indicados pelo atual governo optando por novo corte da taxa básica.

Os sinais do Copom serão auscultados com especial interesse, tendo em vista a deterioração da percepção do mercado sobre a situação fiscal doméstica desde a reunião anterior - e com a retomada da carga do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que não estaria atuando com neutralidade ou "autonomia", na expressão usada por Lula.

À CBN, ele disse também que o perfil do próximo chefe do BC será o de alguém que não se curve a "pressões do mercado".

Na reunião do Copom em maio, os quatro diretores indicados por Lula votaram por corte da Selic em 0,50 ponto porcentual, enquanto a maioria (quatro diretores antigos e Roberto Campos Neto) preferiu um corte menor, de 0,25 ponto porcentual, para 10,50%.

A decisão dividida levou a uma corrosão da credibilidade do BC, com investidores passando a prever política monetária mais frouxa a partir e 2025, quando a maioria do comitê será formada por nomes apontados por Lula. (Agência Estado)

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