O mercado de transporte de cargas está se preparando rapidamente para inclusão de veículos elétricos e também aos movidos a hidrogênio, que devem começar a se tornar uma realidade no Brasil, a partir do próximo ano.
Essa é a projeção feita por Thiago Ferreira, gerente executivo da Fenatran, ou Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas. O encontro, considerado o maior da América Latina do setor, será realizado em São Paulo, entre os dias 4 e 8 de novembro e reunirá transportadores, montadoras e instituições relacionadas a essa cadeia produtiva, direta ou indiretamente.
Segundo disse o executivo, em visita ao Grupo de Comunicação O POVO, a própria feira trará lançamentos de caminhões elétricos ou movidos a hidrogênio. Vale lembrar que o Ceará e outros estados brasileiros vêm apostando forte na construção de um mercado para o chamado hidrogênio verde (H2V), incluindo a utilização do produto como combustível, como foco inicial na exportação.
“Há um tempo de maturação para isso, mas, na minha opinião, no próximo ano já será possível ver esses veículos movidos a hidrogênio circulando. Quando você pensa nessa questão, é como se fosse a que ocorre com os veículos leves elétricos. Quando começou essa onda, a autonomia deles era muito baixa e hoje, você já tem veículos elétricos, incluindo caminhões, rodando por um período de tempo e de espaço muito maior. Essa tecnologia, obviamente, vai evoluir ao longo do tempo com a utilização desses caminhões”, pontuou Ferreira.
Ele ressaltou, ainda, que o transporte rodoviário de cargas vai além do uso de caminhões e se configura como o modal mais utilizado no Brasil. “Cerca de 70% do que é produzido é transportado por rodovias. Quando eu falo de transporte rodoviário de cargas, aliás, não se trata apenas de caminhão que, muitas vezes, não entra no centro urbanos. Nesses casos, você precisa de uma van para que aquele produto chegue até o destino final”, exemplificou, listando também as empilhadeiras como parte desse mercado.
O gerente executivo da Fenatran ressalta que a indústria dos veículos pesados acaba influenciando também o restante da cadeia produtiva de veículos. “Algo que poucas pessoas sabem é que toda tecnologia que a gente vê no carro de passeio primeiro foi testada em um caminhão. Então, o caminhão tem um grande peso tecnológico para tudo que você imagina e o Brasil é um grande mercado para todas essas montadoras”, exaltou.
Ferreira prossegue explicando que a grande variação de condições do País favorecem esse tipo de desenvolvimento. “No Brasil, em um mesmo dia você pode sair de zero a 40°C, o que é difícil encontrar nos países europeus. Então, hoje o mercado brasileiro para todas as montadoras é super importante”, afirma, acrescentando que as questões da infraestrutura das estradas e da segurança também servem de laboratório para a indústria.
Voltando a falar sobre transição energética, Thiago Ferreira lembra que o Brasil implementou com relativo sucesso o chamado Euro 6, um conjunto de normas que estabelece limites para a emissão de poluentes em veículos movidos a diesel, um combustível fóssil. O protocolo, que envolve toda uma geração de novos motores a combustão, foi implementado na Europa em 2014, mas só passou a vigorar no País em 2023.
“Esse custo da transição do Euro 5 para o Euro 6, aconteceu no ano passado. Para 2024, nós já não temos porque o Euro 6 acaba sendo a tecnologia atual. Então, todos os motores hoje produzidos e os caminhões já vem com essa tecnologia”, observa o executivo. Sobre o custo dos veículos elétricos, o gerente da Fenatran afirma que esse não tem sido o maior impeditivo para a consolidação desse mercado no Brasil.
“Hoje, a grande resistência é a questão da tecnologia de abastecimento. Quando você pega uma distância muito longa você tem de ter esse tipo de avaliação se o seu caminhão elétrico vai conseguir chegar do ponto A ao ponto B”, conclui Ferreira. (Colaborou Samuel Pimentel)