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Prefeitura de Jijoca entra na Justiça contra intervenções no Parque Nacional
Economia

Prefeitura de Jijoca entra na Justiça contra intervenções no Parque Nacional

| Jericoacoara | Ação Civil Pública pede suspensão das atividades anunciadas pelo Consórcio Urbia + Cataratas Jeri por 120 dias sob pena de multa de R$ 100 mil por dia
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MORADORES temem que intervenções prejudiquem o livre trânsito no local (Foto: CLEISON SILVA/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: CLEISON SILVA/ESPECIAL PARA O POVO MORADORES temem que intervenções prejudiquem o livre trânsito no local

As primeiras intervenções no Parque Nacional de Jericoacoara iniciaram nesta semana e já geram conflito entre o consórcio Urbia + Cataratas Jeri, das empresas Construcap e Grupo Cataratas, e a Prefeitura de Jijoca de Jericoacoara e moradores da Vila de Jericoacoara. Na noite de ontem, o Município entrou na Justiça contra as atividades.

Na Ação Civil Pública, a Prefeitura pede que as intervenções sejam suspensas por 120 dias sob pena de multa de R$ 100 mil por dia, "bem como realizem o cadastramento antecipado de moradores, trabalhadores, prestadores de serviço e demais credenciados do trade turístico com prazo mínimo de 90 dias, bem comoapresentem um Plano de Ação Participativo."

Os dois pontos que geram maior embate entre as partes são o asfaltamento de um dos acessos ao parque e a cobrança de ingressos a partir de dezembro. Segundo o prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins, a empresa tem ignorado o município e não tem cumprido o que havia sido afirmado em reuniões realizadas antes da concessão.

Existia a expectativa de que os primeiros atos de intervenção da concessionária fossem de garantir o transporte gratuito para os moradores, cobrindo os três municípios em que o Parque Nacional possui área (Jijoca de Jericoacoara, Cruz e Camocim).

Também o cercamento do parque, com duas entradas, sendo a principal por Jijoca e outra pelo Preá e que a cobrança de ingressos só ocorreria após os investimentos, com autorização e licenças do município.

Segundo o prefeito, nada disso ocorreu. A Prefeitura chegou a oficiar a empresa, cobrando explicações, mas a empresa não se pronunciou oficialmente, mas enviou um funcionário informalmente na casa do prefeito.

Em meio ao cenário descrito pelo chefe do Executivo municipal, a primeira intervenção conduzida pela concessionária tem sido a construção de uma estrada de asfalto pela área do Parque Nacional.

Esse movimento tem gerado insatisfação e a Prefeitura de Jijoca promete embargar a obra assim que ela chegar aos limites do município.

"Agora estão começando uma estrada, fazendo deslocamento de terra, sem nunca sequer terem sentado com a Prefeitura. Falo por Jijoca, não sei Cruz, mas aqui nunca foram consultados nem visitados pela empresa", afirma.

Ainda segundo Lindbergh, toda comunidade, Prefeitura e todo trade turístico de Jijoca de Jericoacoara estão apreensivos e a gestão deve trabalhar para barrar as ações da concessionária. "Já acionei a Procuradoria Geral do Município para entrar com dois mandados de segurança".

O primeiro desses mandados de segurança será para barrar a cobrança que querem começar a partir do primeiro dia oficial de gestão do Parque Nacional, no dia 26 de dezembro. A Prefeitura argumenta que nenhum plano de trabalho foi apresentado, ou se há organização ou estrutura que justifique a cobrança. "Não podem barrar a entrada na Vila de Jericoacoara, que é municipal", diz.

O segundo mandado tem por objetivo embargar a estrada que teve obras iniciadas sem anuência do município. Segundo o entendimento da Prefeitura, mesmo sendo uma área federal, os gestores do Parque precisavam dar ciência sobre as intervenções, o não aconteceu.

Vale lembrar que o território do Parque abrange os três municípios de forma diferente, já que a maior parte de sua área, cerca de 70%, fica em Jijoca, quase 20% fica no território de Cruz e o restante Camocim.

"A empresa está atropelando a prefeitura. Apesar de não termos veto sobre a concessão por ser área federal, a gente precisa participar porque isso afeta diretamente a economia do município, os empregos e toda a comunidade. Desde o começo do processo, parece que não temos valor nenhum, nem a prefeitura, nem a comunidade", diz Lindbergh.

O prefeito enfatiza: "Quero que isso fique bem explícito. Estamos revoltados com essa decisão que pode afetar milhares de empregos e até isolar a vila, prejudicando o turismo".

Concessionária confirma prazos

Sobre estrada que liga o Preá à Vila de Jericoacoara, a Urbia + Cataratas Jeri afirmou ao O POVO "que iniciou intervenção temporária, autorizada pelo ICMBio, em um pequeno trecho para viabilizar o tráfego de carretas que levam materiais para as obras, afirmando ainda que a estrada não será pavimentada."

"Essa intervenção será totalmente revertida para as condições anteriores no pavimento natural, sendo o material reaproveitado inclusive em outras estruturas", completou.

Já sobre os preços de acesso ao Parque, a empresa prometeu a publicação oficial para "breve". "Conforme estabelecido em contrato de Concessão com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o prazo limite para início da operação é o dia 20 de dezembro de 2024", completou.

Órgãos ambientais

O POVO procurou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para dar informações sobre o o uso de asfalto nos acessos ao Parque Nacional, mas a Sema informou que a questão deve ser tratada com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Até o fechamento desta matéria, o ICMBio não respondeu aos questionamentos.

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TAXAS E TARIFA

Com a prometida introdução da tarifa para acesso ao Parque Nacional de Jericoacoara, o visitante será obrigado a pagar tanto a tarifa quanto a Taxa de Turismo Sustentável, cobrada pela Prefeitura, que atualmente é de R$ 41,50.

Moradores da Vila temem ter de pagar para chegar em casa

Os moradores da Vila de Jericoacoara têm uma série de dúvidas sobre como será sua situação a partir de dezembro. Atualmente, é realizado um cadastro entre os moradores e trabalhadores da Vila, mas existe o risco de que moradores sejam obrigados a pagar para chegar às suas residências.

Ana Joyce Alves, vice-presidente do Conselho Comunitário da Vila de Jericoacoara, afirma que a empresa procurou os moradores na última segunda-feira, 18, numa reunião que deixou mais dúvidas do que soluções.

A falta de diálogo claro entre as partes acirrou os ânimos e os moradores têm boicotado o cadastro promovido pela concessionária. E, por conta da geografia local, existe o risco dos moradores ficarem isolados, já que o Parque Nacional funciona quase como um "muro" para a área da Vila.

Ela destaca que os moradores locais andam preocupados por uma série de acontecimentos que teriam potencial negativo para o turismo na Vila, como foi o caso da empresária que alegou ter posse sobre grande parte do espaço.

Joyce pontua que cobrar ingressos sem entregar as benfeitorias prometidas para o Parque é injusto e afeta principalmente o trade turístico que já vendeu pacotes para os meses de alta estação.

Senador Sá e Jijoca de Jericoacoara fazem parceria para impulsionar turismo

Os municípios de Senador Sá e Jijoca de Jericoacoara firmaram parceria estratégica para desenvolvimento de uma atração turística e da possibilidade de um novo acesso para a Vila de Jericoacoara.

O acordo foi firmado pelo prefeito de Senador Sá, Bel Junior, e o prefeito eleito de Jijoca de Jericoacoara, Leandro Cezar, durante agenda em Brasília-DF.

Eles participaram de reunião com investidores do setor de turismo com intenções de investimento no distrito de Serrota, em Senador Sá.

A região é conhecida por abrigar o Açude Tucunduba e tem se consolidado como um destino promissor para o turismo de aventura, sendo pioneira na prática de kitesurf em águas de açude. Com uma localização estratégica, Serrota é um ponto de conexão entre a região norte e a famosa vila de Jericoacoara, reduzindo significativamente a distância para turistas e moradores.

O prefeito de Senador Sá destaca que a parceria visa fortalecer a infraestrutura turística e atrair investimentos para a região.

A ideia é integrar os atrativos naturais e culturais dos dois municípios, potencializando a geração de emprego e renda. "Estamos unindo forças para transformar nosso potencial turístico em desenvolvimento concreto para nossa população," afirma Bel Junior.

O que prevê a concessão do Parque Nacional de Jericoacoara?

Quem venceu a concessão?

O consórcio é formado pelas empresas Construcap
e pelo Grupo Cataratas. O consórcio ainda vai assinar contrato para que os prazos do leilão comecem a valer.

Quanto tempo vai durar?

Concessão por 30 anos

Investimento

Serão investidos cerca de R$ 116 milhões em infraestruturas diversas no parque, e mais cerca de R$ 990 milhões na operação ao longo da vigência do contrato, que será de 30 anos

Unidades de conservação

O edital estabelece a criação de um mosaico de unidades de conservação na região de Jericoacoara, a ser formado pelo Parque Nacional, APA Estadual da Lagoa de Jijoca e APA Municipal da Tatajuba, cujas ações gerenciais e de implementação poderão ser objetos da destinação dos recursos dos encargos de responsabilidade socioambiental previstos no contrato de concessão

O que inclui a concessão?

Os bens incluem todas as edificações, instalações, equipamentos, máquinas, aparelhos, acessórios e estruturas de modo geral lá existentes, assim como todos os demais bens necessários à operação e manutenção do objeto

Vai ser cobrado ingresso?

A concessionária pode cobrar ingresso, mas o edital estabelece valores máximos no caso de cobrança. Confira abaixo:

  • Quando pode custar o ingresso*?
    do 1º ao 12º mês: R$ 50,00;
    do 13º ao 24º mês: R$ 70,00;
    do 25º ao 36º mês: R$ 90,00;
    do 37º ao 48º mês: R$ 110,00; e
    do 49º mês até o final da concessão: R$120,00.
    *Valores são os máximos permitidos pelo contrato de concessão, podendo ser menores.
  • Quem não vai pagar ingresso*? Moradores, frequentadores e trabalhadores da Vila de Jericoacoara;
    Moradores dos municípios de Camocim, Jijoca de Jericoacoara e Cruz, devidamente cadastrados e identificados;
    Crianças com até 6 anos de idade;
    Estudantes e professores, para a realização de atividades de ensino e educação
    ambiental;
    Pesquisadores regularmente autorizados no exercício da atividade de pesquisa;
    Guias de turismo, devidamente regularizados pelo Ministério do Turismo, no exercício
    de suas atividades profissionais ;
    Condutores de visitantes cadastrados e autorizados de acordo com os critérios
    estabelecidos em Portaria específica da unidade de conservação, respeitadas as normas do ICMBio;
    Pessoas regularmente inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do
    Governo Federal (CadÚnico);
    *Limitada a 300 usuários por dia.
  • Haverá possibilidade de promoções?
    A concessionária pode criar categorias diferentes de ingressos, oferecer descontos, isenções e até não exigir o pagamento para determinadas áreas do Parque.
  • A entrada dá direito a quê?
    Os ingressos dão direito à entrada no Parque, incluindo acesso às trilhas para caminhadas e contemplação, bem como às edificações públicas do Centro de Visitantes, receptivos, banheiros, lanchonetes, restaurantes e demais, além de ser vedada a cobrança de qualquer valor adicional pelo acesso.
  • Tem mais cobranças?
    Sim! Atualmente, o turista já paga uma Taxa de Turismo Sustentável (TTS). A Prefeitura de Jijoca de Jericoacoara congelou o valor em R$ 41,50 válidos por dez dias, além de R$ 4,15 por dia caso este período seja ultrapassado. A partir da concessão da concessionária irá recolher a TTS junto com o ingresso. O ingresso vai para a empresa e a taxa de turismo para o Município.

INVESTIMENTOS OBRIGATÓRIOS

  1. Bilheterias e controle de acesso: A concessionária deverá implantar infraestrutura de bilheteria e controle de acesso facilmente identificável, no mínimo, na área de visitação do Preá, nos postos de informação e controle do Mangue Seco e Lagoa Grande e no posto de informação e controle móvel do Guriú.
  2. Conexão à internet: A concessionária deve disponibilizar internet Wi-Fi gratuita em seis pontos do Parque: Centro de Visitantes do Preá, Centro de Visitantes do Serrote, Área de Apoio da Árvore da Preguiça, Área de Apoio da Praia do Serrote, Área de Apoio a visitação do Cavalo Marinho e Área de Apoio a visitação da Pedra Furada.
  3. Alimentação e Comércio: Também está prevista a construção de estrutura de oferta de alimentação em pelo cinco pontos do parque. Além de espaços para atividades de venda e exposição do artesanato local, souvenir, livros e outros, com prioridade a comerciantes locais

CRONOGRAMA

  • A concessionária tem o prazo de 18 meses para cercar e delimitar todo perímetro do Parque, após a assinatura do contrato.
  • Já a requalificação dos edifícios existentes tem o prazo de 36 meses para conclusão.
  • A implantação dos novos polos e áreas de visitação devem ser entregues em até 18 meses.
  • Ainda estão previstas construções, reformas e demolições em estruturas já existentes no Parque, como a sede do ICMBio no espaço.
  • A nova gestora do Parque também deve entregar em até seis meses o plano de implantação, de comunicação e identidade visual, além de gestão e operação.
    Fonte: ICMBio
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