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Preço de produtos da M. Dias Branco deve seguir em alta em meio a desafios
Economia

Preço de produtos da M. Dias Branco deve seguir em alta em meio a desafios

CFO e diretor de Relações com Investidores citam cautela na precificação; e cenário de alta deve ser similar em concorrentes
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ESTRATÉGIA da M. Dias Branco é que os reajustes nos preços não sejam feitos todos de uma vez (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal ESTRATÉGIA da M. Dias Branco é que os reajustes nos preços não sejam feitos todos de uma vez

A indústria de alimentos M. Dias Branco deve seguir uma estratégia de alta de preços nos produtos em meio a desafios econômicos, assim como ocorreu em 2024, o que impactou os resultados do terceiro trimestre.

A diferença, agora, é que o cenário de precificação deve seguir maior cautela, e concorrentes também devem incrementar os preços.

O POVO conversou nesta terça-feira, 28, com o vice-presidente de Investimentos e Controladoria (CFO, em inglês) da M. Dias Branco, Gustavo Theodozio, e o diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores (RI), Fabio Cefaly.

“A gente está fazendo mudanças. Primeiro, não estamos colocando tabela de uma vez só para todo mundo. Então, em vez de implementar tudo de uma vez (preços). Colocamos uma tabela agora no dia 31 de janeiro, começando com um canal específico. Agora foi o canal de cash. Depois, virão redes regionais, pequeno varejo, atacado e distribuidor”, detalhou Gustavo.

“Daqui a um mês, vamos entrar nas redes regionais e no pequeno varejo. Depois, em março, vamos para outro segmento. Estamos fracionando e indo por categoria também. Por que estamos fazendo isso? Porque queremos dar um primeiro passo e observar se os caras (concorrentes) estão vindo ou não estão vindo? Com que tamanho de aumento?”, acrescentou.

A ideia é que a M. Dias Branco deixe as suas margens de lucro comprimidas em um primeiro momento para não perder mercado (market share), pois, geralmente, o mercado alimentício acompanha o aumento de preços da companhia, mas demora por volta de dois meses para reagir. No caso do último trimestre, esta reação foi menor do que o esperado.

Por que os preços sobem?

Os preços dos produtos aumentaram devido aos custos dos insumos mais altos, bem como à pressão do câmbio.

Com base em consultorias, a M. Dias Branco acredita que o movimento em torno dos preços não deve ser isolado, mas que o mercado como um todo deve seguir a tendência por causa dos aspectos econômicos desafiadores.

A companhia tem trabalhado, ainda, com o corte de custos. Isso porque a receita menor no último trimestre ocasionou, consequentemente, maiores despesas gerais e administrativas (SG&A).

A estratégia é melhorar a área comercial e apostar em uma melhor performance de vendas. “Precisamos crescer no Sul e no Sudeste”, conforme Gustavo.

A empresa fechou fábrica em São Paulo, onde havia “capacidade ociosa”, e encerrou uma linha de produção no Rio de Janeiro. A fábrica carioca permanece. O intuito foi o de diluir custos fixos e redistribuir volumes para outras plantas.

Até o terceiro trimestre, cerca de 850 funcionários da M. Dias Branco foram demitidos no País. Novos fechamentos de plantas são incertos.

“Enquanto não temos certeza de que a receita vai crescer, vamos controlar os custos. À medida que a receita melhorar, podemos até reativar algumas plantas. (...) Se tudo correr bem, não falaremos mais em fechamento de plantas, mas em compra de novas empresas e reabertura de unidades”, detalhou Gustavo.

Despesas

O diretor de RI destacou que a empresa deve ter um olhar rígido em relação às despesas, com foco no incremento dos volumes, até porque a questão do custo envolve isso, a matéria-prima e o ajuste de preços.

Além disso, a M. Dias Branco não deve diminuir os investimentos em marketing, talvez realocar a forma como é distribuído.

Novos produtos

Questionado sobre a estratégia em relação a novos produtos, Fabio disse que todo ano há lançamento, mas que, em 2025, deve ser um pouco menor do que normalmente acontece.

O interesse é em fortalecer os produtos que já estão em linha, a fim de fazer os negócios crescerem e não complexificar o contexto.

A empresa também tem buscado fortalecer o segmento de foodservice, isto é, na comercialização de produtos em proporções diferentes para bares, restaurantes e indústrias.

M&A

A possibilidade de fusões e aquisições (M&A) não foi descartada, mas o executivo afirmou que é difícil saber se vai acontecer algo nesta linha ou não.

“A nossa obrigação é estar atentos a tudo que está acontecendo no mercado, e o mercado está um pouco mais parado”, pontuou. “Essa dinâmica não está totalmente sob nosso controle.”

Entretanto, a possibilidade de crescimento é limitada de certa forma, pois a M. Dias Branco já domina a maior parte do mercado de biscoitos e massas, e é necessário livre concorrência.

Gustavo explicou que, talvez, seja possível fazer mais uma aquisição em biscoito e uma em massa, mas duas possivelmente o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) iria barrar.

Internacionalização

A internacionalização dos negócios também pode ocorrer à frente, mas não é algo que tem sido olhado com tanta urgência.

A M. Dias Branco já exporta para mais de 40 países, e há possibilidade de investir futuramente em aquisições no Exterior. A companhia tem olhado com interesse para a América Latina e para a Península Ibérica, na Europa.

Todavia, os executivos deixaram claro que o "maior e mais fácil pote de dinheiro" está no mercado brasileiro, com avanço no Sul e Sudeste via expansão orgânica ou M&A. Apesar de não depender de fusões e aquisições para alcançar o crescimento, a M. Dias Branco pode acelerar o avanço com isso, na visão dos especialistas.

*Corrigido às 15h55min com a informação de que a fábrica da M. Dias Branco no Rio de Janeiro permanece, diferentemente de São Paulo. No Estado carioca, foi encerrada uma linha de produção.

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