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Número 1 do Brasil, jovem mesatenista cearense sonha com medalha olímpica
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Número 1 do Brasil, jovem mesatenista cearense sonha com medalha olímpica

Alissa Maia, de 12 anos, é a atual top-1 do ranking nacional e já defendeu a seleção brasileira. Ao O POVO, contou sua trajetória desde o início até os campeonatos nacionais
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FORTALEZA, CEARÁ, 04-09-2024: A mesatenista, Alissa Maia, de 12 anos,a atetla representa a seleção de base e irá participar do Campeonato Brasileiro. (Foto: Fernanda Barros / O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, 04-09-2024: A mesatenista, Alissa Maia, de 12 anos,a atetla representa a seleção de base e irá participar do Campeonato Brasileiro. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)

As idas e vindas, sejam da bolinha de um canto a outro da mesa ou das viagens representando o Estado vestindo a desejada Amarelinha da seleção, estão presentes desde cedo na vida de uma jovem cearense, de 12 anos, que tem almejado o protagonismo nacional no tênis de mesa, esporte no qual já soma 60 pódios — figurando em primeiro lugar em 41 deles — em apenas três anos de carreira.

Atual número 1 do ranking brasileiro no tênis de mesa sub-13 e quarta colocada no sub-15, a pequena Alissa Maia contou ao O POVO sobre o sonho de se tornar uma medalhista olímpica — assim como medalhou no Sul-Americano que disputou na Bolívia —, o orgulho em defender a seleção nas categorias de base, as dificuldades de ascensão partindo do Nordeste e a relação com o esporte que marcou uma nova fase após depressão do pai.

Além disso, a “Maquininha”, como é carinhosamente chamada, também se debruçou em sua rotina de estudos e gostos pessoais para além do tênis de mesa. Apaixonada por açaí e doramas — séries asiáticas do gênero de drama —, como se descreve, a jovem detalhou o esforço para conciliar a escola, as amizades e os treinos, que costumam durar cinco horas e, por vezes, seguem por mais de sete horas em um dia.

“O apelido de 'Maquininha' veio porque ela realmente é uma máquina jogando. Ela é muito agressiva, tem um perfil atacante, super atacante. Ela é raçuda e grita a cada ponto. É muito vibrante e cativante. Como ela 'tritura' os seus adversários, tanto no feminino como no masculino, e destrói todo mundo, veio esse apelido”, contou Luiz Augusto Guimarães, conhecido como Grilo, treinador de Alissa.

No Ceará, Alissa é a atual top-1 em todas as categorias que disputa. Ou seja, lidera o sub-13, o sub-15 e o absoluto, que engloba todos os atletas, incluindo os que tentam vagas na seleção principal do tênis de mesa. Na modalidade, os atletas são ranqueados nas categorias da sua idade atual, uma acima e a absoluta citada.

Orgulhosos e cheios de metas a cumprir ao lado da atleta, os pais e o treinador, que organizam uma vaquinha online para custear viagens à competições importantes visando o ranking da modalidade, detalharam ainda a sua personalidade. A mãe de Alissa, Érica Maia, falou sobre como a filha ajudou o pai, Rodrigo Maia, em um quadro depressivo e virou sua principal parceira ao conhecer o tênis de mesa.

O talento de Alissa é notório nos treinamentos e nas competições, independentemente da idade, gênero ou experiência do adversário. Para os familiares e colegas de time, a jovem só não era top-1 do ranking nacional por ainda não acumular pontos no Sudeste, o que eleva bastante a pontuação e pode dificultar que a jovem se mantenha na posição.

O Campeonato Brasileiro, por exemplo, tem peso dez, enquanto o Estadual tem peso três. Alissa venceu o TMB Challenge Plus Fortaleza e subiu para a primeira colocação do ranking nacional sub-13. Em dia mágico, a cearense ainda venceu o sub-15, subindo da quinta para a quarta colocação da lista.

Mesmo com 12 anos, a atleta já viajou à Bolívia para defender a seleção brasileira de tênis de mesa e não decepcionou. Disputando o Campeonato Sul-Americano Sub-13, em Cochabamba, conquistou duas medalhas de bronze nas categorias duplas femininas e duplas mistas. À época, também não teve nada custeado pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), que definiu o auxílio apenas para a primeira do ranking — naquele momento, Alissa era a segunda colocada.

A primeira colocação poderia ter sido conquistada por Alissa anteriormente, mas a cearense não conseguiu o apoio financeiro necessário para ir ao Platinum Ciclo I, em São Paulo, para conquistar pontos. Contudo, foi ao Ciclo II, no Rio de Janeiro, e conseguiu o terceiro lugar na Categoria Sub-13. Os próximos desafios no radar da garota são a garantia das idas ao Tênis de Mesa Brasil (TMB) Platinum Campeonato Brasileiro Ciclo III, em Uberlândia/MG, e o IV, em Chapecó.

Apoio familiar e a busca por um sonho olímpico

Desde os primeiros passos em sua vida esportiva, Alissa Maia tem contado com o apoio inabalável de sua família. Tal rede de suporte tem sido crucial para que a jovem mesatenista se mantenha firme em uma busca especial: “Meu maior sonho é ir para as Olimpíadas e medalhar”, contou a garota.

Essa aspiração é alimentada pelo carinho e incentivo de seus pais, que não medem esforços para garantir que a filha tenha as melhores condições possíveis para se destacar no esporte, mesmo com as restrições financeiras e geográficas. Érica Maia enfatizou o quanto a jovem sempre foi competitiva e determinada.

“A Alissa tem uma personalidade bem forte pra idade dela. Ela é bastante competitiva. Isso a gente já notava desde novinha”, refletiu a mãe, que relembrou como a filha sempre buscava liderar, mesmo em situações cotidianas, como subir as escadas do prédio onde moravam.

“A gente percebia que ela gostava de sempre se colocar em uma posição de liderança nos grupos que participava. E isso, com o tempo, passou a ser natural”, completou.

Esse espírito combativo foi canalizado de forma decisiva para o tênis de mesa, especialmente após a pandemia, quando a paixão pelo esporte foi descoberta e abraçada pela família. Antes disso, Alissa ajudou o pai, Rodrigo, a enfrentar um grave quadro de depressão e encontrou, com ele, o tênis de mesa como uma paixão que ressignificava a relação dos dois e fortalecia os laços familiares.

“Tudo começou durante a pandemia. Eu conseguia trabalhar, mas o pai dela ficou doente. Teve um quadro de depressão fortíssimo. Ela, que estava tendo aula online, ficava em casa com o pai, sendo uma fortaleza para ele. Ela foi muito importante para que ele se recuperasse desse problema e voltasse a trabalhar”, contou a mãe, que destacou o quanto o esporte afastou Alissa das telas e a aproximou das amigas.

“A pandemia começou a dar uma trégua e o pai levou ela para conhecer o tênis de mesa, pois já tinha praticado quando era mais novo. Ela gostou demais do esporte. Depois de um mês de treinamento, o técnico chegou para o pai dela e disse que estava assustado com a Alissa. Ela tinha uma destreza além da idade dela. Disse que se ela continuasse focada, poderia até chegar na seleção brasileira”, finalizou.

Desafios de ascender no esporte partindo do Nordeste e o esforço coletivo

No cenário esportivo nacional, as dificuldades enfrentadas por atletas que não estão no eixo Sul-Sudeste são uma realidade constante. Luiz Augusto Guimarães, o Grilo, ressaltou ao O POVO o quanto é desafiador para jogadores do Nordeste participarem de competições de alta pontuação.

“A dificuldade que o jogador cearense tem de participar desses eventos é que eles se concentram no eixo Sul-Sudeste. É muito caro mandar uma criança da idade dela para competir nessas regiões”. Os custos elevados — que podem ultrapassar R$ 7 mil por viagem, posto que precisa de um acompanhante — acabam limitando as oportunidades de somar pontos e alcançar posições mais altas no ranking nacional.

Mesmo com estas barreiras, Alissa e sua equipe não desanimam. O treinador explica que a participação no Campeonato Sul-Americano foi fruto de um esforço coletivo, já que a CBTM não cobriu os custos da viagem.

“Sobre o Sul-Americano, ela foi convocada por estar entre as primeiras do ranking brasileiro (2° lugar). A CBTM só pagou a primeira colocada [da época], cuja classificação foi TMB Platinum de São Paulo. [...] A Alissa não conseguiu competir, então ela foi convocada para ir com recursos próprios. Foi um esforço coletivo”, explicou.

Mesmo com os contratempos, a mesatenista trata o momento com a Amarelinha como um dos mais marcantes até hoje, tomando como uma garantia de que pode criar expectativas sobre o próprio talento.

“Muitas vezes, a gente não consegue a quantidade de dinheiro ou patrocínios para viajar, esses são alguns dos piores momentos que acontecem. [...] É o sonho de um atleta chegar à seleção brasileira e, quando isso aconteceu, eu fiquei muito feliz. Eu gostei muito de estar lá e realizei um dos meus sonhos”, disse Alissa.

“Nosso objetivo no TMB é estar no pódio, e a Alissa tem qualidade para estar em primeira, segunda ou terceira colocada. Ela é a cabeça de chave número um dessa competição pela pontuação que ela tem atualmente”, acrescentou o treinador.

Entre raquetes e livros

Conciliar uma rotina intensa de treinos com os compromissos escolares é outro desafio na vida de Alissa. Apesar dos horários apertados, a jovem mesatenista não descuida dos estudos. “O que eu mais almejo é sempre me dedicar aos meus estudos, pois se não estudar, eu não venho para o tênis de mesa”, ponderou.

A mãe de Alissa destaca a disciplina da filha: “Ela vem conseguindo estar entre os primeiros da sala, mesmo tendo que faltar algumas vezes”, destacou Érica. A rotina pesada de treinamentos é cuidadosamente intercalada com períodos de estudo e momentos de descontração, oferecidos até mesmo pela própria Academia Grilo.

O treinador diz que o comprometimento da jovem é exemplar e que ela costuma ser muito atenciosa com jogadoras novatas que chegam à academia, mudando até o ritmo de treino para ajudar.

“Além do talento técnico que a Alissa tem, que é visível e a gente aprimora a cada evento, ela tem uma personalidade maravilhosa, que dá muito orgulho. Ela é de grupo, carismática, super dedicada no treinamento e gosta de treinar. Ela é da resenha e da brincadeira. Se mantém séria no treinamento, mas quando tem que brincar, ela brinca. Tem maturidade surreal para a idade”, disse Grilo.

Competência, leveza e juventude

Apesar da disciplina e do foco exigidos por sua rotina de treinos, Alissa Maia ainda é uma garota de 12 anos que sabe valorizar os momentos de apenas ser jovem.

“Os meus momentos favoritos nos campeonatos são quando estou saindo dos jogos. As pessoas que estão do meu lado sempre vão me motivar caso eu tenha perdido e, quando eu ganho, sempre vão lá me parabenizar”, comenta.

Fora do esporte, Alissa encontra prazer em atividades simples e típicas de sua idade. “O que eu mais gosto de fazer é comer açaí e assistir doramas”, diz, entre risos.

Após os campeonatos, ela não perde a oportunidade de brincar com seus amigos. “Quando acaba meu jogo, eu vou brincar com o pessoal em outras coisas. Brincamos de pega-pega, vôlei, cartas ou eu fico ouvindo música e assistindo dorama".

Essas pequenas pausas, cheias de risadas e descontração, mostram que, apesar de seu talento extraordinário e ambições grandiosas, Alissa ainda é uma garota que sabe como equilibrar as responsabilidades com a leveza da juventude.

Aos 12 anos, a atleta se inspira em grandes nomes do tênis de mesa internacional, como as asiáticas Hina Hayata (Japão) e Chen Meng (China). 

“O tênis de mesa deu a Alissa um objetivo de vida, uma atividade [...]. Hoje ela sabe bem o que quer ser quando crescer. E sabe o caminho para isso”, finalizou a mãe da jovem.

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