O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem elevar em 1 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), que passará a 13,25% ao ano. Também sinalizou nova alta para março.
A decisão foi tomada por unanimidade na primeira reunião realizada desde que o economista Gabriel Galípolo tomou posse como novo presidente do BC, em 1º de janeiro.
Também pela primeira vez, o colegiado é composto na sua maioria por membros indicados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A retomada da trajetória de elevação da Selic foi iniciada em setembro do ano passado e a aceleração desse processo ocorre em um contexto de pressão inflacionária, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 tendo fechado a 4,83%.
Além disso, o câmbio permanece em patamar elevado, apesar da desvalorização de 5% do dólar em janeiro, quando a divisa recuou de R$ 6,16 no primeiro pregão do ano para R$ 5,86 nesta quarta-feira, 29.
A sinalização da alta, a propósito, já havia sido feita desde a reunião anterior do Copom, realizada em dezembro, e a elevação da taxa Selic em 1 ponto percentual era esperada pelo mercado financeiro.
De acordo com o comunicado, o Copom "entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego".
O Copom confirma a expectativa de um novo aumento de 1 ponto percentual para a próxima reunião, a ser realizada em 19 de março, mas pondera que "a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação".
Para o economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, alta ocorreu em função de uma necessidade de "tentar conter a perspectiva de crescimento da inflação, visto que o mercado projeta já uma taxa de inflação meio ponto, ou, em alguns casos, até quase um ponto acima do teto da meta para o ano de 2025".
"A tendência é continuar tendo essa elevação. O mercado estima que a própria taxa Selic possa alcançar uns 15% ou 15,5% ao longo do ano de 2025. Então, a tendência é a de elevação de alguns preços agora, como no caso dos combustíveis, em que existe certa defasagem. Essas são variáveis que tendem a manter esse direcionamento de elevação da taxa Selic ainda nas próximas reuniões do Copom", acrescentou.
Por sua vez, a economista e diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Darla Lopes, afirmou que embora esperada, "essa decisão afeta o crédito, os investimentos, o consumo e o câmbio. Esse movimento pretende conter a demanda aquecida e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e, por outro lado, estimulam a poupança e o investimento".
Já o economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, Rafael Cardoso projeta que o ciclo de alta dos juros deve se encerrar em 15,25% na reunião do dia 18 de junho, a quarta do ano. "Depois de cumprido o forward guidance (mecanismo que permite aos bancos centrais ajustar a política monetária de um país) de dar mais uma alta de 1 ponto percentual, o Banco Central picota ali as altas seguintes para chegar em 15,25%, em mais duas reuniões", explica.
No comunicado do Copom, o Comitê destacou os principais aspectos nos ambientes externo e interno que levaram o órgão a tomar essa decisão.
"Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes", diz a nota.
Sobre o cenário interno, o Copom destaca que "as expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência.
Por sua vez, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu por unanimidade manter inalterada a taxa dos Fed Funds (como é conhecida a taxa de juros dos Estados Unidos) na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano, interrompendo um ciclo de cortes iniciado em setembro do ano passado. (Com Agências)
CNI considera 'injustificado' aumento da Selic para 13,25%
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou "injustificado" o aumento de um ponto porcentual da taxa Selic, para 13,25% ao ano. "É mais um movimento da política monetária que ocorre em consequência da longa cultura de juros reais elevados que persiste no Brasil. Com a decisão, o Banco Central mostra que persiste em uma única ferramenta de política monetária - a elevação dos juros -, no enfrentamento de expectativas de inflação", diz a CNI em nota.
"Com a decisão, o Banco Central mostra que continua ponderando equivocadamente os fatos econômicos mais relevantes do cenário atual, principalmente no que diz respeito ao quadro fiscal e à desaceleração da atividade do País", diz o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A entidade avaliou ainda que a decisão do Copom não leva em conta os efeitos da aprovação do pacote fiscal, que ainda deve ser ampliado neste ano. "O fato é que a meta de resultado primário será cumprida em 2024 - considerando sua banda inferior - e, de acordo com as estimativas da CNI, também deve ser cumprida em 2025, pois depende de um contingenciamento de R$ 4,2 bilhões, levando-se em conta o limite inferior da meta."
Para a CNI, a alta do juros representa mais custos financeiros para as empresas e os consumidores e perda adicional de emprego e renda.