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Provedores de internet do Pecém se reúnem com governo sobre segurança no Complexo
Economia

Provedores de internet do Pecém se reúnem com governo sobre segurança no Complexo

SSPDS prometeu ações mais enérgicas em encontro que aconteceu ainda na tarde de ontem, 27, quando a região sofreu ataque do Comando Vermelho e teve a internet interrompida
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TENSÃO na região continua, mas, ontem, não foram registradas novas interrupções de internet (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE TENSÃO na região continua, mas, ontem, não foram registradas novas interrupções de internet

Os 15 provedores de internet que atuam na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) estiveram reunidos com representantes da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará ainda na tarde de ontem, 27, logo após o ataque do Comando Vermelho que causou danos à internet de 90% das empresas do Cipp.

No encontro, segundo O POVO apurou, o Estado fez promessas de uma atuação mais eficaz para impedir que o crime organizado tome o controle do serviço na área. Ontem, policiais militares em viaturas e motos agiram na região para impedir que os ataques continuassem gerando prejuízo ao principal polo industrial do Estado.

Já na manhã desta sexta-feira, 28, o governador Elmano de Freitas (PT) entregou 155 novas viaturas para a Polícia Civil, responsável pelas investigações de crimes. Procurada pelo O POVO, a SSPDS confirmou a reunião com as empresas no Pecém, mas disse que as informações sobre as ações não podem ser reveladas para não comprometer o trabalho policial.

A expectativa dos provedores é de que as ameaças e os ataques sejam impedidos ao mesmo tempo que equipes estejam nos locais, inibindo os ataques e assegurando a reconexão dos usuários prejudicados.

Tensão continua no Cipp

Sob a condição de anonimato por temer pela vida dos funcionários, os provedores de internet afirmaram que esperam o cumprimento das promessas feitas na reunião, mas a confiança não é tão grande após a destruição de equipamentos e queima de veículos.

“Eles prometeram ações mais enérgicas, mas não disseram onde, quando e como, e está ficando pior. Eles estão exigindo R$ 50 dos moradores e comerciantes para oferecer uma segurança fictícia”, contou a fonte sobre a prática do Comando Vermelho no Pecém.

 

Nesta sexta-feira, 28, não houve danos na internet e há uma atuação mais presente da delegacia Municipal de São Gonçalo do Amarante, segundo as empresas de internet. No entanto, alguns problemas técnicos causados pela chuva que ocorreu na última noite não puderam ser reparados porque o acesso a algumas áreas representa risco aos técnicos.

Procurado pelo O POVO por ter sido um dos canais de socorro para estas empresas, o Ministério Público do Estado do Ceará informou que “acompanha a situação junto às autoridades policiais e mais informações não podem ser repassadas para não atrapalhar as investigações”.

Entidades nacionais demonstram preocupação

Considerado um dos setores da economia mais promissores, especialmente em estados do Nordeste como o Ceará, o investimento em internet banda larga vem se tornando uma atividade de alto risco devido à atuação do crime organizado.

Entidades que representam tanto os pequenos provedores de internet quanto as grandes operadoras de telecomunicações do País demonstram preocupação com o crescimento dos ataques e as ameaças aos técnicos da empresa e um modus operandi que torna a empresa refém dos criminosos.

“A Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) denuncia, com extrema preocupação, a escalada de ataques criminosos contra provedores regionais de telecomunicações em diversas partes do País. Empresas do setor vem sendo vitimas de destruição de redes, sequestro de infraestrutura e extorsão por parte de facções criminosas, colocando em risco não apenas a prestação de um serviço essencial a sociedade, mas também a segurança de empresários, colaboradores e milhões de usuários”, disse a Abrint em nota ao O POVO.

Hoje, o Ceará é o oitavo maior mercado de banda larga do Brasil e o segundo do Nordeste, com cerca de 1,74 milhão de usuários, segundo os dados da Agência Nacional de Telecomunicações.

Desse total, as pequenas provedoras de internet dominam a maioria das conexões, disputando de igual para igual com as grandes empresas, as quais também se mostram preocupadas.

“O setor de telecomunicações defende uma ação coordenada de segurança publica envolvendo o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, tanto o federal, quanto os estaduais e municipais, e a aprovação de projetos de lei no Congresso Nacional (PL 4872/2024, PL 3780/2023 e PL 5846/2016) que aumentem a punição para esses crimes e ajudem a combater essas ações criminosas”, defende a Conexis, entidade que representa as grandes operadoras de telecomunicações do País, em nota ao O POVO.

A Abrint ainda alerta que “essa situação representa um grave risco a segurança digital da população e compromete a soberania nacional, uma vez que as telecomunicações são um serviço estratégico, fundamental para o funcionamento de hospitais, escolas, delegacias, órgãos governamentais e empresas privadas”.

“A segurança nacional esta sendo diretamente ameaçada com a infiltração do crime organizado em infraestruturas criticas de comunicação”, conclui.

O que diz o Ministério da Justiça?

Procurado pelo O POVO, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) ressaltou que o combate ao crime organizado é uma das prioridades do Governo Federal. "Nesse sentido e como estratégia e medida de enfrentamento ao crime organizado, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), através da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência (Diopi) promove a integração das atividades de inteligência de segurança pública, em consonância com os órgãos de inteligência federais, estaduais e distritais que compõem o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública"

A pasta citou, nesse contexto, o Projeto da Rede de Centros Integrados de Inteligência de Segurança Pública (Rede CIISP), que tem por objetivo promover a integração das agências de inteligência de segurança pública. 

"A Rede CIISP, a qual contempla um Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública em cada uma das cinco regiões do país, é um modelo de produção de conhecimento integrado, sistemático e qualificado de Inteligência de Segurança Pública, formada por Centros Integrados de Inteligência de Segurança Pública Regionais (CIISPRs), dentre eles encontra-se o CIISPR-NE, localizado no estado de Fortaleza/CE que é responsável pela produção de conhecimento das mais variadas temáticas de interesse no âmbito da Segurança Pública dos estados da Região Nordeste. Os referidos Centros são compostos por representantes das forças de segurança de todas as Unidades Federativas, bem como dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin)", reforçou.

O MJSP reforça ainda que, no âmbito da atividade de inteligência a Diopi, por meio da Coordenação de Inteligência, fica responsável pelo recebimento e a difusão de informações sobre o crime organizado em nível nacional, sendo tais informações encaminhadas por meio de produção de conhecimento às agências de inteligência federais e estaduais via canal técnico pertinente, para a adoção de eventuais providências a seu cargo.

Faec emite nota de apoio ao Governo

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) emitiu ontem uma nota se solidarizando com o Governo do Ceará e às Forças de Segurança do Estado, em relação aos recentes atos criminosos praticados por membros de facções, que resultaram na destruição de equipamentos de provedores de internet localizados no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).

"Tais ataques não apenas geram prejuízos diretos às empresas afetadas, mas também comprometem a infraestrutura essencial para o desenvolvimento econômico do Ceará. A escalada da violência promovida por essas facções criminosas ameaça diretamente a população e os setores produtivos, prejudicando o ambiente de negócios e a geração de emprego e renda", informou em nota.

A entidade reafirma ainda seu compromisso com o desenvolvimento sustentável do Estado e se solidariza com as pessoas e as empresas atingidas por esses atos de vandalismo. "Diante desse cenário, é imprescindível a união da Sociedade Civil e dos Poderes Públicos em um esforço conjunto para combater quaisquer ataques que coloquem em risco o crescimento econômico, a segurança e o bem-estar dos cearenses através de ações firmes e coordenadas para que a ordem e a segurança prevaleçam, garantindo um ambiente favorável à geração de empregos e à prosperidade do Ceará."

Como fazer denúncias?

A SSPDS indica que a população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As informações podem ser direcionadas para o numero 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Publica e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que e o numero de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denuncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia ou ainda via "e-denuncia", o site do serviço 181, por meio do endereço eletrônico: https://disquedenuncia181.sspds.ce.gov.br/.

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