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Ceará Superior: Universidades movimentam a economia nas cidades em que se instalam
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Ceará Superior: Universidades movimentam a economia nas cidades em que se instalam

| NOVO DINAMISMO | Como a expansão de cursos gera efeitos positivos em diversas cadeias econômicas para além da educação. No Ceará, 127 dos 184 municípios possuem oferta de Ensino Superior. Mercado imobiliário observa movimento e municípios esperam avanços em diferentes cadeias produtivas, a partir de projetos em parceria entre academia e empresas
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Prédio da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Prédio da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Praticamente 70% dos municípios cearense sedia uma Instituição de Ensino Superior (IES). Segundo dados do Mapa Geral da Educação Superior no Ceará, 127 dos 184 municípios cearenses são beneficiados. O impacto positivo de novos cursos de Ensino Superior vai além da seara educacional, mas é amplo na medida em que abrem um leque de possibilidades econômicas.

No caso do Instituto Federal do Ceará (IFCE), por exemplo, a instituição desenvolve diversas parcerias com empresas privadas e governos para desenvolvimento de profissionais para áreas específicas em que há grande demanda de mercado, ou, principalmente, em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).

O reitor do IFCE, Wally Menezes, destaca que a instituição tem parcerias firmadas com quase 140 empresas de diversos setores da iniciativa privada, destaque para gigantes do setor de tecnologia, como Apple e Huawei.

O Polo de Inovação do IFCE conta com mais de 170 projetos desenvolvidos em parceria com empresas, mais de R$ 200 milhões em projetos, cerca de 320 propriedades intelectuais registradas ou solicitadas e mais de 2,5 mil alunos participando de projetos desenvolvidos junto a empresas.

Isso fez com que o IFCE se tornasse a instituição pública que mais registra programas de computador no Brasil, segundo o Ranking INPI 2021.

"Um objetivo estratégico específico visa ampliar parcerias com o governo, sociedade civil e os diversos setores econômicos, mas sempre colocando nossos estudantes e servidores como protagonistas da construção de ações que realmente possam permitir a inclusão e a transformação de vidas de nosso público", afirma o reitor.

Esse movimento positivo não ocorre somente nos campi universitários na Capital, mas avançam pelo Interior. Sandra Monteiro, titular da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), destaca que o Governo do Estado tem promovido a Política de Expansão e Interiorização da Educação Superior Pública Estadual.

O Governo do Ceará entende que esse processo de ampliação, apresentado como "o maior da história do Estado", além de ampliar o acesso e permanência dos alunos na educação superior de qualidade, democratiza o acesso nas diversas regiões, gerando impactos positivos em diversas áreas.

Sandra ainda enfatiza que a expanção dos campi da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Universidade do Vale do Acaraú (UVA), juntamente com a ampliação de cursos federais, "propicionará ao Estado formar e reter seus talentos na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I)."

Exemplo de município cearense que foi impactado positivamente com a chegada de cursos superiores foi Quixadá (Sertão Central). Distante 167 km de Fortaleza, a cidade abriga o Campus Quixadá da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em setembro passado, Quixadá recebeu mais um curso da Federal, de inteligência artificial e empreendedorismo digital, que deve formar a primeira turma a partir de 2026.

Esse movimento faz parte de uma expansão da UFC na oferta de cursos nos campi do Interior, como em Russas, Itapajé e Crateús, além de Quixadá.

Considerada cidade polo do Sertão Central, Quixadá colhe os frutos desse processo, iniciado em 2006 com a formação do campus. Hoje, a instituição possui cursos de graduação e pós-graduação no espaço.

O prefeito de Quixadá, Ricardo Silveira, destaca a evolução no padrão econômico do município, já que, além da UFC, outros cursos superiores de outras instituições chegaram.

Atualmente, Quixadá possui cerca de 10 mil estudantes universitários matriculados em instituições no município. Esse movimento gera investimentos. Por parte da prefeitura, o Mercado Público foi todo reformado, já no setor privado, o comércio se renovou, assim como a rede hoteleira e o mercado imobiliário.

"Sempre que novos cursos e faculdades chegam ao município, nossa economia avança com a movimentação em hotéis, no mercado imobiliário, em restaurantes, no setor de vestuário, entre outros. Nós, como poder Executivo, temos buscado parcerias com as universidades", afirma.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias de Sousa, destaca que desde o Ensino Médio a demanda por imóveis existe, principalmente nas redondezas dos grandes colégios da Capital.

São alunos que vêm do Interior e buscam se instalar nas proximidades das escolas, seja pelo Ensino Médio ou cursinho pré-vestibular. Além da Capital, cidades-polo com cursos de Medicina e Engenharias costumam atrair muitos estudantes e movimentar o mercado imobiliário.

"(Não existe movimento no mercado imobiliário somente na Capital,) Também existem alunos que buscam alternativas em cidades como Sobral e Juazeiro do Norte, alunos que fazem o caminho rumo ao Interior e isso reflete nos lançamentos imobiliários nessas regiões, que têm um mercado pujante, de crescimento como na Região Metropolitana de Fortaleza", afirma Patriolino.

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MEC autoriza 1ª etapa de construção do campus do ITA no Ceará
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Expansão dos cursos superiores e a relação com a melhor oferta de mão de obra

A secretária da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, Sandra Monteiro, explica que o processo de expansão dos campi no Interior fomenta um trabalho de melhoria geral da educação no Estado e, no fim do dia, a oferta de mão de obra qualificada. Questionada sobre os critérios para essa expansão dos campi, especialmente no Interior, Sandra destaca que tudo é feito a partir de estudos de viabilidade técnica.

A meta, segundo ela, é identificar as necessidades das comunidades na oferta de cursos que atendam a demanda histórica na região. Outros fatores considerados são a distribuição geográfica de IES já existentes - para evitar sobreposição -, além de aproveitar sinergias e complementaridades da região - para que os cursos ofertados sejam relacionados a vocações regionais.

Assim, destaca a titular da Secitece, os impactos da chegada do campus são profundos e transformadores. "Diversos estudos apontam que a instalação de uma IES acarreta no aumento da renda per capita e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município", comenta. A secretária destaca que a chegada dos novos cursos proporciona uma melhoria no sistema de educação local e das cidades no entorno daquele polo universitário.

"A interiorização das IES acarreta no aperfeiçoamento da formação de professores, gestores e corpo técnico das escolas e demais instituições de ensino, que refletem no reconhecimento do Ceará como estado referência em educação básica no País e na oferta de profissionais qualificados para o trabalho em outras áreas, além da educação."

Sandra Monteiro, secretária de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará
Sandra Monteiro, secretária de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará

Novos campi e instituições na Capital geram expectativas

Duas confirmações devem beneficiar Fortaleza na ampliação de seu polo universitário e abrir novas possibilidades além da educação.

Inicialmente, está certo de que a Capital sediará um campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) na primeira expansão desde a fundação em 1950.

O início das obras do ITA Ceará foram autorizadas em setembro e prevê a intervenção em uma área de 18,5 mil metros quadrados (m²), que contará com um alojamento, três pavimentos, duas salas de atividades, 40 quartos com sala de estar e cozinha para 80 alunos.

O Governo do Estado deve participar do projeto construindo o bloco para cursos de Engenharia. No total, devem ser investidos R$ 180 milhões, sendo que R$ 71 milhões apenas nesta primeira fase de obras, que tem entrega total da estrutura prevista para 2027, recebendo alunos avançados - que iniciarão a formação em 2025, em São José dos Campos.

A chegada do ITA já gera movimentações. As primeiras parcerias já começam a ser firmadas, como no caso da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), que assinou acordo para implantar o Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT), que será um equipamento vinculado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e focará no desenvolvimento de soluções e mão de obra na área de energias renováveis.

A segunda confirmação é a destinação do terreno onde seria a construção do Acquario do Ceará deve ser transformada no Campus Iracema da UFC.

Em junho passado, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu a liberação de R$ 195,8 milhões para projetos da UFC, contemplando os R$ 40 milhões necessários para construção da estrutura inicial do novo campus.

O complexo universitário conta, até agora, com dois espaços já negociados e um terceiro em tratativas iniciais para cessão. A promessa é de que a estrutura existente será inteiramente aproveitada pela unidade acadêmica.

A primeira das unidades que o compõe o campus será a nova sede do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), que, ao lado do inédito Centro Tecnológico de Ciências Naturais (CTCN), será instalada no imóvel antes destinado ao antigo Acquario Ceará, do Governo do Estado.

O atual espaço onde se localiza prédio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) na rua dos Tabajaras, será o segundo espaço do campus, onde será instalada outra unidade acadêmica.

Empregabilidade

De acordo com pesquisa realizada pela ABMES, 76,7% dos recém-formados estão trabalhando, indicando uma taxa de empregabilidade consideravelmente alta. Esses dados sugerem que a maioria dos graduados consegue se inserir no mercado de trabalho logo após a conclusão de seus estudos

Ensino Online

Parceria Governo do Estado e Ministério da Educação prevê polos presenciais de apoio em 25 novos municípios neste ano. São 18.430 novas vagas EAD, sendo 11.090 para graduação e 7.010 de pós

FORTALEZA-CE, BRASIL, 04-11-2024: Educação superior e desenvolvimento econômico. Na foto, o Reitor da Universidade Federal do Ceará, Custódio de Almeida. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 04-11-2024: Educação superior e desenvolvimento econômico. Na foto, o Reitor da Universidade Federal do Ceará, Custódio de Almeida. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

O impacto da UFC no entorno

BATE-PRONTO COM CUSTÓDIO ALMEIDA, REITOR DA UFC

O POVO - Quais as perspectivas que a UFC vislumbra em relação à construção e o impacto geral naquela região?


Custódio Almeida - A UFC não será na Praia de Iracema, simplesmente uma instituição que vai impactar iniciativas estranhas a ela. Ela também vai trazer novas oportunidades diretamente. Ela também vai se movimentar para melhorar todo o entorno do campus, todo o bairro, desde a mobilidade urbana, a segurança, os pontos que possam atrair o turismo nacional e internacional. O próprio Campus Iracema vai ter o Centro Tecnológico de Ciências Naturais, que, quando estiver em funcionamento, será um equipamento aberto ao público, portanto, aberto ao turismo também.

O POVO - Prospectam-se olhares positivos?

Custódio Almeida - Então, é natural que a chegada da universidade traga um olhar positivo sobre aquele espaço físico, não é? Todos sabem que a universidade se instala e não se desinstala nunca mais, que as pessoas vão estar convivendo naquele espaço, gerando determinados tipos de demandas de serviços, tanto na gastronomia, quanto na área cultural. Então, a expectativa é que essas iniciativas de shoppings, restaurantes, bares, espaços possam ser incrementados na área da Praia de Iracema, e a UFC vai contribuir com isso diretamente, seja com seus projetos próprios, seja fazendo articulação com lideranças do bairro para planejar essa chegada do novo da melhor forma possível.

FORTALEZA-CE, BRASIL, 23-10-2024: Crescimento dos novos cursos universitários. Na foto, Ana Beatriz Queiroz, do curso de Gastronomia. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 23-10-2024: Crescimento dos novos cursos universitários. Na foto, Ana Beatriz Queiroz, do curso de Gastronomia. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

A experiência de quem fez graduação no Interior

Sair de sua cidade para cursar o Ensino Superior em outra cidade é sempre uma possibilidade para estudantes que têm o desejo de ter um diploma universitário.

Com a expansão dos cursos no Interior, esse movimento entre cidades se tornou mais constante. Ainda assim, o movimento mais natural é sair de uma cidade pequena e se dirigir a um município de maior porte.

Foi diferente da movimento feito por Beatriz Queiroz, 25, que entre 2017 e 2019 cursou Gastronomia no IFCE de Baturité.

Ela conta que a decisão ocorreu a partir da busca por uma experiência de vida diferente da vivida em Fortaleza. Inicialmente, encarava duas horas de estrada, indo e voltando das aulas, até que decidiu morar na cidade distante 98 km da Capital.

"Eu decidi ir para outra cidade, mas não por questão de nota, de não ter passado em outro lugar. Na verdade, eu escolhi sair da capital porque eu gosto dessa tranquilidade que o interior traz. Achei que seria uma experiência importante para mim", afirma.

Ela conta que no período que morou na cidade observou a evolução do campus e sua ampliação, atraindo mais e mais alunos da região. Destaca ainda que a oferta de moradia, por exemplo, se destacava pelo custo-benefício.

Beatriz destaca ainda que sua jornada de estudos ainda não acabou. Atualmente, está fazendo mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos, na Universidade Federal do Ceará (UFC), com estudo voltado especialmente para produtos de origem animal.

Os planos para o futuro são vários: "A ideia inicial é voltar ao mercado, trabalhar na indústria, talvez na área de qualidade ou desenvolvimento de novos produtos. Mas comecei a me imaginar dando aulas..."

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