As bolsas de valores pelo mundo fecharam ontem em queda, após mais um dia de forte volatilidade, diante do temor de que a guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos na semana passada desencadeie uma recessão econômica em larga escala.
O dólar avançou com força pelo segundo pregão consecutivo no mercado local e fechou acima de R$ 5,90 pela primeira vez desde fins de fevereiro.
Ontem, os mercados asiáticos e europeus foram especialmente afetados. Hong Kong, por exemplo, despencou mais de 13% - em sua pior sessão desde a crise asiática de 1997 -, enquanto a bolsa de Paris, em queda de 4,78%, também amargou sua sessão mais sombria em três anos.
No Brasil, o Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, emendou o terceiro pregão com queda consecutiva. Desta vez, de 1,31%, aos 125.588 09 pontos, após grande volatilidade: mínima aos 123.876,24 pontos (-2,66%) e máxima aos 128.410,57 pontos ( 0,91%). O giro financeiro foi acima da média, a R$ 43,7 bilhões.
Segunda ação com mais peso na carteira teórica, a Petrobras fechou em queda de 5,57% (ON) e 3,97% (PN). A estatal perdeu R$ 23 bilhões em valor de mercado com a queda do barril de petróleo.
Em Nova York, a queda foi mais amena. O Dow Jones caiu 0,91%, aos 37.965,60 pontos; o S&P 500 cedeu 0,23%, aos 5.062,25 pontos; e o Nasdaq destoou com alta de 0,10%, aos 15.603,26 pontos.
O pregão volátil foi marcado pela promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump de impor uma tarifa adicional de 50% sobre a China, caso Pequim não reverta o aumento de 34% sobre as importações norte-americanas - uma retaliação às tarifas anunciadas antes pela Casa Branca.
A ameaça de Trump provocou uma piora generalizada dos ativos de risco, o que levou o dólar a registrar máxima a R$ 5,9324. Houve uma diminuição dos ganhos da moeda nas últimas horas do pregão, fazendo com que a cotação encerrasse o dia em R$ 5,9106, maior valor desde 28 de fevereiro (R$ 5,9163).
No fim da tarde, o presidente dos EUA jogou panos quentes ao dizer que tem uma ótima relação com o líder chinês Xi Jinping. Pouco antes, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, acusou os Estados Unidos de unilateralismo, protecionismo e intimidação econômica com tarifas.
Já a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, propôs tarifas de retaliação sobre uma série de produtos dos Estados Unidos, em resposta à taxação do aço e do alumínio.
A comissão elaborou uma lista robusta de contramedidas, ao mesmo tempo em que buscou equilibrar o fardo entre os estados-membros. A lista final e os níveis de tarifas serão colocados em votação no dia 9 de abril, com a lista final adotada em 15 de abril.
Para o economista Paulo Henrique Arruda, membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), compreender os efeitos que a guerra de tarifas podem gerar é a grande questão do momento no mercado.
Ele explica que, caso esse cenário persista por muito tempo, as previsões pessimistas podem se tornar factíveis, com elevação da inflação na cadeia global, o que pode afetar de maneira geral a economia e causar recessão internacional. "O que temos observado nos últimos dias, desde o anúncio das tarifas, é uma repercussão negativa porque outros mercados não aceitam bem esse tipo de medida. Nos últimos seis dias, por exemplo, houve uma perda de quase 10 trilhões de dólares nas bolsas. Isso se deve à incerteza crescente. O risco aumentou, e os agentes econômicos costumam evitar riscos", aponta.
Outro fator destacado é a própria disputa entre EUA e China, com a imposição de tarifas e retaliações. Paulo Henrique entende que nenhum mercado deve ganhar com isso, mas acabam afetando os países emergentes que mantêm relações comerciais com ambos, como o Brasil.
O diretor de Pesquisa Econômica do Pine, Cristiano Oliveira, afirma que que alguns indicadores já mostram aumento da probabilidade de retração da atividade nos EUA. "A preocupação com uma recessão tende a se intensificar nos próximos meses, à medida que os efeitos defasados dos choques recentes comecem a se refletir mais diretamente na economia real." (Samuel Pimentel, com agências)
Dólar
O dólar acumula valorização de 3,60% nos cinco primeiros pregões de abril. As perdas no ano, que chegaram a superar 8%, agora estão em 4,36%