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GT de enfrentamento à LGBTIfobia nos estádios cearenses toma posse no Castelão
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GT de enfrentamento à LGBTIfobia nos estádios cearenses toma posse no Castelão

Com discursos de estudo e educação nas arquibancadas, solenidade contou com a presença de representantes do Ceará, do Fortaleza e do Ferroviário e de membros de torcidas organizadas
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Grupo de Trabalho foi empossado na Arena Castelão (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Grupo de Trabalho foi empossado na Arena Castelão

Iluminada com as cores da bandeira LGBTQIA+ no início da noite, a Arena Castelão foi palco, ontem à tarde, da posse do Grupo de Trabalho de Enfrentamento à LGBTIfobia nos estádios de futebol do Ceará.

O coletivo reúne torcedores — organizados e de grupos antifascistas — representantes dos clubes Ceará, Fortaleza e Ferroviário e também membros de secretarias estaduais, como do Esporte e da Diversidade, e tem como objetivo de transformar as praças esportivas em lugares cada vez mais plurais, combatendo, principalmente, a opressão contra pessoas LGBTQIA+.

Como trabalho preventivo, cada entrada do Gigante da Boa Vista recebeu, desde a final do Campeonato Cearense, uma placa sinalizando que a LGBTfobia se trata de um crime. As ações do grupo irão para além disso.

Conforme explicado pelo secretário do Esporte, Rogério Pinheiro, o grupo deverá fazer estudos periódicos sobre o tema e todas as ações, principalmente educativas, deverão ser tomadas em cima do que se for concluído pelos membros. 

Detentor dos equipamentos esportivos estaduais, o Governo do Ceará pretende focar em ações educativas com os torcedores, para que a transformação ocorra das arquibancadas, que é onde, na maioria das vezes, os casos ocorrem. 

"Quando estamos na execução dos jogos, quando se fala principalmente em cânticos, a gente enxerga que isso é algo que vem da torcida em geral. Por conduzir e estar nos jogos, vejo que é algo cultural, por provocação, mas que não podemos nos omitir e precisamos trabalhar, principalmente, no âmbito educacional para que, antes de qualquer medida, a gente possa trabalhar isso na cultura das torcidas", destacou Pinheiro.

O discurso foi reforçado pela secretária da Diversidade, Mitchelle Meira, que, ainda que entenda que a punição precise ocorrer, salientou acreditar na transformação do estádio em um lugar de união. 

"É importante dizer que a gente recebe quem quer aprender porque sabemos que podemos transformar. E a confiança nisso é termos esse momento onde podemos transformar esse lugar que muitas vezes é LGBTfóbico em um lugar acolhedor, de paz e de alegria para todas as pessoas. É isso que queremos, um espaço de confraternização", frisou.

Para alcançar tal unidade, o cientista social e membro da torcida organizada Força da Galera (TFG), Raoni Oliveira, crê que é preciso propagar aos torcedores um discurso de maior conscientização e harmonia.

"É o início de uma longa caminhada. A gente precisa convencer os torcedores organizados que eles são parte de um grupo que é ensinado a propagar homofobia e temos que fazer eles entenderem que são parte de uma sociedade cada vez mais complexa, que precisa tratar as pessoas sem violência e preconceitos. Precisamos que, nesse espaço, a gente reconstrua nossas sociabilidades", explicou Raoni, que é representante da Associação Nacional das Torcidas Organizadas.

"Ninguém quer encaretar o futebol"

Secretária Nacional dos Direitos da População LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Symmy Larrat exibia sorrisos na Arena Castelão ao falar sobre a importância de se buscar a solução para a homofobia nos estádios. 

Para ela, que já foi vítima de LGBTfobia ao ser expulsa por torcedores organizados no Mangueirão, no Pará, é importante que o torcedor entenda, por meio do Grupo de Trabalho, como a utilização da imagem do LGBTQIA+ como algo jocoso fere as pessoas.

"As piadas corriqueiras que reforçam a LGBTfobia. Não é uma brincadeira, mas um reforço de um estereótipo, como se alguém fosse pior que o outro ou menor que o outro por ser quem é. Fora a violência com quem pratica o esporte que não pode ser quem quer ser. Costumo dizer que se você é parte do problema, você também tem que ser solução, e é isso que o Governo do Estado e todos os envolvidos, times, torcedores, confederações, dão o primeiro passo para deixar de ser um problema e se tornar uma solução. Ninguém quer encaretar o futebol, mas levar o esporte para todo mundo sem nenhum preconceito", finalizou.

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