Após seis semanas consecutivas de altas na cotação do dólar, com máxima de R$ 5,67 na última terça-feira, 2, a moeda norte-americana recuou 2,25% na semana encerrada ontem, passando a valer R$ 5,46.
A queda expressiva registrada, principalmente, a partir da quarta-feira, 4, é avaliada por analistas do mercado como um reflexo de dois fenômenos simultâneos: a mudança no tom adotado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em relação ao Banco Central e ao compromisso do governo federal com o equilíbrio fiscal; além do cenário externo, com o dólar perdendo força frente a outras moedas.
"O real foi a melhor moeda entre emergentes na semana, principalmente quando se olham os pares latino-americanos. Isso vem da mudança de sinalização do governo em relação à questão fiscal", afirma o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa.
"Se o governo confirmar as medidas de cortes, a tendência é real apreciar e o dólar voltar para um patamar entre R$ 5,30 e R$ 5,40".Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se absteve de críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Ele também deu sinais de apoio à agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad com várias declarações a favor do compromisso fiscal. Na quarta-feira à noite, após reunião de Lula com Haddad e outros ministros, o governo informou que havia identificado R$ 26 bilhões em despesas obrigatórias que podem ser cortadas do Orçamento de 2025. A perspectiva é também de anúncio de bloqueio de recursos.
As mínimas do dólar vieram após o presidente Lula endossar a linha de ação do ministério da Fazenda. Um interlocutor do alto escalão da equipe econômica relatou que a determinação do presidente foi clara: respeitar os limites do arcabouço e buscar as medidas necessárias para o cumprimento da regra em 2024 e 2025. Revisões de gastos que tenham impacto de médio e longo prazo devem ficar para depois.
No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a moedas fortes, em especial o euro e o iene - operou em queda moderada, abaixo dos 105,000 pontos, e encerrou a semana com baixa de quase 1%. O dólar caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, em dia de baixa firme das taxas dos Treasuries.
Para o conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Ricardo Coimbra, “houve uma melhoria significativa no nível de empregos nos Estados Unidos e o mercado já está estimando que pode haver uma redução na taxa de juros lá”.
Segundo Coimbra, apesar do cenário externo favorável a continuidade do processo de queda na cotação do dólar “vai depender muito de qual vai ser o direcionamento do governo federal quanto ao que vai ser contingenciado, ainda em 2024, para que se possa alcançar o equilíbrio prometido”.
“Os próximos dias vão ser decisivos com relação a isso. Essa pequena oscilação de baixa do câmbio no fechamento da semana pode ser exatamente o mercado dizendo: vamos aguardar a próxima semana, como vão ser esses cortes e se essa promessa vai se efetivar”, concluiu o economista. (Com Agência Estado)
EVOLUÇÃO DO DÓLAR NO ANO
05/07 - R$ 5,46
02/07* - R$ 5,67
28/06 - R$ 5,59
21/06 - R$ 5,43
14/06 - R$ 5,37
07/06 - R$ 5,34
31/05 - R$ 5,24
24/05 - R$ 5,16
17/05 - R$ 5,10
10/05 - R$ 5,15
30/04 - R$ 5,19
29/03 - R$ 5,01
29/02- R$ 4,97
31/01 - R$ 4,95
12/01** - R$ 4,85
02/01 - R$ 4,92
*Máxima do ano (fechamento diário)
** Mínima do ano (fechamento diário)
Fonte: Investing.com
Bolsa
O Ibovespa acumulou ganho de 1,91%, na semana após avanços de 2,11% e de 1,40% nos dois intervalos que a precederam. No ano, contudo, o índice acumula queda de 5,90%