Fortaleza ganha a partir desta quarta-feira, 16, um voo semanal para Caiena (Guiana Francesa). Ainda ontem, terça-feira, 15, a aeronave de lá para cá chegou ao Aeroporto Internacional Pinto Martins com 98% de ocupação.
Em entrevista exclusiva à coluna, Manuel Flahaut, diretor-geral do Grupo Air France-KLM na América do Sul, frisou que a operação que ia até outubro foi estendida até o fim do ano, devido à resposta de passageiros, e que têm o interesse de compra de combustível sustentável para aviação ( SAF O SAF é produzido a partir de fontes renováveis, como resíduos agrícolas, óleos vegetais, biomassa e gases residuais ) quando o Ceará produzi-lo.
Atualmente, o executivo divulga que o Grupo está entre os maiores compradores de SAF, adquirindo 17% do produto mundialmente, e possuem a meta de adicionar 2% do combustível nos voos da Europa.
Dentre as formas de estímulo, ele detalha a pegada de carbono da empresa nas aeronaves, em que 27% dos equipamentos já são de última geração que emitem 20% menos de dióxido de carbono.
Até 2028, o objetivo é que cheguem a 64% destas aeronaves de nova geração. “São mais de 3 bilhões de euros de investimento por ano para ter nova frota.”
Questionado de que outras formas pode estimular a produção de SAF no Ceará, que ainda caminha para ter esse mercado, ele diz que teve conversas com a Fraport (administradora do Aeroporto de Fortaleza) e o Governo do Estado para pensar em como ter essa distribuição no terminal.
Além de ter como compromisso do Grupo apoiar e colocar SAF nos aviões, por meio de memorando de entendimento e contrato offtake, ou seja, de compra mínima futura garantida. “Estamos dispostos a comprar”, reforça Flahaut.
O voo AF608, que começou na terça-feira, 15 de abril, partirá de Caiena às 13h05min, chegando a Fortaleza às 16h, às terças-feiras.
Já o AF609 sairá de Fortaleza às 15h, chegando a Caiena às 17h50min, às quartas-feiras.
A operação permite conexões para Fort-de-France (Martinica) e Pointe-à-Pitre (Guadalupe), que fazem parte do Caribe francês.
Os voos serão operados com o Airbus A320, que possui 170 assentos, sendo 8 na classe Business e 162 na Economy.
Esse novo trajeto marca a segunda rota da aérea partindo do Brasil para Caiena, após a inauguração do voo de Belém (PA), em 2023. É também um reforço para o turismo de lazer e negócios de e para o Ceará.
Flahaut detalha que a demanda maior é dos estrangeiros vindo ao Ceará. Sobre ampliar a frequência do voo semanal, o executivo diz que a empresa avalia a sustentabilidade da operação, mas cita como boa notícia a decisão que tomaram de antecipar o início do voo e de estender a operação que ia até outubro para até o fim do ano.
Em relação ao transporte de cargas, ele detalha que ainda não começou, mas que estudam a capacidade e os tipos de mercadorias a transportar na aeronave, acrescentando que vão operar com o modelo, ainda em avaliação da forma.
Atualmente, o diretor-geral do Grupo Air France-KLM na América do Sul detalha que o voo Fortaleza-Paris já atua com cargas, sobretudo de mercadorias frescas, como de frutas.
Na inauguração do voo Caiena-Fortaleza pela companhia, os passageiros foram recebidos também pelo cônsul geral da França, Serge Gas.
No avião estava o senador francês George Patient, o cônsul geral do Brasil em Caiena, Demétrio Bueno de Carvalho, e Jean-Luc Lewinski, vice-presidente da Coletividade Territorial da Guiana Francesa.
A embaixada da França no Brasil, inclusive, comemorou: “Uma nova rota que vai fortalecer ainda mais os laços entre França e Brasil, agora em escala regional”.
Uma curiosidade é que o Brasil é o país com maior fronteira terrestre com a França, por meio da Guiana Francesa.
Essa nova rota internacional foi resultado da liderança do nosso governador (do Ceará) Elmano de Freitas (PT) para ampliar nossas conexões e fortalecer o Ceará como um dos principais destinos turísticos do Brasil”, acrescentou Eduardo Bismarck, secretário do Turismo.
Ele detalha, que a ligação facilita o intercâmbio cultural e comercial entre o Estado, a Guiana Francesa e os mercados europeus.
“Uma conquista importante para o turismo cearense, que se conecta ainda mais ao mundo. Excelente oportunidade para aumentar o fluxo de turistas internacionais e estreitar os laços comerciais e culturais entre o Ceará, a Guiana Francesa e os mercados europeus", destacou o secretário.
Além dos turistas, o voo inaugural trouxe uma comitiva de jornalistas e influenciadores, e 20 operadores de agências, que participarão de um roteiro turístico na capital cearense.
Para a Setur, a expectativa é que a nova rota contribua para o aumento do fluxo de turistas internacionais para o Ceará, consolidando o estado como um destino turístico de destaque no Brasil.
No Estado, a promessa de produção de SAF vem da Refinaria Pecém, da Noxis Energy.
O empreendimento tem previsão de processar 100 mil barris de petróleo por dia para produzir na sua fase inicial: gasolina A, diesel S-10 e GLP para abastecer os consumidores do Estado.
Mas também é levantada a oferta de bunker, combustível para navio com baixíssimo teor de enxofre, além da possibilidade do uso de hidrogênio verde fabricado no hub Complexo Industrial e Portuário do Pecém para produzir o SAF.
horário
O voo AF608 parte de Caiena às 13h05min, chegando a Fortaleza às 16 horas do mesmo dia. Já o AF609 sai de Fortaleza às 15 horas, às quartas-feiras, com chegada às 17h50min em Caiena
Parcerias de companhias brasileiras e internacionais potencializa conexões, diz diretor da Fraport Brasil sobre Fortaleza
O mercado internacional de aviação passa por uma profunda reconfiguração após anos de pandemia. No Aeroporto de Fortaleza, as parcerias de Gol com Air France/KLM e da Latam com a Iberia fazem parte desse processo, avalia o gerente de Aviação Comercial da Fraport Brasil, Pedro Navega.
Ao O POVO, ele destaca que mantém contatos constantes com as empresas aéreas e, em conjunto com as secretarias estadual e municipal de Turismo e a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), tem reforçado a participação em feiras internacionais e encontros com parceiros estratégicos.
Entre os desafios do mercado no processo de ampliação dos voos está a escassez da oferta de aeronaves, o que faz com que as companhias sejam mais seletivas no anúncio de expansões de rotas.
Em Fortaleza, o diferencial tem sido na infraestrutura, destaca o executivo. Desde o fim das obras de ampliação, o equipamento tem sido bastante elogiado, especialmente pelas companhias estrangeiras.
Para atração de novos voos, as negociações envolvem ofertas de incentivos, estaduais e do próprio aeroporto. "Temos um programa de incentivos publicado e sempre buscamos adaptá-lo ou criar novos, conforme o interesse das companhias", diz Pedro.
Sobre o nível de parcerias com as companhias, ele lembra que a pandemia foi um divisor de águas temporal, já que, antes dela, as parceiras Gol e Air France/KLM dominavam as conexões.
Atualmente, apesar da Air France continuar expandindo sua operação internacional a partir de Fortaleza, nos voos domésticos, a Gol diminuiu sua operação em Fortaleza, ao passo em que a Latam ampliou - inclusive para três voos internacionais diretos de Fortaleza. A partir disso, a Iberia, parceira de conexões da empresa, anunciou voo direto entre Fortaleza e Madri a partir de janeiro de 2026.
"Sim, houve uma reconfiguração. A pandemia bagunçou o setor, várias companhias trocaram de frota. A Gol ainda tem uma presença importante, mas a Latam é hoje nossa grande parceira."
E completa: "A gente sempre olha para as oportunidades, trabalha com as companhias que estão investindo e busca atrair outras também."
Bismarck Maia, titular da Secretaria do Turismo do Estado (Setur-CE), avalia que a confirmação de voos internacionais como o da Air France com destino a Caiena (Guiana Francesa), além de movimentar o turismo, potencializa o turismo comercial.
No voo inaugural, que chegou à Capital nessa terça-feira, 15, veio lotado com turistas com malas vazias, em busca de aproveitar os polos de compras populares de Fortaleza.
Bismarck pontua que essa conexão aeroportuária é importante para o desenvolvimento econômico do Estado.
"Isso porque o Caribe, que em sua maioria é formado por países insulares — ou seja, ilhas — não tem muita capacidade fabril. Muitos desses países enxergam o Ceará como um destino de compras, tanto para revenda em seus países de origem quanto para consumo próprio", pontua.