Seja no tatame, no ringue ou no octógono, a disciplina e sede de vitória são primordiais para um lutador que quer ser um campeão. E isso Marney Max, paratleta cearense de 36 anos, tem para "dar e vender". Tanto que vende diariamente as “paçoquinhas” sob o sol quente, nos semáforos e nas praias de Fortaleza, para arrecadar fundos para competir no Mundial de Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que começa na próxima quarta-feira, 6.
Multicampeão estadual, nacional e internacionalmente, Marney tem uma condição que, em vez invés de ser tratada como obstáculo, o alçou ainda mais alto no mundo das artes marciais. Para praticar e colecionar medalhas no jiu-jitsu, ele lida com uma má formação congênita que o fez crescer sem uma parte do braço esquerdo.
Tendo sofrido com o bullying e a baixa autoestima devido à deficiência, Marney conheceu, ainda na adolescência, o que seria a sua mudança de vida e a porta de entrada para o seu começo nas artes marciais: o kung-fu.
“Um dia eu vi o Paulo Bahia, conhecido como Júnior Coca, praticando e achei aquilo sensacional”, conta ao O POVO, lembrando do amigo e inspiração para entrar no mundo da luta.
A partir daquele dia, o fortalezense procurou uma academia em que pudesse praticar e entrou de vez no esporte, tendo disputado e ganhado sua primeira medalha aos 14 anos, com ajuda justamente daquele em que se espelhava.
“Foi ele (Júnior Coca) quem pagou a minha inscrição no meu primeiro campeonato, um Campeonato Cearense, lá em 2007. Me lembro também de uma vez que ele penhorou uma calculadora científica para poder pagar uma mensalidade minha na academia de luta. Então, eu sou muito grato a ele por ter me incentivado e me incentivar até hoje”, lembrou Marney.
Vinte e dois anos após começar nas artes marciais, Marney Max hoje é faixa preta em jiu-jitsu, muay thay e kickboxing.
Apesar de ter um currículo extenso, com títulos sul-americanos, pan-americanos e até mundiais, o cearense revela que ainda é difícil se manter como paratleta. O lutador relata que a falta de apoio, principalmente financeiro, atrapalha e desmotiva.
“Às vezes, nem tem a premiação em dinheiro para os atletas de parajiu-jitsu. Infelizmente, a gente ainda vive esse preconceito”, lamenta.
Apesar disso, Marney continua disputando e ganhando os torneios que participa, tendo entrado, inclusive, no MMA. Vice-campeão do Mundial de Jiu-Jitsu em 2023, também em Abu Dhabi, conseguiu se classificar mais uma vez para o evento deste ano após ganhar a seletiva no Rio de Janeiro, em julho, e agora sonha com uma medalha de ouro.
Marney agora corre contra o tempo para arrecadar dinheiro para a viagem rumo aos Emirados Árabes Unidos: começou a vender "paçoquinha" no sinal e fez também uma parceria para rifar uma moto.
Perguntado sobre a ajuda das federações estadual e nacional, Marney revela que recebeu ajuda no pagamento da inscrição do torneio — em torno de R$ 500. “A federação ajudou a pagar a inscrição e eu consegui comprar as passagens, mas ainda falta dinheiro para hospedagem e alimentação”, revela.
Aqueles interessados em ajudar Marney a participar do Mundial de Jiu-Jitsu podem realizar a doação via pix no número (85) 98777-9433 ou comprar uma rifa via site encontrado no perfil oficial do lutador no Instagram: @Marneymaxxoficial.
Hoje, aos 36 anos, o cearense tenta retribuir toda a ajuda que recebeu no começo da carreira e repassar toda a sua experiência para a nova geração. Para isso, iniciou um projeto social para crianças da periferia no ano passado.
Junto de Henrique da Silva, Marney criou o Atleta de Cristo, no qual oferece aulas de muay thai, kickboxing e MMA na Barra do Ceará. “Eu fui ajudado no meu começou, então eu pretendo repassar essa ajuda para as crianças”, explica.
“Eu, como morador de periferia, sei que existe a falta de apoio, sei como é difícil, mas também sei que podemos mudar vida através do esporte. Nosso objetivo no projeto é não só formar atletas dentro, mas também fora do tatame”, finaliza.