O custo ainda pouco competitivo e a falta de uma regulamentação definitiva do marco legal de Hidrogênio Verde (H2V) ainda são gargalos para a produção do gás no Ceará, conforme os especialistas ouvidos pelo O POVO na Intersolar Summit Brasil Nordeste. O evento discute as principais tendências para o setor de energias renováveis.
Para Camila Ramos, CEO e fundadora da CELA (Clean Energy Latin American), houve um avanço nos últimos anos, porém, o mercado ainda enfrenta muitos desafios para as empresas tomarem a decisão final de investimento. Um deles é o fato do hidrogênio verde ainda não ser tão competitivo quanto o cinza (alta emissão de carbono).
"Então, o consumidor final decidir comprar esse produto — talvez mais caro, na maioria das vezes, do que o hidrogênio cinza — é um grande desafio. Hoje, a questão é esses projetos encontrarem um comprador — o que chamamos de off-taker — que vá comprar esse produto em um contrato de longo prazo e com preço fixo."
Atualmente, possuem projetos mais adiantados no Nordeste empresas como Casa dos Ventos, Fortescue e Voltalia (no Ceará), Solatio (no Piauí) e European Energy (em Pernambuco), as quais preveem tomar decisões finais de investimento até 2025. Em Minas Gerais, a Atlas Agro também se encontra nessa fase decisiva.
Conforme explica a especialista, é necessário ter um comprador para o projeto ser financiável. "Ele (o produtor) precisa ter um contrato de compra e venda desse produto, com preço e prazo definidos. Então, estamos agora na fase de atualização, de negociação com esses compradores finais."
Assim, Camila Ramos salienta que o mercado tem duas soluções: conseguir incentivos que serão regulamentados com o marco legal ou baratear o custo do Hidrogênio Verde.
Já Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), avalia que os investidores aguardam a definição do projeto para tomarem suas decisões.
"Essa regulamentação não saiu. Enquanto não tiver absolutamente regulamentado, como você vai ter o incentivo do Pis/Cofins? Como vai ter o incentivo do programa de baixo carbono? Enquanto isso não tiver definido, os investidores ficam aguardando essa regulamentação."
No entanto, afirma que o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Fazenda estão trabalhando em conjunto para finalizar essa regulamentação. Além disso, pontua que a infraestrutura do setor elétrico ainda preocupa.
"Com relação à capacidade portuária, às instalações, essas aí já têm todos os investimentos contratados, que não são preocupações. Agora, a infraestrutura elétrica realmente é uma preocupação. Porque projetos de ampliação de rede, de sistema de transmissão, demandam muito tempo para se viabilizarem."