Projetos de transição energética no Ceará têm potencial de gerar investimentos que somam R$ 120 bilhões. Segundo o governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), existem três pedidos no Operador Nacional do Sistema (ONS) e na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para implantação de projeto de hidrogênio verde, com ampliação da distribuição de energia renovável.
Os projetos de energia citados pelo governador somam R$ 70 bilhões. Além deles, há outro investimento prospectado, o de um datacenter a ser instalado no Complexo do Pecém, que teria aporte de R$ 50 bilhões e também demandaria energia renovável.
"Estamos em negociação para a instalação de um datacenter no Complexo do Pecém, um projeto que com alta demanda energética e que representa mais de R$ 50 bilhões em investimento. Estamos tratando essas iniciativas com muito zelo e cuidado, especialmente no que diz respeito à infraestrutura necessária para viabilizar", afirma.
Ainda segundo Elmano, o trabalho agora tem sido de estreitar o diálogo com os investidores, com Congresso e Governo Federal para viabilizar o mais breve possível a regulamentação da Lei 15.103/25, que institui o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) para incentivar projetos de desenvolvimento sustentável com recursos de créditos de empresas perante a União.
As tecnologias de descarbonização no âmbito da transição energética também podem ser fomentadas por meio do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC) via Lei Nº 14.990/2024, impactando setores industriais como siderurgia, química e cimenteira.
As informações são do Farol da Economia Cearense, elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). O estudo indica que o Estado deve continuar sendo o epicentro do hidrogênio verde (H2V) em 2025. Todavia, é preciso uma infraestrutura integrada para que o contexto se concretize de fato na região.
Uma das iniciativas que corroboram com o otimismo foi, também, a sanção do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) no último dia 22. A ação está sendo vista como uma catalisadora promissora para o futuro da transição energética no Ceará e no Brasil, injetando previsões positivas entre especialistas consultados pelo O POVO.
No intuito de fomentar a economia verde, o Paten deve facilitar o financiamento de projetos de desenvolvimento sustentável, aproximar instituições financeiras e empresas interessadas nos projetos sustentáveis, bem como viabilizar que os créditos tributários de empresas sejam usados como garantias em financiamentos.
O programa prevê a criação do Fundo de Garantias para o Desenvolvimento Sustentável (Fundo Verde), que servirá como um seguro para financiamentos voltados aos projetos sustentáveis pelo País. Assim, as companhias irão integralizar os créditos tributários no Fundo Verde por meio de quotas de participação.
O administrador do Fundo Verde será o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e a ideia é que as instituições privadas acessem mais facilmente recursos para iniciativas de baixo carbono sem a necessidade de garantias reais, o que poderia reduzir custos para os empreendedores, na visão do governo.
O Ceará, como um grande polo de energia renovável, pode ser um dos grandes beneficiários do programa, especialmente por causa do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), o qual concentra inúmeros projetos relacionados à energia renovável e ao hidrogênio verde H2V – que precisa desses recursos.
“O governo está mostrando para o mercado que os investimentos podem ser realizados”, de acordo com o secretário do Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE), Domingos Filho. “Haverá, sim, uma grande política de transição energética. Estamos falando de valores muito altos para estruturação de data centers e de empresas voltadas para o H2V.”
O diretor de regulação do Sindicato da Indústria da Energia no Ceará (Sindienergia-CE), Bernardo Viana, explicou que, na prática, ainda não dá para mensurar o quanto o Ceará deve ser impactado financeiramente com o Paten, mas que há grande potencial pelo fato de os empreendimentos de H2V necessitarem de energia limpa.
“Temos oportunidades únicas, como a possibilidade de transitar do carvão para o gás natural, do biometano para o hidrogênio. Estamos em uma posição privilegiada. O programa busca incentivar a descarbonização, o que é fundamental, especialmente no setor industrial”, acrescentou o consultor de energia Adão Linhares.
Adão destacou que o programa pode, inclusive, ajudar a reduzir as diferenças regionais voltadas à industrialização no Brasil. Já que boa parte dos negócios tem se concentrado no Sudeste. “O agronegócio já transformou o Centro-Oeste, e as energias renováveis podem desempenhar um papel semelhante no Nordeste.”
O diretor da empresa de energia Colibri Capital e presidente da Câmara Setorial de Energias da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Jonas Becker, afirmou, ainda, que os projetos de energia necessitam de muito capital e que, muitas vezes, as empresas não sabem como aproveitar os créditos tributários. O Paten auxiliaria nisso.
“O Ceará tem uma vocação natural tanto pela sua questão climática quanto pela posição geográfica, que é próxima da Europa. Isso facilita conexões, inclusive para exportação. Por aqui, discute-se muito a questão do H2V, que tem um potencial enorme. (...) Iniciativas como o Paten contribuem para o financiamento desses projetos”, pontuou Jonas. (Colaboraram Adriano Queiroz e Samuel Pimentel)
A volta de Donald Trump e o impacto ao setor de energia
A ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reacendeu os debates sobre o futuro da transição energética no mundo. Conhecido por seu apoio aos combustíveis fósseis, Trump levanta questões sobre o ritmo e a direção dos investimentos em energias renováveis. Essa mudança de direção na política energética dos EUA, a qual prioriza os combustíveis fósseis, pode levar empresas que antes apostavam em energias renováveis a repensar seus planos de investimentos, já que há incerteza sobre a concessão de incentivos fiscais.
A mudança pode, todavia, trazer oportunidades para locais, especialmente para o Ceará. Segundo o diretor de regulação do Sindienergia-CE, Bernardo Viana, a possível perda de incentivos nos EUA pode fazer com que empresas voltem seus olhares para o Brasil.
Já o diretor do grupo Colibri Capital, Jonas Becker, acredita que a transição energética é um caminho sem volta, e que o Brasil, com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém, estará em uma excelente vitrine para atrair investimentos.
Apesar das oportunidades, o País precisa estar atento aos desafios, especialmente no âmbito das linhas de transmissão, para que empresas do segmento de energia renovável não tenham perdas com as limitações da geração elétrica, conforme o consultor de energia Adão Linhares.