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O futuro das empresas cearenses na bolsa de valores
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O futuro das empresas cearenses na bolsa de valores

| B3 | Mercado de capitais brasileiro conta com grandes companhias do Ceará, como M. Dias Branco, Pague Menos, Hapvida, Grendene, Brisanet e Aeris Energy
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 29.01.2025: Empresas cearenses na Bolsa de Valores. Pague Menos, LOja na Avenida Santos Dumont. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 29.01.2025: Empresas cearenses na Bolsa de Valores. Pague Menos, LOja na Avenida Santos Dumont. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Investir em uma empresa é, essencialmente, apostar no futuro dela. E nenhum negócio opera isolado da economia. Diante de um cenário marcado por inflação, juros elevados, oscilações cambiais, questões geopolíticas e fatores domésticos, as perspectivas para as companhias cearenses na bolsa de valores se desenham de forma variada em 2025.

A indústria de alimentos M. Dias Branco tem focado no controle de custos neste ano, em meio a um resultado aquém do esperado no terceiro trimestre, o fechamento de uma fábrica em São Paulo e a demissão de 850 funcionários. Os impactos se deram pelo câmbio e pelos valores dos insumos, que levaram a alta de preço dos produtos e a queda dos volumes.

Gustavo Theodozio e Fabio Cefaly, executivos da M. Dias Branco. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Gustavo Theodozio e Fabio Cefaly, executivos da M. Dias Branco. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

O cenário se mostra mais promissor agora para a empresa. Os executivos citam cautela na precificação e aumento de preços entre os concorrentes, o que tende a trazer mais equilíbrio. O foco está em melhorar a área comercial e incrementar a performance de vendas, com crescimento nas regiões Sul e Sudeste.

Segundo o diretor de novos negócios e relações com investidores da M. Dias, Fabio Cefaly, o interesse é em fortalecer os produtos que já estão em linha, com menos lançamentos em 2025. A internacionalização dos negócios – para além de exportações – pode ocorrer no futuro, mas não é algo que tenha sido olhado com urgência.

Sede da M. Dias Branco em Fortaleza. (Foto: Samuel Setubal/O POVO)(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Sede da M. Dias Branco em Fortaleza. (Foto: Samuel Setubal/O POVO)

A Pague Menos, por outro lado, está direcionando esforços para as pessoas, a eficiência operacional e a geração de caixa. De acordo com Andréa Aznar, analista do BB Investimentos, a farmacêutica apresentou bons resultados no segundo e terceiro trimestres de 2024, e a expansão orgânica retomará seu ritmo de crescimento em 2025.

Para o futuro, o diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Pague Menos, Luiz Renato Novais, destaca a expansão de lojas nas regiões Norte e Nordeste, investimento em canais digitais, preços agressivos ante concorrentes, melhora ao atendimento ao cliente, incremento dos serviços de saúde e olhar para tecnologias.

Farmácia Pague Menos, na Avenida Santos Dumont, em Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Farmácia Pague Menos, na Avenida Santos Dumont, em Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

O BTG Pactual afirma que as vantagens competitivas da Hapvida NotreDame Intermédica seguem intactas apesar da persistência de alguns desafios. Os analistas de investimentos Samuel Alves e Yan Cesquim veem um modelo lucrativo com planos de saúde acessíveis e um forte potencial de consolidação no segmento de baixo ticket, isto é, de baixo preço.

Já o Goldman Sachs contrapõe citando que os investidores estão focados no impacto dos altos níveis de processos judiciais contra a operadora. Os analistas esperam um crescimento modesto de clientes no 4º trimestre de 2024, mas se mantêm otimistas ante os cenários.

Diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores (CFO, em inglês) da Pague Menos, Luiz Renato Novais.(Foto: Camila de Almeida/Divulgação/Pague Menos)
Foto: Camila de Almeida/Divulgação/Pague Menos Diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores (CFO, em inglês) da Pague Menos, Luiz Renato Novais.

A empresa de telecomunicações Brisanet tem buscado fortalecer sua atuação no segmento móvel. Com os investimentos na área, a lucratividade ficou pressionada no último trimestre, como já era esperado. O Itaú BBA indicou, na ocasião, que os investidores acompanhem de perto a evolução dos indicadores operacionais, pois os retornos demandam tempo.

A Grendene, dona das marcas de calçados Melissa e Ipanema, registrou um resultado positivo apoiado pelo mercado interno no último trimestre, mas pressões externas foram sentidas. A empresa havia citado impactos nos hábitos de consumo com a inflação e os juros elevados. O contexto macroeconômico parece permanecer, de certo modo, inalterado.

Em janeiro, a fabricante cearense de pás eólicas Aeris Energy conseguiu um acordo, denominado standstill, para adiar em até 60 dias o pagamento de juros remuneratórios e amortização de uma emissão de debêntures – forma de captar dinheiro no mercado. O movimento está sendo discutido com bancos credores também.

A agência global de classificação de risco Fitch Ratings alertou sobre indícios de um processo semelhante à inadimplência nas renegociações de dívidas da companhia, rebaixando sua classificação e citando risco pela empresa só possuir um cliente. O cenário engloba um momento desafiador para a energia eólica no País, não só para a Aeris.

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Renda variável: perspectivas dos investimentos em 2025

Com a atratividade da renda fixa - apoiada pelas perspectivas de alta na Taxa Selic para até 15% ao ano em 2025 -, o segmento da renda variável pode sofrer com uma fuga de investidores, já que enfrenta maior risco e eventual rentabilidade menor no cenário, de acordo com analistas ouvidos pelo O POVO.

"Atualmente, a renda fixa está muito atrativa. Com títulos pagando juros significativos. Inclusive, nos atrelados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o investidor ainda se protege da inflação e pode ganhar dinheiro", explicou o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pierre Oberson de Souza.

Pierre destacou que as empresas de capital aberto estão "baratas" no Brasil, ao analisar múltiplos como preço sobre lucro. O problema, para o especialista, é que isso já ocorre há algum tempo e uma coisa é saber que algo está barato; outra é saber quando o preço justo vai se realizar. Isso traz incerteza aos investidores.

Este contexto tem sido específico do Brasil, apesar de uma situação parecida ter sido vista no México em 2024. O mundo não enfrenta o mesmo ambiente. Nos Estados Unidos, por exemplo, mesmo com uma possível alta de juros, os juros reais não devem ser tão altos a ponto de afastar o capital da renda variável, segundo Pierre.

"A renda variável precisa oferecer um retorno muito maior para compensar o risco, mas é difícil. Então, mesmo que as empresas estejam baratas na B3, é pouco provável que vejamos uma grande migração de capital para a renda variável, porque o concorrente dela - a renda fixa - está muito forte."

Outro ponto de atenção é a dificuldade em atrair capital estrangeiro, pois os investidores de fora iriam se expor a dois fatores no Brasil: a variação do ativo em si e a variação do real. "O investidor estrangeiro pensa no retorno em dólar, não em real. Então, se a carteira dele no Brasil subir 10%, mas o real desvalorizar 15%, isso não compensa."

O conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Ricardo Coimbra, indicou que, com o movimento de crescimento nos juros, as empresas negociadas na B3, inclusive as do Ceará, vão precisar ser ainda mais eficientes nos seus projetos e nas suas operações.

"Isso para que consigam gerar uma perspectiva de crescimento e lucratividade, não só no curto, mas no médio e no longo prazo, a fim de alcançar uma recuperação mais significativa do valor de mercado. Este será um ano bem desafiador."

"Não podemos confundir renda variável com loteria", alerta professor da FGV

O professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pierre Oberson de Souza, alertou para os riscos dos investimentos na bolsa de valores, destacando a necessidade de não confundir a renda variável com uma "loteria", em que haveria um retorno financeiro espetacular "quase que por sorte", sem esforço. Isso é irreal e perigoso.

"Este é um mercado onde as pessoas estudam, analisam e trabalham para entender o que está acontecendo com as empresas. Se alguém entra sem estudo, sem análise, sem fazer o mínimo, a tendência é se dar mal. Se você não sabe mais sobre uma empresa do que a média das pessoas, sua chance de errar é maior", afirmou.

O docente ressaltou, ainda, a importância de equilibrar um portfólio de investimentos variado com renda fixa. A ideia é variar a carteira e não colocar dinheiro na bolsa sem ter antes uma reserva de emergência na renda fixa, por exemplo.

"Isso reduz a exposição a situações extremas da economia. Então, minha sugestão para quem está começando e quer assumir um pouco mais de risco, aceitando a volatilidade, é diversificar o portfólio. Não concentre todo o risco em uma só ação, setor ou tipo de investimento. Se algo der errado, você pode perder muito", explicou Pierre.

O conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Ricardo Coimbra, afirma que é interessante que as pessoas que têm interesse em investir na renda variável busquem um assessoramento de profissionais certificados ou de empresas que ofereçam esse serviço.

"Você precisa procurar analistas que compreendam os fundamentos da empresa, que estudem tanto o mercado onde a empresa está inserida quanto a própria estrutura da companhia", disse.

Ricardo também destacou os mecanismos de segurança da B3 e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), onde há diversos segmentos e critérios. O mais comum e rigoroso deles é o Novo Mercado, o qual estabeleceu um padrão de governança corporativa desde o ano 2000, se tornando o padrão de transparência exigido pelos investidores.

As cearenses M. Dias Branco, Pague Menos, Hapvida, Grendene, Brisanet e Aeris Energy estão listadas no Novo Mercado. "A listagem nesse segmento especial implica a adoção de um conjunto de regras societárias que ampliam os direitos dos acionistas, além da divulgação de políticas e existência de estruturas de fiscalização e controle", segundo a B3.

Tira-dúvidas sobre o mercado de capitais e investimentos

O que é o mercado de capitais?

O mercado de capitais é um ambiente onde as instituições e os investidores negociam ações ou títulos de dívida. É uma fonte alternativa aos financiamentos já conhecidos, pois conecta
as empresas que precisam de dinheiro diretamente com os investidores, conforme a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O que são as ações da bolsa?

"As ações são o principal ativo de renda variável que pode ser emitido por uma empresa. Nessa modalidade, os investidores se tornam sócios da empresa e, portanto, não há necessidade de pagar remunerações ou de devolver o valor pago na aquisição, uma vez que esses valores mobiliários não possuem data de vencimento", segundo
a Anbima.

O que é a B3?

A Brasil, Bolsa, Balcão (B3) é a bolsa de valores do Brasil. No local, são negociadas as ações das empresas de capital aberto, além de outros ativos financeiros, como fundos imobiliários e derivativos, conforme informações do seu site.

O que é o Ibovespa?

Criado em 1968, o Índice Bovespa (Ibovespa) é o principal indicador de desempenho das ações negociadas na bolsa de valores brasileira e reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro, de acordo com a B3.

O que é a CVM?

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda. Foi criada para fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil, segundo comunicado em seu site.

O que é renda variável e renda fixa?

A renda variável inclui investimentos cujo retorno é incerto, a depender das oscilações do mercado, como ações e alguns fundos. Já a renda fixa oferece retornos mais fáceis de medir, com regras definidas no momento da aplicação, como títulos e certificados.

Como investir na bolsa?

É preciso abrir uma conta em uma corretora de investimentos regularizada, transferir o dinheiro para o local e escolher as ações de seu interesse. A B3 disponibiliza cursos gratuitos em seu site para ensinar os investidores a darem o primeiro passo na bolsa (www.edu.b3.com.br).

Qualquer pessoa pode investir na B3?

Sim, é preciso de um Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) válido. Pessoas menores de 18 anos podem investir individualmente ou em conta conjunta com os responsáveis legais, de acordo com a iniciativa de educação financeira Bora Investir, da B3.

Precisa de um valor mínimo para investir?

Não. O valor investido vai depender do preço e da quantidade de ações que a pessoa for comprar.

É cobrado imposto para investir na B3?

Sim, há uma taxa cobrada pela bolsa de valores, uma taxa cobrada pela corretora de valores e o Imposto de Renda no lucro das operações de 15% a 20%, conforme o Bora Investir da B3.

Há risco ao investir em ações?

Sim! Investir na bolsa de valores é um investimento de alto risco e requer estudo. Não há segurança de que o valor investido virá com maior rentabilidade.

Quais as empresas cearenses na B3?

As principais empresas cearenses com ações negociadas na B3 são M. Dias Branco, Pague Menos, Hapvida, Grendene, Brisanet e Aeris Energy.

 

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