Logo O POVO+
Presidente do Pacajus e irmão ameaçam e fazem ataque homofóbico e machista contra arbitragem
Esportes

Presidente do Pacajus e irmão ameaçam e fazem ataque homofóbico e machista contra arbitragem

Na súmula, Natanael registrou que o irmão do presidente direcionou ataques machistas contra Ingrede de forma contínua
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cristiano Cortez (esq.) é o presidente do Pacajus (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)
Foto: Lucas Figueiredo/CBF Cristiano Cortez (esq.) é o presidente do Pacajus

O presidente do Pacajus, Cristiano Cortez, ameaçou e ofendeu a equipe de arbitragem na partida contra o Cariri, no último dia 31 de março, pela Série B do Campeonato Cearense, que culminou no rebaixamento do Índio do Vale do Caju: "Todos vão apanhar e você (quarta árbitra, Ingrede dos Santos) também".

O irmão do dirigente, Everton Cortez, invadiu o gramado ao término do jogo e proferiu ofensas machistas e homofóbicas contra o árbitro Natanael Freitas de Sá e a quarta árbitra.

Na súmula, Natanael registrou que o irmão do presidente do Pacajus direcionou ataques contra Ingrede de forma contínua: “Você deveria estar atrás de um fogão", "o seu escudo você ganhou sem merecer, sua burra" e "serve nem para levantar a placa de substituição”.

Na saída de campo, conforme o documento assinado pelo árbitro do jogo, Everton Cortez também gritou “baitola” contra Natanael, enquanto dava um soco na parte superior do banco de reservas.

Procurada pelo O POVO, Ingrede dos Santos revelou que registrou um Boletim de Ocorrência na última terça-feira, 2. Segundo ela, os insultos eram constantes na beira do campo, tanto de Cristiano quanto de Everton — este fazia xingamentos da arquibancada. O segundo, conforme dito pela árbitra e registrado na súmula, invade o campo após o apito final para proferir mais ofensas à equipe de arbitragem.

Ingrede contou ainda que o irmão do presidente do Pacajus tem atitude de “perseguição” contra ela. De acordo com a árbitra, Everton sempre a ofende nos jogos em que o Pacajus está envolvido.

“Não faz sentido, eu só apitei um jogo do time dele, na base. No profissional, estive sempre na reserva. Ele pesquisa outros jogos meus para me xingar. Me cheira a perseguição e vou entrar com um processo”, afirmou.

Também procurado pelo O POVO para se pronunciar, Cristiano Cortez manteve a insatisfação com os árbitros e se esquivou da denúncia contra o irmão, afirmando que não houve machismo.

“Ela (Ingrede) é uma árbitra muito complicada e muito ‘feminista’. Não que esteja errado, mas é complicado. [...] Esquece que tem que ser árbitra dentro das quatro linhas”. Cristiano apontou que suas ofensas foram “aumentadas na súmula”.

“Ela se coloca como mulher, que pode tudo, antes do que como árbitra. Temos que dar espaço para elas, mas precisam respeitar algumas coisas. [...] Houve, sim, uma revolta de minha parte, mas com a arbitragem, sem machismo”, completou, dizendo ainda que “o Pacajus não tem e nunca teve problemas relacionados a atritos com a arbitragem, muito pelo contrário”.

O POVO contatou Everton Cortez, que desmentiu parte das falas relatadas e contou que sua revolta partiu de um erro de registro na súmula quanto ao médico da partida, que estava com outro nome e poderia apontar o Pacajus como irregular. Consultada, Ingrede disse que os clubes que são responsáveis por alterar. Além disso, Everton indicou que o Pacajus vem sendo perseguido pela arbitragem, citando que "é o segundo rebaixamento seguido por erros de arbitragem".

"Chamei ela de burra. [...] Reconheço que me alterei com ela, sim, tudo foi direcionado a ela. Não foi à arbitragem. Quem errou foi ela, não fez o trabalho como manda a regra. Não é porque ela é mulher, se fosse homem tinha tratado da mesma forma, ela errou por ter apontado o dedo no meu rosto e mandado eu me calar, sendo que ela estava errada. Aí eu me alterei, sim", disse ele, que completou afirmando que não disse nada de que ela deveria estar "atrás do fogão".

Cristiano foi árbitro de futebol amador entre o período de 1996 e 2013. Em 2010, assumiu a presidência da Liga Desportiva Pacajuense e ficou no cargo até 2018. Seu irmão, Everton, também foi árbitro da Federação Cearense por mais de 15 anos. Ingrede afirma que esse é um dos motivos deles insistirem em dizer que ela “ganhou o escudo sem merecer”, principalmente por vir de outro Estado e ter conseguido aprovação da Federação.

A reportagem procurou o presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), Mauro Carmélio, e o presidente da Comissão de Arbitragem, Paulo Silvio, e ambos detalharam que o Tribunal de Justiça Desportiva do Estado do Ceará (TJD-CE) deverá chamar os envolvidos na denúncia para um julgamento conforme o que foi relatado na súmula. 

Confira trecho da súmula que relata o ocorrido

No intervalo da partida, um senhor identificado depois pela equipe de arbitragem como Francisco Cristiano Cortez Oliveira, presidente da equipe do Pacajus, vem em minha direção e profere as seguintes palavras: "Você apita muito ruim! Muito fraco!" Pergunto-o quem é e ele não se identifica. Ao seu lado, um outro senhor identificado pela equipe de arbitragem como Everton Cortez profere as seguintes palavras à quarta árbitra, senhora Ingrid Santos: "Você é uma burra que não sabe mexer no sistema das súmulas!"

Durante o segundo tempo da partida, o presidente da equipe do Pacajus supracitado, diz em direção à quarta árbitra, que o identifica: "Vocês só sabem nos roubar! Vocês todos vão apanhar e você também!"

Após o término da partida, o senhor Everton Cortez invade o campo de jogo e diz em minha direção: "Você é um safado! Veio aqui para nos roubar e prejudicar minha equipe! A Federação não deveria ter te escalado! Seu fraco!!" Ato contínuo, ele diz as seguintes palavras em direção à quarta árbitra, senhora Ingrid Santos: "E você deveria estar atrás de um fogão e o seu escudo ganhou sem merecer, sua burra! Serve nem para levantar a placa de substituição!"

Ele volta a ofender a equipe: "Vocês são uns 'ladrão'!! Todo ano é isso!! A arbitragem prejudica a gente!! Depois a Federação fica postando que é a melhor do Brasil!" (sorriso sarcástico dele). Não satisfeito em dizer tais palavras, ele persegue a equipe de arbitragem até o túnel de acesso e vocifera em direção a mim: "Seu baitola! Filho de rapariga!! Fraco! Seu merda!"

Logo após, dá um soco estrondante no teto de um dos bancos de reservas. Sentindo-me inseguro, juntamente com a minha equipe, solicito escolta policial e somos escoltados até cerca de 5 km do perímetro do estádio João Ronaldo. Seguem vídeos, em anexo, no campo "Documentos anexos" que ratificam tais atitudes.

O que você achou desse conteúdo?