O Brasil precisa fazer significativas adaptações portuárias, além de aprovar um arcabouço regulatório, para que a instalação de indústrias eólicas offshore (construídas no mar) se torne uma realidade.
Essa é a avaliação do diretor executivo (ou CEO), Eduardo Ricotta, e do diretor de produtos (ou CPO) da Vestas para a América Latina, Rodrigo Ugarte.
Os executivos da gigante dinamarquesa do setor estiveram no Ceará na semana passada para anunciar um pacote de investimentos de R$ 130 milhões, além de parcerias com outras empresas e com entes públicos, visando fomentar o fortalecimento não apenas de uma cadeia produtora, mas também de um mercado consumidor de energia eólica no País.
Conforme Ugarte, a instalação de uma indústria eólica offshore “requer que os fabricantes de componentes estejam aqui localizados porque esses componentes não são transportados por nem um tipo de veículo, nem mesmo por navio. Então, para você ter offshore, você necessariamente tem que ter uma cadeia local, porque essas turbinas não se transportam”.
Ele acrescentou que outra dificuldade é o grande volume de capital necessário para que empresas construam parques eólicos offshore e se sustentem financeiramente durante esse processo.
“Quem tem fluxo de caixa para aguentar um período tão longo de espera para se ter essa estrutura? Tem que ser grandes titãs, empresas fortes que já tenham uma posição muito boa e fortalecida na tecnologia onshore (construída em terra) porque essa é a galinha dos ovos de ouro. Esse é o gerador de caixa para que você consiga operar bem no offshore”, ressaltou.
O CEO da Vestas para a América Latina, Eduardo Ricotta, lembrou também a importância de se aprovar um conjunto de regras para a operação da tecnologia no País. O marco regulatório do offshore foi aprovado pela Câmara no fim do ano passado, mas segue paralisado no Senado.
“A gente precisa de um arcabouço regulatório primeiro. Ele deve passar no Congresso até o ano que vem (2025). Então, depois que tiver todo o arcabouço regulatório aprovado, vai levar por volta de 5 anos para implementar os projetos”, explicou.
Sobre a questão da adaptação portuária, Ricotta citou alguns elementos mínimos necessários para que o País possa receber esses projetos.
“Os equipamentos são muito pesados e os pisos dos portos precisam estar preparados para suportar quatro vezes mais peso que suportam atualmente. Você precisa ter calado de 20 metros. Poucos portos no Brasil tem calados de 20 metros. Você tem que ter por volta de 500 metros de porto, porque no offshore, praticamente se faz a fábrica no porto”, exemplificou o executivo.
“Então, você tem que ter portos com áreas muito maiores. Entram e saem navios de dentro do porto o tempo todo porque está chegando material e saindo o tempo todo. O que eu quero dizer é que tem uma questão de infraestrutura que ainda vai levar um tempo para se adaptar. Até fazendo um paralelo com o que aconteceu com o setor de óleo e gás. O Brasil não foi muito eficiente em construir uma indústria de estaleiros. Então, esse é o tamanho do desafio que a gente tem”, concluiu.
Áreas
Pelo projeto do marco legal das eólicas offshore aprovada na Câmara, caberá ao Poder Executivo definir quais áreas serão passíveis de instalação de usinas eólicas. Será necessária autorização ou concessão
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