O Ceará é o destaque do Nordeste na atividade econômica, consolidando-se como um dos estados mais dinâmicos da região no acumulado (até outubro) de 2024, com crescimento de 5,9%.
A análise é do Boletim Macro Regional Nordeste, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre). Acima de estados como Bahia (2,9%) e Pernambuco (4,4%), o Ceará também obteve um resultado melhor do que a média da região Nordeste (3,9%).
Para Isadora Osterno, pesquisadora do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do NE do FGV Ibre, o Ceará vem, neste ano especificamente, crescendo fortemente na questão da atividade econômica.
"Esse índice é calculado como se fosse um acompanhamento mais próximo, uma estimativa mensal de fato para os estados. O Ceará vem muito bem no crescimento de sua dinâmica econômica, e há vários fatores que podem explicar essa melhora econômica geral."
Como exemplo, a pesquisadora tanto o setor de serviços quanto o de comércio, além do mercado de trabalho, o qual o desemprego vem alcançando mínimas históricas no mercado de trabalho e batendo recordes em geração de emprego.
"O Ceará é um dos poucos estados do Nordeste que, no mês de novembro, por exemplo, apresentou um desempenho positivo. A situação de novembro de 2023 e do acumulado do ano também mostra crescimento. Assim, o mercado de trabalho está muito dinâmico, e o comércio também vem crescendo bem neste ano. Isso está muito relacionado à melhoria das condições de vida das famílias."
A indústria cearense também teve um desempenho notável, com um aumento de 3,5% em outubro de 2024 em relação a setembro, recuperando-se de uma queda expressiva.
Em comparação com o igual mês do ano anterior, o crescimento foi de 8,5%. No acumulado do ano, a alta foi de 8,6% e, nos últimos 12 meses, de 7,7%, superando a média nacional.
Na Região, os números do Estado ficaram atrás apenas do Rio Grande do Norte, que teve o aumento atribuído principalmente à produção de biocombustíveis e a fabricação de alimentos.
"A variação acumulada do Ceará, tanto no acumulado geral quanto nos últimos 12 meses, está bem acima da média do Nordeste e bem acima também da média do Brasil. O Nordeste ainda está em processo de recuperação, contudo, ao longo do ano, tem apresentado um melhor desempenho. Está crescendo, mas é como se a região ainda não tivesse se recuperado totalmente da pandemia", explica Isadora Osterno.
Já a confiança dos empresários industriais no Nordeste, medida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), permanece em um nível positivo (acima de 50 pontos), embora próximo da estabilidade.
No setor de serviços, o Ceará conquistou um resultado modesto no acumulado do ano (0,9%) e nos últimos 12 meses (0,6%), com crescimentos bem abaixo da média nacional no igual período.
Por outro lado, no volume de atividades turísticas, o crescimento foi de 10,8% em outubro, sendo destaque no Nordeste.
Em relação ao comércio, o Estado também apresentou o melhor desempenho da Região, com alta de 2,1%. No acumulado do ano, o aumento é de 8,2%, ambos percentuais acima do registrado no Brasil.
No mês de outubro, o destaque foi para os setores de artigos farmacêuticos, médicos e cosméticos (17,0%), móveis e eletrodomésticos (10,3%) e tecidos, vestuário e calçados (13,3%). Também houve uma queda acentuada em equipamentos e materiais para escritório (-24%).
No Nordeste, o rendimento real médio mensal do trabalho foi estimado em R$ 2.216 no terceiro trimestre de 2024. O valor representa 68,7% do rendimento médio calculado em nacional para o mesmo período, de R$ 3.227.
Essa estimativa pontual do rendimento real médio no Nordeste indica uma pequena redução, de
1,6%, em relação ao trimestre anterior, estimada em R$ 2.251. Já em relação ao igual período do ano anterior, estimado em R$ 2.086, calcula-se um crescimento de 6,2%.
O Ceará, por sua vez, possui o terceiro menor rendimento da região, com R$ 2.101. O valor fica atrás apenas da Bahia (R$ 2.087) e do Maranhão (R$ 2.088).
Sobre isso, Isadora Osterno informa que há questões relacionadas ao capital humano, às condições de trabalho e à alta informalidade.
"Esses fatores influenciam o rendimento. De fato, os rendimentos no Nordeste são os mais baixos do país. Porém, se você observar os números dos estados nordestinos, os valores são muito próximos uns dos outros."
A massa de rendimentos do trabalho (rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente
recebido por mês), é um indicador que reflete o comportamento da população ocupada.
Ao nível nacional, esse indicador foi estimado em R$ 327,7 bilhões, se mantendo relativamente estável em relação ao trimestre anterior (R$ 325,2 bilhões) e crescimento de 7,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 305,8 bilhões).
Os maiores valores deste indicador na Região são verificados nos estados da Bahia (R$ 13 bilhões), Pernambuco (R$ 8,8 bilhões) e Ceará (R$ 7,7 bilhões).
Por fim, o saldo de empregos formais do Nordeste no acumulado de 2024 foi de 384.492 postos de trabalho. A Bahia liderou o saldo de empregos no igual período (103,2 mil), seguida por Pernambuco (72,4 mil) e Ceará (62,3 mil).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da região Nordeste apresentou uma variação de 0,35% em novembro de 2024, mantendo-se abaixo da média nacional de 0,39% pelo sexto mês consecutivo.
Entre as capitais nordestinas analisadas, Fortaleza destacou-se com uma alta superior à média nacional, registrando 0,44%. No acumulado do ano, o percentual chegou a 4,24%, atrás apenas de São Luís (5,76%).
De acordo com a pesquisadora Isadora Osterno, o frete e a habitação são fatores que aumentam o índice inflacionário.
"O grupo "alimentação e bebidas" é o que tem maior peso, seguido por "saúde e cuidados pessoais", com reajustes de planos de saúde e serviços relacionados, que influenciam bastante esse valor."
A balança comercial do Nordeste até novembro de 2024 mostra um déficit acumulado de US$ 3,8 bilhões, impulsionado pelos setores de indústria de transformação e extrativismo. Por outro lado, o agropecuário continua se destacando com superávit de US$ 6,8 bilhões.
A soja é o principal produto das exportações agropecuárias do Nordeste, representando US$ 5,3 bilhões, ou 69,23% das exportações do setor. A maioria dessa produção foi destinada à China, que absorveu 72,78% da soja.
Já o trigo é o item mais importado, totalizando US$ 638 milhões, ou 68,86% das importações do setor. Argentina é a principal fornecedora, seguida por Cacau e Frutas e Nozes. Os estados da Bahia (24,84%), Ceará (33,62%) e Pernambuco (22,74%) são os maiores destinos dessa importação.
Até novembro de 2024, a balança comercial do Ceará estava negativa, com menos US$ 1,4 bilhão. Isso porque a exportação foi em torno de US$ 1,3 bilhão, mas a importação foi de mais de US$ 2,8 bilhões.
Segundo a análise, o Ceará, juntamente com Pernambuco, enfrenta desafios significativos. "Esses
déficits são atribuídos principalmente às elevadas importações industriais e de combustíveis, que têm
grande peso nas economias desses estados."
Panorama econômico do Nordeste