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Crise hídrica, gás restrito e acionamento de térmicas preocupam analistas
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Crise hídrica, gás restrito e acionamento de térmicas preocupam analistas

| PERSPECTIVA | Cenário ocorre meses após hibernação de terminal de regaseificação. Governo abrirá licitação para escolher nova empresa
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PÍER 2 abrigava navio regaseificador da Petrobras até o fim de 2023 (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA PÍER 2 abrigava navio regaseificador da Petrobras até o fim de 2023

Com o quadro de seca severa que atinge o País e compromete o nível dos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem aumentado a frequência do acionamento das termelétricas, inclusive no Ceará. Contudo, há pouco menos de um ano foi desativado Terminal de Regaseificação do Pecém, que, entre outras finalidades, permitia o uso de gás natural por esse tipo de usina.

Assim, as usinas termelétricas cearenses acionadas para garantir a segurança energética nacional estão utilizando majoritariamente o diesel e em menor grau o carvão, insumos mais poluentes e mais caros que o gás natural. O cenário preocupa especialistas ouvidos por O POVO, que citam a necessidade de o Estado aumentar a oferta do combustível, considerado estratégico também para a transição energética.

Para o engenheiro de Petróleo e Gás, Ricardo Pinheiro, ”o Ceará talvez seja o estado mais impactado pela falta de gás natural no Brasil, considerando que a gente já teve um terminal de regaseificação aqui e passamos a não ter mais”.

Ele citou que mesmo com o abastecimento feito por um gasoduto que liga o Sudeste ao Nordeste a oferta atual do insumo representa cerca de um terço do pico de abastecimento diário do combustível em seu ápice, quando chegava a 1,5 milhão de m³.

Pinheiro, que é também diretor da RPR Engenharia, disse ainda que seria importante a reativação do terminal, mas explicou que esse não é um processo simples de ser feito. “Acredito que necessariamente ele será reativado em algum momento porque é um projeto moderno e não faz sentido ter a mão um equipamento como esse e pagar para queimar diesel, que é caríssimo. Agora, levaria entre seis meses e um ano para que ele pudesse retornar às atividades”, explicou.

Nesse sentido, o presidente da Energo Engenharia e Consultoria, Adão Linhares, lembra que a infraestrutura por trás do terminal de regaseificação também é a mesma que serviria a cadeia produtiva do hidrogênio por meio da amônia.

“Mas essas coisas não estão sincronizadas cronologicamente e agora estamos precisando de gás, antes de ter um contrato de um terminal gaseificador e se está perdendo uma oportunidade no Pecém, no Ceará e no Nordeste como um todo por falta de sincronismo e planejamento”, criticou.

Além dos analistas ouvidos por O POVO, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo (Sindipetro) também manifestou preocupação com o atual cenário de ativação das térmicas com baixa disponibilidade de gás natural.

“O estado do Ceará deixa de contribuir na geração termoelétrica por não dispor de fornecimento robusto de gás natural. Além de não contribuir nacionalmente, ainda perdemos os empregos, atração de investimentos e impostos associados à geração de energia”, pontuou a entidade em nota.

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CAUCAIA, CEARÁ, BRASIL,08.03.2024: Usina de biometano GNR. Inauguração do novo sistema que faz mistura controlada de biometano com gás natural na rede da Cegás, no Ceará
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Cegás e Governo do Estado dizem buscar ampliação de oferta

Questionada sobre soluções para ampliar a oferta de gás, a Companhia de Gás do Ceará (Cegás) disse, em comunicado conjunto com o governo do Estado que "o Complexo do Pecém deve abrir um processo de chamamento público para atração de interessados em desenvolver e operar um terminal de regás no Pecém".

"O processo complementa esforços para viabilizar o uso do gás natural, substituindo derivados de petróleo e carvão em empreendimentos térmicos e não térmicos, buscando fomentar a transição energética. O chamamento deve ocorrer tão logo seja publicada a primeira portaria do MME (Ministério de Minas e Energia) para o leilão de reserva de capacidade 2024", prossegue a nota.

"Os detalhes serão divulgados quando o processo for lançado, mas a CIPP adianta que algumas empresas já anteciparam seu interesse em operar o terminal de Regas. Conforme a Companhia de Gás do Ceará (Cegás), o edital deve ser publicado pelo MME nos próximos dias e pelo menos duas empresas se habilitarão para o lance", complementam a Cegás e o Governo do Estado.

Já o Ministério de Minas e Energia (MME) disse "que trabalha para realizar o Leilão de Reserva de Capacidade de Potência (LRCAP) ainda este ano. Os novos estudos estão sendo atualizados e as informações do Leilão só serão divulgadas posteriormente, na publicação do edital".

 

Por fim, a Petrobras respondeu também por meio de nota que o Planejamento Estratégico de 2024 a 2028 "prevê atuação da Companhia com dois terminais de regaseificação, localizados nos estados da Bahia (TRBA) e do Rio de Janeiro (TRBGUA)".

A estatal também fez menção a dois projetos relacionados à matriz energética, optando pelo descomissionamento das plataformas marítimas localizadas no Ceará e pela realização de estudos de viabilidade da planta de biodiesel de Quixadá.

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TERMELÉTRICAS E GÁS NATURAL NO CEARÁ

HIBERNAÇÃO DA UTE FORTALEZA (Eneva): Adquirida pela Eneva por R$ 489,8 milhões, a TermoFortaleza (UTE Fortaleza) possuía contrato de comercialização de energia com a distribuidora Enel Ceará.

A vigência do contrato iria 2033, mas a empresa solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a antecipação do fim da outorga para 2023.

Dentre as justificativas está a indisponibilidade de novos contratos de fornecimento de gás natural.

FORNECIMENTO DE GÁS PELA PETROBRAS: Após 20 anos de vigência, o contrato de fornecimento de gás natural para a UTE Fortaleza pela Petrobras foi encerrado em 2023.

Desde o fim de 2022 já havia a perspectiva de que esse contrato não seria renovado pela decisão da gestão do Complexo do Pecém de reaver a estrutura do Terminal de GNL do Pecém, que era cedido para uso exclusivo do navio regaseificador da Petrobras.

A intenção é que a área passe por obras e seja usada na operação de hidrogênio e amônia verdes num prazo de 5 anos.

TERMOCEARÁ (Petrobras): Com capacidade de 220 MW, a usina foi adquirida pela Petrobras em 2005, por US$ 137 milhões. Em 2008, passou a operar com óleo diesel
e gás natural.

O projeto previa uso de gás natural das instalações da Petrobras no Rio Grande do Norte, que chegaria via tubulação da Cegás, mas a operação do terminal de regaseificação no Pecém facilitou o processo.

No entanto, em 2021, após problemas no fornecimento de gás natural via Pecém, a Aneel autorizou a TermoCeará a operar com óleo diesel até o fim de seu contrato, marcado para dezembro de 2024.

TERMELÉTRICAS A CARVÃO (Eneva e EDP): Os dois contratos de fornecimento de energia dessas plantas vencem em 2027. A usina Eneva Pecém II possui 365 MW de capacidade instalada. Já a usina EDP Pecém possui capacidade instalada de 720 MW.

Em setembro passado, a EDP vendeu 80% dos ativos para a Mercurio Asset.

PORTOCÉM (Ceiba Energy e Denra Shell): Em agosto de 2021, o consórcio Portocem, formado pela Ceiba Energy e o fundo de investimentos Denra, venceu o leilão para instalação de termelétrica a gás natural no Ceará.

O projeto teria fornecimento da Shell e investimento da ordem de R$ 4,2 bilhões, o segundo maior da história do Pecém. A capacidade de geração da usina seria de 1.572 MW, quase a soma de todas as térmicas do Cipp.

CEIBA ENERGY: Apresentou em agosto projeto Jandaia Geração de Energia, termoelétrica a gás natural, com licença prévia de 2.430 MW e terminal de GNL. O investimento previsto é de R$ 7,6 bilhões.

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