Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem aumento de 0,5 ponto porcentual para a Selic, que chegou a 14,75%. É o maior patamar nominal desde julho de 2006 (quando também estava em 14,75%), ainda no primeiro governo Lula.
Desde setembro, o BC já aumentou a taxa básica de juros em 4,25 pontos, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos - perdendo apenas para os 11,75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia.
Em comunicado, o colegiado deixou de dar indicações sobre a evolução futura da taxa com a justificativa de "elevada incerteza", principalmente por conta dos efeitos do tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
"Para a próxima reunião (em junho), o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste (dos juros) e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", diz o texto.
Na sequência, o Copom fala em "vigilância". "O comitê se manterá vigilante, e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante."
Ao subir a taxa em 0,5 ponto, o Copom seguiu a sinalização que havia sido dada em março, de que o juro seria elevado num ritmo menor do que o 1 ponto escolhido pelo colegiado nas reuniões anteriores.
Sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado à chefia do BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já foram três aumentos.
O alvo central perseguido pelo BC é de uma inflação de 3%, com margem de tolerância de até 4,5% (teto). Mas as projeções do mercado continuam a indicar números bem diferentes. Segundo o boletim Focus, a estimativa para o IPCA neste ano está em 5,5%.
Ainda assim, pela primeira vez desde setembro de 2024 o Copom deixou de dizer que existe uma "assimetria de alta" no seu "balanço de riscos" para a inflação - ou seja, que haveria mais motivos para esperar aumento da inflação, em vez de queda.
Isso fez com que alguns analistas passassem a considerar a possibilidade de o BC ter encerrado ontem o atual ciclo de aperto monetário. "Está com uma linguagem muito próxima de fim de ciclo. Eu acho que o mercado vai interpretar dessa forma", afirmou Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.
Para o estrategista macro do BTG Pactual Portfolio Solutions, Alvaro Frasson, "parece que há um desejo muito grande (do BC) de parar com o ciclo de altas".
O aumento da taxa Selic ajuda a conter a inflação. Isso porque juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas maiores dificultam o crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o Banco Central reduziu para 1,9% a projeção de crescimento para a economia em 2025.(Agência Estado)
Entidades criticam aumento dos juros básicos da economia
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de elevar a Taxa Selic para o maior nível em 19 anos recebeu críticas do setor produtivo. Entidades da indústria, do comércio e as centrais sindicais condenaram a decisão, que classificaram de exagerada e de ameaça ao emprego e à renda.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) comentou que a elevação em 0,5 ponto percentual da Selic "impõe um fardo ainda mais pesado à economia". Segundo a entidade, a inflação está desacelerando, e a possibilidade de recessão nos Estados Unidos por causa da política comercial do governo de Donald Trump deve fazer o dólar cair nos próximos meses.
"Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024", afirmou no comunicado o presidente da CNI, Ricardo Alban. Ele pede uma postura mais prudente do Copom.
Para a Associação Paulista de Supermercados, a continuidade do ciclo de alta da Selic é equivocada. "Com a taxa Selic nos patamares atuais, o Brasil favorece o rentismo e a especulação, em detrimento da geração de empregos e do investimento produtivo",
Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a elevação dos juros reforça o aperto econômico à população. A entidade ressaltou que o Banco Central não deixou claro se encerrou o ciclo de alta da Taxa Selic e pediu que a política monetária seja voltada para os interesses da população. "O brasileiro já convive com uma taxa básica de juros proibitiva para o desenvolvimento econômico e que aumenta o custo de vida", criticou a vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira. (Agência Brasil)
Votação
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Copom: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira