Passado de geração para geração, o artesanato faz parte da vida de Natália Costa desde os 12 anos.
"O descanso de panela sempre foi o meu preferido, fazia vários e com o passar dos anos, já conseguia fazer dez por dia”.
Foi em novembro de 2018 que a artesã viu a oportunidade de empreender e fundar, junto a sua afinidade com o mundo da internet, a Nat Art, fundada no sítio Cabreiro, no interior de Aracati, a 147,13 quilômetros (km) de Fortaleza.
Hoje, aos 29 anos, Natália contabiliza 80,6 mil seguidores em suas redes sociais, nas quais compartilha diariamente suas vivências como empreendedora com deficiência.
Além de mostrar os trabalhos comercializados, a influenciadora divide sua rotina, por meio de publicações, suas experiências com a escoliose, deficiência que diagnosticada ainda na infância.
O POVO - Como você começou a empreender?
Natália Costa - Eu comecei a fazer o descanso de panela, que é um produto produzido aqui, daí com o passar do tempo, eu comecei a vender eles e eu percebi que poderia ser uma boa renda se eu começasse pela internet.
Aqui já tinham algumas pessoas que trabalhavam fazendo o envio dos produtos e eu sempre desenrolei na internet. Com incentivo da minha tia, que é artesã, e da minha avó, além da ajuda da minha prima na produção, eu criei a página da loja no Instagram, no dia 18 de novembro de 2018.
E o meu intuito, desde o princípio, foi trabalhar com atacado para empresas lojistas e até agora eu continuo com esse propósito.
No início, eu ainda era muito leiga na questão logística, de envio pelos Correios e daí eu fui pesquisando e fui aprendendo. Só que não foi fácil porque durante esse percurso tiveram bastante momentos que eu quis desistir, alguns erros, então eu aprendi bastante.
Em 2018, quando eu iniciei, estava apenas vendendo bolsas de palha, não tinha parte de decoração de interiores. Daí, eu fui pegando mais jeito, comecei a vender mais esses produtos e hoje é o carro-chefe aqui na loja.
Com isso, eu mantive com o incentivo da minha tia e tudo mais e até agora eu continuo vendendo, já enviei para todos os estados do Brasil e sempre o foco maior com a parte de atacado mesmo.
Um dos problemas é somente a parte de ser mulher e ainda mais com deficiência chama atenção e às vezes causa insegurança nos clientes aí eu consigo desenrolar essa parte também.
O POVO - Você mencionou sua deficiência, qual foi o diagnóstico dela?
Natália Costa - Eu tenho escoliose congênita, ela é severa. Só foi possível observar mesmo a partir dos dois, três anos de idade, que foi quando percebeu mesmo, e daí surgiu a possibilidade para fazer cirurgia, mas era um risco de vida muito grande, meu pai não aceitou e até hoje eu não usei colete, não fiz fisioterapia, eu não sinto dor nem incômodo, é tudo bem tranquilo.
O POVO - Como você enxerga a importância da representatividade de pessoas com deficiência no mundo do empreendedorismo?
Natália Costa - Eu decidi levar essa parte que eu não posso mudar, essa parte do corpo de ser uma pessoa com deficiência física, e levar para o lado bom, então usar isso a meu favor.
Por exemplo, eu tenho um portfólio onde tem uma apresentação que eu menciono os lugares que eu já fui levando o artesanato, como feiras, também menciono as entrevistas que já dei, então eu vejo como um meio de incentivar outras pessoas que têm deficiência e não é algo tão normal de ver pessoas com deficiência ocupando lugares assim, então essa parte é muito importante para mim.
Eu recebo várias mensagens das clientes, como eu falei tem a apresentação, e às vezes elas acabam comprando justamente por isso, por ter todo aquele processo por trás, então eu recebo bastante mensagem das meninas que tem escoliose, que é a deficiência que eu tenho, e é bem gratificante ficar sabendo que você inspira outras pessoas sim.
O POVO - E como surgiu o interesse pelo artesanato?
Natália Costa - Esse gosto foi passado de geração a geração, a gente já cresceu nesse meio, toda a família produz o artesanato e quando eu iniciei não passava pela minha cabeça a parte de ser empreendedora e de levar artesanato tão longe como eu estou levando, mas eu sempre gostei de produzir e cada vez mais aumenta a diversidade dos produtos, tem muitos produtos diferentes, a gente vai criando e vai pesquisando, criando uma inspiração.
O POVO - Qual a média de produção da sua loja?
Natália Costa - São mais de mil peças, depende muito dos pedidos que eu fecho com os clientes.
Eu também trabalho com essa parte de marketing e de tráfego pago, então eu alcanço muita gente, às vezes diariamente eu consigo vendas, às vezes semanalmente também e daí dependendo da quantidade de produtos que os clientes querem às vezes a demanda é bem grande e a gente dá um prazo bem bem maior porque acho que eu tenho umas 30 ou mais mulheres trabalhando comigo e tudo é feito à mão, então leva um tempinho.
O POVO - Quais as projeções para a sua loja?
Natália Costa - Eu tento focar muito nessa parte de marketing, que é onde cresce bastante o artesanato, eu sou muito conectada com a internet, então eu tenho a visão de aumentar cada vez mais a equipe e de ficar mais nesse ramo virtual, ampliar mais até a divulgação.
Eu faço parte de tudo, de embalar, de procurar cliente, de ir até o artesão e falar o que ele deve fazer, então precisa de bastante tempo e eu sou ligada no 220 (volts).
Eu também quero muito fazer uma loja física, porque como aqui é bem litoral, tem praias bem conhecidas, consequentemente eu tenho a visão de aumentar cada vez mais a equipe e de ficar mais nesse ramo virtual, ampliar mais até a divulgação.
Eu também quero muito fazer uma loja física, porque como aqui é bem litoral, tem praias bem conhecidas, consequentemente aumenta as vendas.
Eu quero para o futuro aumentar cada vez a equipe, inovar cada vez mais os produtos, deixar o artesanato com mais visibilidade e quem sabe vender para o exterior.
O POVO - Nestes seis anos de empreendedorismo, alguma história te marcou?
Natália Costa - Aqui no inverno é sempre um período ruim porque nós não conseguimos secar o material para secar a palha por conta das chuvas e a gente precisa retirar a palha, secar, passar uma semana, deixar a palha no sol e isso diminui bastante as vendas.
As artesãs ficam quase sem material, outras não conseguem porque nós precisamos ter uma estufa, que é onde guarda o material, e não é possível porque é necessário fazer uma limpeza por conta da umidade.
E uma vez eu fui na casa de uma artesã pegar o que eu encomendei para ela, ela olhou para mim e agradeceu.
E essa artesã falou: 'Natália, eu agradeço muito a Deus e a você por estar comprando os produtos, porque se não fosse você nesse inverno as coisas aqui não estariam fáceis'. Então ver esse agradecimento demonstra que é toda uma corrente de mulheres.
São pessoas que realmente precisam e isso é a fonte de renda delas, é muito gratificante receber esse tipo de agradecimento.