A cearense Aeris, a única fabricante brasileira de pás eólicas em operação, fechou 2024 com um prejuízo líquido de R$ 934,1 milhões. O número é 776,5% maior que o registrado em 2023, de R$ 106,6 milhões.
O resultado foi impactado em R$ 751 milhões pela redução no valor recuperável de ativos (impairment, no jargão do mercado), que resulta da descontinuidade de três contratos com as empresas Siemens Gamesa, Nordex e WEG.
Deste total, R$ 505,4 milhões referem-se a estoques, R$ 213,2 milhões a provisões para perdas, e outros R$ 32,3 milhões foram considerados intangíveis.
Esta última cifra decorre do phase out de um projeto encerrado (interrupção de projeto), que inicialmente previa a entrega de 1.168 pás. Foram entregues, porém, apenas 440.
"Apesar dos nossos maiores esforços até final de 2024, na tentativa de manter os clientes existentes, três deles optaram por não renovar contrato e um decidiu reduzir a demanda. Como resultado tivemos o descomissionamento de quatro linhas maduras e a desativação de três. Este cenário levou-nos a realizar ajustes no balanço Impairment, impactando os resultados da Companhia", afirmou o presidente da Aeris,Alexandre Negrão.
Em mensagem direcionada ao mercado, ele explica que, desde 2022, houve uma redução significativa nos contratos, especialmente no mercado livre, que hoje representam mais de 90% das contratações. Isso impactou a produção industrial, já que, sem novos contratos, os geradores não instalam parques reduzindo a demanda da indústria de pás.
"Após o apagão em agosto de 2023, se intensificou ainda mais, o que reacendeu durante o ano de 2024 o debate sobre o "curtailment" (despacho reduzido ou corte de geração) de fontes renováveis, principalmente da energia eólica", afirmou o presidente, reforçando ainda que a combinação com uma taxa de juros elevada gerou incertezas que levaram à suspensão e encerramento de alguns projetos.
De acordo com o balanço, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, da sigla em inglês) apresentou queda de 58% quando comparado a 2023, caindo de R$ 330,3 milhões para R$ 138,8 milhões. A receita operacional líquida somou R$ 1,52 bilhão. Redução de 46,5%.
A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, fechou o último trimestre de 2024 em 8,6 vezes. Em igual período de 2023, era de 1,9 vez.
Impactado pela descontinuação de parte dos contratos, o mercado doméstico respondeu por 31,3% da receita no último trimestre de 2024. De julho a setembro, o porcentual era de 81,2%. Já as pás para exportação aumentaram sua participação para 31,8%, frente a 1,4% no trimestre imediatamente anterior. Os serviços também aumentaram a participação: de 15,7% no terceiro trimestre para 26% no quarto trimestre.
Em relação às linhas de produção, o ano foi finalizado com um portfólio de sete linhas das quais cinco são maduras.
Para este ano, a empresa sinaliza que parte da sua estratégia está centrada na renegociação de dívidas, com prazos maiores e revisão de termos financeiros, com expectativa de conclusão para o final do primeiro trimestre.
Além da expansão da unidade de serviços, reforçando a presença nos EUA e na América Latina, aumentando a oferta de serviços especializados para clientes internacionais e em uma atuação mais próxima junto ao Governo e entidades do setor para fortalecimento do mercado de energia eólica. (Com Agência Estado)