Muito além da vitória do empresário Donald Trump, o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos (EUA) terá um impacto direto na economia brasileira, conforme explicam os especialistas ouvidos pelo O POVO.
Ontem, 6, o dólar comercial chegou a bater R$ 5,86. Porém, ao longo do dia, reverteu a tendência para uma forte queda e fechou em R$ 5,68.
Além disso, no fechamento do mercado brasileiro, o Índice Bovespa (Ibovespa), principal índice acionário brasileiro, finalizou em alta/baixa, a 130.340 pontos.
Já a criptomoeda Bitcoin bateu recorde e superou pela primeira vez a marca de US$ 75 mil (cerca de R$ 433,8 mil na cotação atual), também impulsionado pelo retorno do republicano à Casa Branca, que prometeu converter os Estados Unidos na "capital das criptomoedas".
De acordo com o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, é de se esperar um modelo semelhante ao que foi praticado no primeiro governo, com o slogan "American First", ou seja, de colocar os EUA em primeiro lugar e focar no protecionismo.
Além disso, medidas já anunciadas por Trump, como reduzir impostos para os mais ricos, podem gerar impactos fiscais, o que cresceria tanto a dívida pública americana quanto os juros americanos. Neste caso, o dólar seria valorizado em relação a outras moedas do mundo e dificultaria as relações comerciais.
"No caso do Brasil, a decisão pode complicar o controle inflacionário, com a manutenção da taxa de juros em um patamar elevado e, possivelmente, uma desvalorização do real em relação ao dólar", na visão de Ricardo.
Neste contexto, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, desejou votos ao Trump "de que seja um período de promoção da paz, do desenvolvimento econômico e social e de ainda maior ampliação da parceria entre Brasil e EUA."
Todavia, a parceria entre os países tem sido alvo de preocupações. No caso do Ceará, especificamente, os EUA se apresentam como um relevante parceiro, em especial na recepção de boa parte das exportações. A análise da presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota, confirma isso.
"Os Estados Unidos segue sendo o principal parceiro comercial do Ceará. Produtos siderúrgicos, calçados, peixes, frutas e a nossa tradicional cera de carnaúba são alguns dos produtos cearenses que conquistaram o mercado norte americano", detalhou a especialista.
Karina relembrou que, no início de 2024, os EUA, inclusive, reforçaram um compromisso em apoiar objetivos do Brasil durante sua presidência no Grupo dos 20 (G20), em um ano que marca o bicentenário das relações entre os países.
Resta saber, agora, como Trump irá prosseguir em seu novo mandato frente às políticas externas. Um tema que levanta dúvidas também para o consultor Maia Júnior, que já foi ex-secretário do Desenvolvimento Econômico e ex-vice-governador do Ceará.
Maia se mostrou preocupado com o pronunciamento do republicano em relação à descarbonização, já que o presidente eleito adota um viés voltado ao petróleo.
"Enquanto a maioria dos estudiosos no mundo e os países signatários do Acordo de Paris entenderam que era necessário ajustar a questão do ecossistema do planeta. Essa posição dele enfraquece bastante os projetos de transição energética, como o hidrogênio verde e as energias renováveis", citou.
Outro ponto levantado pelo consultor foi sobre o aço cearense, alvo de exportações aos EUA. Maia vê com receio uma possível taxação dos americanos neste cenário, o que enfraqueceria o cenário local para fortalecer as empresas dos Estados Unidos.
O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e de Relações Internacionais do Ceará, Cesar Ribeiro, também acrescentou que pode haver uma competição global que prejudicaria países emergentes, como o Brasil, reduzindo a demanda e os preços das commodities.
Além disso, a relação entre China e EUA pode forçar o Brasil a reavaliar suas alianças estratégicas. Na visão de Cesar, o Brasil precisará ter "jogo de cintura" e navegar sem conflitos relacionados às duas potências em questão. (Com Ana Luiza Serrão)
Transição energética pode ser uma questão
Como Trump irá prosseguir em seu novo mandato frente às políticas externas traz dúvidas para o consultor Maia Júnior, que já foi ex-secretário do Desenvolvimento Econômico e ex-vice-governador do Ceará.
Maia se mostrou preocupado com o pronunciamento do republicano em relação à descarbonização, já que o presidente eleito adota um viés voltado ao petróleo.
"Enquanto a maioria dos estudiosos no mundo e os países signatários do Acordo de Paris entenderam que era necessário ajustar a questão do ecossistema do planeta. Essa posição dele enfraquece bastante os projetos de transição energética, como o hidrogênio verde e as energias renováveis", citou.
Outro ponto levantado pelo consultor foi sobre o aço cearense, alvo de exportações aos EUA. Maia vê com receio uma possível taxação dos americanos neste cenário, o que enfraqueceria o cenário local para fortalecer as empresas dos Estados Unidos.
O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e de Relações Internacionais do Ceará, Cesar Ribeiro, também acrescentou que pode haver uma competição global que prejudicaria países emergentes, como o Brasil, reduzindo a demanda e os preços das commodities.
Além disso, a relação entre China e EUA pode forçar o Brasil a reavaliar suas alianças estratégicas. Na visão de Cesar, o Brasil precisará ter "jogo de cintura" e navegar sem conflitos relacionados às duas potências em questão.(Ana Luiza Serrão)
Vitória eleva percepção de pacote robusto no Brasil
Os juros futuros chegaram ao fim da sessão em alta até os vencimentos intermediários, enquanto os longos estavam de lado, num dia de volatilidade ditada pela reação dos mercados à vitória de Donald Trump na eleição americana, às expectativas pelo pacote fiscal e pela decisão do Copom que saiu ontem no fim do dia.
Com o resultado do pleito nos EUA sem dar margem para contestação, cresceu a aposta num pacote fiscal robusto que possa limitar os efeitos da eleição americana sobre o câmbio e, consequentemente, sobre a inflação.
Embora Trump tenha amenizado ontem o discurso agressivo da campanha, há dúvidas sobre o que será de fato colocado em prática da sua pauta protecionista, que deve atingir principalmente México e China, esta a principal parceira comercial do Brasil. "Ele teve uma fala mais moderada, sugerindo que não vai esticar a corda. Mas não há como saber", avaliou o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.
Assim, pela manhã o mercado de juros digeria mal a eleição nos EUA, com taxas todas com avanço firme, mas houve melhora no fim do período, com os agentes amadurecendo a ideia de que o governo não terá outra alternativa a não ser caprichar nas medidas para proteger a economia brasileira do efeito Trump.
"A vitória de Trump colocará muita pressão sobre o Planalto para fazer cortes de gastos o mais rápido possível. A conta é simples: se Lula não estancar a piora da visão das contas públicas o dólar em alta irá destruir em 2024 as chances dele (ou o PT) ganhar em 2026", avalia o economista André Perfeito.
Para o sócio da Oriz Partners, Carlos Kawall, é mais provável que o governo adote medidas "que lhe permitam a travessia 2025/2026" do que ações de caráter mais estrutural. "A ideia de ouvir todos os ministros me parece que reduz as chances de medidas mais estruturais, mas alguma coisa certamente vem."
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as reuniões sobre a agenda de corte de gastos foram bem sucedidas e que todos os ministros estão conscientes da necessidade de reforçar o arcabouço fiscal.(Agência Estado)