"As empresas poderiam vender muito mais, mas não conseguem devido à falta de mão de obra". Essa afirmação é do presidente do Sindicato da Indústria de Confecção de Roupas de Homem e Vestuário (SindRoupas), Paulo Rabelo, que estima que as vendas do setor de confecção poderiam ser ao menos 30% melhores em 2024 caso não houvesse vagas ociosas.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento do setor industrial do Ceará em 2024 ficou atrás apenas de Santa Catarina (7,7%) e Rio Grande do Norte (7,4%).
Um levantamento feito pelo núcleo de inteligência da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) com dados do IBGE mostra que, setorialmente, no acumulado de janeiro a dezembro do ano passado, foram destaques as produções: têxtil (29,3%), metal (28,4%), confecção (20,1%).
Apesar da alta, parte do empresariado está preocupado com a falta de renovação das equipes. Mesmo com diálogo junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e outras instituições formadoras de profissionais, há muitos casos de turmas que nem chegam a fechar.
Para Paulo, essa é uma questão geracional. "Esse problema de escassez de mão de obra não é exclusivo do Brasil, é um fenômeno mundial. A nova geração tem maior acesso à educação e se interessa mais por tecnologia, o que torna profissões braçais, como costureiro e cortador, menos atrativas. É um movimento geracional que busca empregos menos técnicos e mais flexíveis", aponta.
Segundo estimativa do Sindroupas-CE, entre 15% e 20% das vagas nas empresas de confecção estão desocupadas. Paulo conta que, recentemente, recebeu o relato de um empresário que anunciou vagas para costureiras em um carro de som.
Uma das formas que indústrias cearenses têm encontrado solução é abrir fábricas em colônias penais. Atualmente, existem 14 fábricas de confecção em presídios do Ceará.
Daniel Gomes, presidente do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas no Estado do Ceará (Sindconfecções), destaca que o Estado foi um case de sucesso no Brasil, crescendo acima da média nacional e, portanto, tem grande vocação para a indústria da moda.
Para ele, o passo a ser dado para reverter a situação envolve a valorização dos profissionais do setor, incluindo melhores salários, o que entende como fator que fará a diferença.
"Precisamos valorizar os profissionais da moda e da costura para terem prazer em exercer suas funções. Além disso, o ensino precisa ser reformulado para mostrar às pessoas a importância da profissionalização e do aprofundamento no conhecimento para poderem se desenvolver", pontua.
Brígida Frazão, diretora financeira da Pena Indústria e Comércio, revela que o caminho para as empresas tem sido investir continuamente em inovação do maquinário, para depender de menos pessoas trabalhando.
No entanto, ela avalia que esse modelo não é sustentável, pois a operação não tem como ser 100% automatizada.
"Estamos sentindo essa dificuldade e precisamos agir. Por isso, estamos ouvindo palestras, buscando apoio do sindicato, tentando encontrar soluções. Porque eu realmente não faço ideia de como estaremos daqui a cinco ou dez anos. Vamos continuar produzindo? Sim. Mas a que preço? A que custo?", diz.
Eduardo Christian, fundador da Costurando Sucesso e conhecido como o "Embaixador das Confecções", destacou a questão da empregabilidade no setor durante o Nordeste Fashion Fígital, evento realizado em Fortaleza nessa semana voltado a donos e gestores de confecções e marcas de moda.
Falando sobre como contratar e reter mão de obra qualificada, destaca o setor de moda precisa ser analisado com mais atenção, pois seu impacto é grande na sociedade.
Entre os exemplos que cita está que é na confecção que muitos jovens encontram seus primeiros empregos formais, além da grande presença feminina, que representa cerca de 80% dos profissionais ocupados no mercado formal.
Para ele, fortalecer o setor de confecção impulsiona esses segmentos da sociedade. "Além disso, fortalecer a indústria da confecção também impacta o turismo. O turismo de compras atrai compradores de outros estados para o Ceará. Se potencializarmos esse setor, o crescimento econômico será muito maior, beneficiando não apenas a indústria, mas também hotéis, restaurantes e outros segmentos."
E completa: "No Centro de Fortaleza, por exemplo, recebemos semanalmente muitos turistas que vêm de outros estados apenas para comprar. Isso mostra o impacto econômico e social do setor, movimentando toda uma cadeia produtiva".
71,5% das empresas de confecção em Fortaleza atuam na informalidade
Desafio para o desenvolvimento do setor de confecção no Ceará é a informalidade. De acordo com dados levantados pelo Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), o patamar de empresas informais em Fortaleza, principal polo produtor do setor, chega a 71,5%. Existem 7,5 mil empresas de confecção mapeadas no Estado, conforme o estudo, realizado entre os anos de 2022 e 2023.
O Sindroupas-CE lamenta que esses empreendimentos enfrentem maiores dificuldades em momentos de economia adversa, como agora, em que a taxa básica de juros (Selic) está em alta, dificultando a obtenção de crédito barato. "Empresas informais não têm acesso a incentivos governamentais e a programas do Sebrae, pois atuam sem CNPJ. Isso dificulta a profissionalização do setor e a implementação de políticas públicas eficazes."
Para tentar reverter o quadro, Paulo destaca a importância da interiorização dos negócios. E também a parceria construída com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Fiec e Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio), em torno do projeto "Ceará na Moda 2040".
Esse projeto visa estruturar estratégias de longo prazo para reduzir a informalidade no setor e aumentar a capacitação profissional. "A fiscalização e a punição não têm resolvido o problema da informalidade. Precisamos de soluções que incentivem a formalização de forma mais amigável, oferecendo benefícios reais para os trabalhadores e as empresas", afirma.
Shopping
O Shopping Popular Estação Fashion será inaugurado no mês de outubro, a tempo do chamado Natal dos atacadistas. Ele fica localizado em frente à Praça da Estação e o investimento para a construção é de R$ 55 milhões