Uma das primeiras empresas a assinar memorando de entendimento para a instalação de uma usina de hidrogênio verde (H2V) no Pecém, ainda em 2021, a francesa Qair apresentou o estudo de impacto ambiental (EIA) do chamado H2'Fraternité à Superintendência Estadual de Meio Ambiente do Ceará (Semace) e revelou que o tamanho da planta industrial corresponde a 47,68 hectares ou 66 campos de futebol.
Ao todo, a infraestrutura capaz de gerar 42,783 mil toneladas de hidrogênio verde por ano será montada em um terreno localizado na área IV da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, com início da operação em 2026 e mais duas fases de ativação em 2028 e 2030.
Diferente das demais empresas com memorando assinado, a Qair não selou um pré-contrato com o governo cearense. A empresa já possui um terreno naquela área e afirmou, em ocasiões anteriores, que o investimento estimado em US$ 3,95 bilhões seria feito mesmo sem o rito que confirma o interesse da empresa em seguir com o projeto no Estado.
Outra peculiaridade exposta no documento apresentado ao órgão estadual é que os 42,783 milhões de toneladas de H2V tem o mercado nacional como único consumidor, "especificamente indústrias próximas."
No EIA, a Qair explica que "a planta de produção e armazenamento será instalada em uma área de 34,59 hectares, sob Matrícula N°. 3.962. Além desta, serão utilizados 12,39 hectares para a faixa de servidão da Linha de Transmissão externa e 0,70 ha para a faixa de servidão do acesso externo. A área efetiva de intervenção será de 25,92 hectares."
O projeto H2’Fraternité mira “uma bateria de poços” para abastecer a eletrólise. A demanda estimada no EIA é de 780.532 metros cúbicos por ano para uma geração de 5.033 toneladas de hidrogênio por hora.
No processo químico de produção do hidrogênio, energia é injetada na água bruta para a separação das moléculas de H2O em H2 (hidrogênio) e oxigênio.
A água bruta, a ser demandada à Secretaria de Recursos Hídricos, tem o terreno da usina como área a ser explorada. No entanto, em caso de negativa, uma área extra deve ser somada aos 47,68 hectares estimados.
"Contudo, caso esta não venha a atender a demanda, considera-se a possibilidade do abastecimento complementar por meio de dutos a partir da usina de água de reuso a ser instalada na região. Assim, caso venha a ser utilizada esta alternativa, será acrescida ao projeto a faixa dos referidos dutos. Ressalta-se que esta dutovia será objeto de licenciamento em separado", expõe o EIA.
Mais uma área a ter o licenciamento em separado é aquela na qual serão instalados os dutos para fornecimento de H2V aos consumidores finais, ou seja, as indústrias do Complexo do Pecém.
A Qair já admite que isso deve gerar um "acréscimo à área do projeto" e é uma alternativa que "está sendo estudada pela empreendedora."
Terminadas as fases até à construção, a Qair projeta uma atividade totalmente movida a energia renovável. Fontes eólicas e fotovoltaicas devem injetar energia tanto na eletrólise (processo de produção do hidrogênio verde) quanto purificação da água usada no processo e ainda no armazenamento e expedição do H2V.
Com a definição dos fornecedores dessa energia ainda em curso, a empresa assegura no documento que as fontes terão “garantia de atendimento aos requisitos regulatórios para conceder a certificação de hidrogênio verde ou hidrogênio de baixo carbono ao produto final.”
Inicialmente, “o consumo de energia de início de vida pela eletrólise será de 2.934.428 MWh/ano”, detalha a empresa.
A área na qual o H2’Fraternité será instalado também foi pensada estrategicamente, sendo “a 2,5 quilômetros da subestação elétrica Pecém II, onde o projeto será conectado à rede. Ressalta-se que dentro da área reservada tem-se um trecho da Faixa de Servidão da LT 500kV Acaraú III - Pecém II.”
ABIHV: avanço dos projetos traz confiança aos demais agentes da cadeia produtiva
A recente aprovação do marco regulatório do hidrogênio verde (H2V) pelo governo federal estimula não só indústrias, como a Qair, a seguir com os projetos de geração como também toda a cadeia produtiva do setor, "colocando o Ceará na vanguarda dessa nova economia sustentável", como avalia a Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV).
"Com a segurança jurídica estabelecida, os investidores têm mais confiança da possibilidade de desenvolvimento de um mercado consumidor garantido para o hidrogênio verde, incentivando o desenvolvimento de parques de energia renovável para abastecer essa nova indústria", disse Fernanda Delgado, diretora-executiva da ABIHV.
Ela enxerga um momento de mercado no qual as empresas devem confirmar os investimentos anunciados nos últimos anos, o que se faz realidade a partir da assinatura de novos pré-contratos ou mesmo início do licenciamento ambiental, como no caso do H2'Fraternité.
Fernanda considerou que "esse volume significativo de investimentos destaca a importância de garantir que esses memorandos avancem para fases mais concretas, como contratos definitivos e o início de operações."
"No entanto, não descartamos a possibilidade de novos memorandos serem assinados à medida que o setor amadureça e que novas oportunidades surjam", acrescenta.
Perguntada se a confiança dos investidores resultou também em mais associados à associação, ela afirma que "muitas empresas têm buscado a ABIHV", inclusive, com players com atuação no Rio Grande do Norte e no Piauí - onde também há projetos de hidrogênio em curso.
A diretora-executiva ressalta ainda que os associados formam um "grupo coeso e robusto", que "tem como objetivo reindustrializar o Brasil e criar novas oportunidades de emprego, geração de renda e tributos."
"As expectativas são extremamente positivas. A aprovação do marco regulatório do hidrogênio verde é um marco histórico fundamental para a consolidação dessa indústria no Brasil e o Ceará vem se destacando como um polo estratégico para o desenvolvimento do hidrogênio verde. Agora, com a base legal estabelecida, o próximo passo crucial será o desenvolvimento de uma regulamentação específica que ofereça segurança jurídica e operacional para os projetos em curso e futuros", destaca.
Licença
Todos os projetos de geração de hidrogênio verde possuem área reservada e licença prévia emitida, segundo aponta a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará. Fortescue, Casa dos Ventos, AES Brasil, Cactus Energia, FRV e Voltalia foram as empresas com pré-contrato assinado com
o governo
Energia
Inicialmente, o projeto prevê que o consumo de energia de início de vida pela eletrólise será de 2.934.428 MWh/ano
Status de instalação na ZPE do Ceará
Fortescue
aluguel da área;
licença prévia própria aprovada;
terraplanagem tem início até o fim do ano.
Casa dos Ventos
aluguel da área;
licença prévia própria aprovada.
AES Brasil
aluguel da área;
licença prévia própria apresentada;
licença prévia do hub aprovada.
Cactus Energia
aluguel da área;
licença prévia do hub aprovada.
FRV
aluguel da área;
licença prévia do hub aprovada.
Voltalia
aluguel da área;
licença prévia do hub aprovada.