A guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, deve causar reflexos na economia, que podem ser sentidos com maior pressão inflacionária, aumento de juros, imprevisibilidade e diminuição do ritmo de comércio internacional, além de taxação direta de exportações brasileiras.
Ontem começou a vigorar a taxação adicional de 10% aplicada a produtos chineses. O país asiático reagiu de imediato, impondo tarifas a produtos americanos, como carvão, gás natural e maquinário agrícola.
Já os vizinhos americanos México e Canadá conseguiram, após conversas com Trump no dia anterior, suspender por 30 dias uma taxação de 25%. Os anúncios foram feitos pela presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
Os três países têm superávit comercial com os Estados Unidos, ou seja, vendem mais do que compram dos americanos. O Brasil vive situação oposta, tem déficit comercial, comprou mais do que vendeu aos norte-americanos. Mesmo nessa situação, o País deve receber reflexos da guerra de tarifas.
De acordo com a economista Lia Valls Pereira, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), a imprevisibilidade criada por Donald Trump é um dos primeiros grandes reflexos que afetarão a economia mundial, incluindo o Brasil.
“É tudo muito incerto, hoje é uma coisa, amanhã pode ser outra”, disse a economista logo após o anúncio da suspensão da taxação de itens mexicanos e antes do alívio aos canadenses. “Comércio internacional é uma coisa que tem planejamento, tem contrato. Se você fica em um cenário totalmente incerto, é ruim para todos”, afirma.
Donald Trump também tem ameaçado a União Europeia (UE) com a taxação de importações norte-americanas. O bloco tem dito que “deve responder com firmeza a qualquer parceiro comercial que imponha tarifas injustas ou arbitrárias sobre produtos do bloco".
“Se todo mundo começar a aumentar a tarifa, o comércio internacional recua, a demanda mundial recua”, afirma Valls. O presidente norte-americano já fez menções ao Brasil como um dos países que também podem ter itens taxados.
Segundo Trump, o Brasil e a América Latina precisam mais dos Estados Unidos do que o inverso. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a relação entre os dois países será pautada pela reciprocidade.
Em entrevista ao Guia Econômico, da rádio O POVO CBN, o consultor de investimentos e economista, Gregório Matias, contudo, “fica difícil para os Estados Unidos fazerem algo contra o Brasil, porque a balança comercial tende a favorecer os Estados Unidos, não a gente”.
“No passado, eles tentaram e depois voltaram atrás. Acabou que, nesse cenário, quem saiu beneficiado fomos nós, que passamos a vender mais soja para a China. Então, para o Brasil isso pode ser positivo”, ponderou.
Matias, que é mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma “que o maior esforço de Trump será focado nos vizinhos, como forma de impor sua autoridade, tentando puxá-los para o seu lado”.
Apesar disso, ele alerta que o Brasil precisa tomar cuidado para não adotar “posturas radicais”, considerando a desvantagem na balança comercial. (Agência Brasil, com Adriano Queiroz)
cOMÉRCIO
Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Os itens mais vendidos para os estadunidenses em 2024 foram petróleo (14% do total exportado), produtos semiacabados de ferro ou aço (8,8%), aeronaves, incluindo partes e equipamentos (6,7%) e café (4,7%)