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Setor de calçados no Ceará tem potencial de crescer com tarifaço de Trump
Economia

Setor de calçados no Ceará tem potencial de crescer com tarifaço de Trump

Como segundo maior produtor brasileiro, Estado pode ser beneficiado com as taxas mais altas impostas aos concorrentes da China, Vietnã e Indonésia
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CEARÁ é o segundo maior produtor de calçados do País  (Foto: Samuel Pimentel)
Foto: Samuel Pimentel CEARÁ é o segundo maior produtor de calçados do País

Segundo maior produtor brasileiro de calçados, o Ceará pode ser beneficiado com a imposição de taxas mais altas para países concorrentes no mercado dos Estados Unidos. A avaliação é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Ainda não se tem clareza se a tarifa universal de 10% aplicada ao Brasil será somada à já existente. Mas, nas contas da entidade, mesmo com o acréscimo, o produto permaneceria competitivo, uma vez que
a tarifa passaria a ser 27,3%, enquanto países como China, Vietnã e Indonésia serão onerados com pelo menos duas vezes mais, de 51,3%, 63,3%, 49,3%, respectivamente.

A indústria calçadista brasileira e cearense tem nos EUA seu principal destino internacional. O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que o produto brasileiro se tornará mais barato em relação aos concorrentes, que atualmente dominam esse mercado - só a China domina 58% da fatia, enquanto o Brasil detém 0,5%.

"O tarifaço deve deixar o preço brasileiro mais competitivo nesse primeiro momento. São tarifas muito mais elevadas do que as aplicadas para o Brasil, o que pode tornar o nosso calçado mais competitivo nos Estados Unidos", pontua.

No primeiro bimestre de 2025, as exportações de calçados brasileiros para os Estados Unidos somaram 1,93 milhão de pares e US$ 37,17 milhões, incremento de 0,6% em volume e queda de 4,5% em dólares em relação ao mesmo ínterim de 2024. Atualmente, 21% de toda a receita gerada pelas exportações nacionais são provenientes dos Estados Unidos.

Dados do Observatório da Indústria do Ceará mostram que, no ano passado, o setor cearense exportou US$ 36,9 milhões para o mercado americano.

Não é só o setor de calçados que recalcula suas ações após o anúncio das taxas de reciprocidade anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao País, ele impôs uma alíquota geral de 10% para todos os produtos, com exceção de taxações específicas - mais altas - impostas em aço e alumínio e em carros importados àquele mercado, por exemplo.

A avaliação no mercado é de que a postura do Brasil deve ser cautelosa neste primeiro momento, visto que o País é um dos menos impactados pelo tarifaço. Em outros países, a taxa pode chegar a 50%

 

O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, mesmo no caso mais sensível de impacto à economia brasileira, que foi a taxação de 25% sobre aço e alumínio, ele acredita que há espaço para negociação.

Ele ressalta que o governo precisa avaliar com cautela os desdobramentos das taxas aplicadas, já que uma retaliação mais dura vinda dos EUA poderia gerar efeitos danosos ao Brasil. "É essencial uma análise aprofundada para compreender se o impacto será negativo ou se pode, de alguma forma, gerar vantagens estratégicas em determinados setores", disse.

Rodrigo Leite, doutor em Administração e ex-consultor do Banco Mundial, entende que a economia brasileira também é bastante protecionista, tanto que impôs ao aço da China sobretaxas de 25%, além da "taxa das blusinhas".

Para ele, o melhor neste momento é buscar negociar e encontrar os melhores termos e "fazer o dever de casa", como liberalizar mais o comércio e aumentar competitividade interna, reduzindo o custo Brasil. "Enquanto o Brasil for muito protecionista e ineficiente, a gente sempre vai estar mais preocupado em se defender do que em se abrir."

Por outro lado, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), declarou que tomará "todas as medidas cabíveis", citando a aprovação do PL da Reciprocidade.

 

“Defendemos o multilateralismo e o livre comércio. E responderemos a qualquer tentativa de impor
um protecionismo que não cabe mais hoje no mundo.”

O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o Brasil está atento aos efeitos das medidas tarifárias. “Nós ligamos aqui o alerta, porque pode ter desvio de comércio do mundo para desaguar aqui no Brasil. Então nós vamos monitorar qualquer alteração brusca de comércio exterior.”

A busca pela negociação, no entanto, ainda não obteve resultado, pelo menos no caso da sobretaxa de 25% sobre o aço e alumínio. Por meio de nota, o Instituto Aço Brasil (IAB) informou que segue em busca de acordo para amenizar os efeitos, pelo menos aos termos anteriores, com mecanismo de cota, mas ainda sem previsão de resposta.

Segundo a entidade, as usinas estadunidenses demandaram quase 6 milhões de toneladas de placas de aço em 2024, das quais 3,4 milhões de toneladas foram provenientes do Brasil. (Com agências)

EUA vão taxar importações brasileiras em 10% como parte da nova política comercial de Trump

 

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Bolsas caem, dólar despenca e governos anunciam retaliação um dia após taxas de Trump

A cotação do dólar no Brasil fechou o dia em forte queda, de 1,23%, cotado a R$ 5,628, com mínima de R$ 5,59 ao longo dessa quinta-feira, 3. Já o Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou em estabilidade aos 131,1 mil pontos (-0,04% no dia).

Dia seguinte às sanções, as bolsas asiáticas e do Oriente Médio foram as mais "nervosas" com as sobretaxas. Nos Estados Unidos, as perdas alcançaram os bilhões de dólares, com a queda dos índices Nasdaq (-5,97%) e S&P 500 (-4,84%). Os investidores evitaram empresas dependentes das importações asiáticas, como o grupo têxtil GAP (-20,38%) e a gigante tecnológica Apple (-9,25%).

Trump minimizou o colapso: "Os mercados terão um boom" e "o país terá um boom", previu.

Por enquanto, nenhum país aumentou a tensão: Pequim optou por "manter a comunicação" com Washington, mas pediu que os impostos sejam "imediatamente" anulados e anunciou "contramedidas".

Para o Brasil, a "calmaria" do mercado, com queda do dólar a manutenção do patamar o Ibovespa, dão um primeiro sinal. Para o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Wandemberg Almeida, a reação do mercado financeiro brasileiro evidencia que o olhar ficou para "o copo meio cheio".

"O Trump já deixou claro que quer proteger a economia americana, mas ele também sabe quem são os verdadeiros parceiros dos Estados Unidos. Quando olhamos para essa tarifa de 10%, percebemos uma oportunidade de ampliar nossos mercados exportadores", avalia. (Com agências)

 

OMC

A Organização Mundial do Comércio (OMC) manifestou preocupação com as medidas tarifárias dos EUA, alertando que as decisões podem reduzir o comércio global em até 1% em 2025

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