A situação financeira dos bares e restaurantes se mantém deteriorada e 55% das operações não têm lucro há pelo menos um ano, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Ceará (Abrasel-CE). O estudo evidencia que essa proporção já chegou a ser de 70%, mas o atual cenário de inflação e juros altos preocupa.
Segundo o presidente da Abrasel-CE, Taiene Righetto, a maioria dos negócios do setor de alimentação fora do lar no Estado tem operado no “zero a zero” ou até no prejuízo. Isso gera preocupação pelo aumento do número de falências.
Os dados foram apresentados em reunião da entidade com os associados. No último trimestre, a proporção de falências entre as empresas que fazem parte da Abrasel chegou a 15%, similar ao observado em 2024.
Taiene diz ainda que o nível de endividamento dos negócios está em alta, com mais de 60% do setor em dívidas com impostos municipais, estaduais e federais, além de fornecedores.
“Atualmente, 60% do setor está endividado, pagando dívidas antigas, e 55% não tem lucro. Há pelo menos um ano, as pesquisas vêm comprovando que esses negócios não conseguem gerar lucro. Mesmo quando a operação vai bem, eles ainda pagam contas do passado, o que acaba comprometendo os ganhos atuais. Isso tem sido um problema recorrente”, aponta.
O presidente da Abrasel-CE revela que acontece um fenômeno de mercado em que, mesmo com cenário adverso, aumenta o número de operações chegando à praça, o que avalia que “mascara” a realidade do setor ao público.
“Porém, a média de duração desses estabelecimentos no Brasil — e o Ceará segue essa média — é de somente 3,9 anos. Isso é muito pouco tempo, considerando que o retorno do investimento ocorre em cerca de 10 anos”, pontua.
Dentro desse contexto, a Abrasel nacional mobilizou seus braços estaduais destacando que algumas medidas tomadas pelo Governo Federal afetaram diretamente a operação do setor, como o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e o da desoneração da folha de pagamentos.
Conforme anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o Perse chegou ao fim em março. Ele foi criado em 2021 como forma de auxílio às empresas do setor de eventos, turismo e hotelaria no pós-pandemia, com isenção de tributos federais para empresas.
A medida inicialmente beneficiou 88 setores econômicos, o que foi posteriormente reduzido para 44. O Governo argumenta não haver possibilidade de renovação do Perse por falta de orçamento, quando ao fim do mês passado se atingiu o teto de R$ 15 bilhões em renúncias fiscais.
No que se refere à pauta da desoneração, o setor de alimentação fora do lar defende um movimento que também envolva a introdução do trabalho intermitente no setor com a diminuição da escala 6x1.
A Abrasel, por meio de seu Plano de Restauração do Setor de Bares e Restaurantes, feito a partir de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), quer desonerar o primeiro salário no setor. Calcula-se impacto de menos de R$ 1 bilhão aos cofres da União e em mais de 4 milhões de trabalhadores.
Já a busca por uma maior flexibilização do modelo de trabalho adotado no setor é o ideal na expansão do intermitente. Reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como legal, em 2024, este sistema permitiria com que o setor contratasse mais, na visão da entidade.
Segundo Taiene, no Ceará, os empresários têm encontrado dificuldades para encontrar profissionais, que se recusam a aceitar vagas em escala 6x1, e espera que o intermitente e a flexibilidade possível atraia os mais jovens.
Perfil do setor de bares e restaurantes
Operações sem lucro há pelo menos 1 ano
2021 a 2022: 70%
Desde 2023: 55%
Proporção de operações que estão endividadas: 60%
Duração média das operações: 3,9 anos
PERFIL DO SETOR
4,79 milhões possuem carteira assinada
57% das contratações formais de 2024 foi de jovens de 18 a 24 anos
34 anos é a idade média de quem trabalha no setor
55% dos trabalhadores formais são mulheres
63% são pretos
ou pardos
Fonte: Abrasel/FGV