O Ceará viveu, ontem, uma noite memorável. Com 63.908 pessoas na arquibancada, o Vovô venceu o América-MG na Arena Castelão, por 1 a 0, e retomou o posto dentro do G-4 da Série B do Campeonato Brasileiro.
Com a vitória, o Vovô ultrapassou o Sport-PE no critério de desempate e chega para a última rodada, contra o lanterna e já rebaixado Guarani-SP, dependendo apenas de si para conquistar o acesso à elite.
A paixão futebolistica em seu mais puro estado foi vista na Arena Castelão. Do lado de fora da praça esportiva, homens, mulheres, crianças e idosos se juntaram para celebrar a chegada daqueles responsáveis por tantos sentimentos. As juras de amor, enquanto a fumaça dos sinalizadores tomava conta da passagem do ônibus alvinegro, deu o tom do que seria na arquibancada: uma festa que entrou para a história.
O maior público do futebol nordestino em 2024 — e o maior da história da Arena Castelão — não aconteceu em uma final ou por qualquer outro motivo que fosse. Veio de um jogo da Série B, mas que valia muito. Ontem, o Ceará entrou em campo para manter vivo o tão sonhado retorno à Série A e contou com o apoio massivo nessa missão que não seria nada fácil. Antes da bola rolar, uma festa espetacular tomou conta do Gigante da Boa Vista.
A campanha contra o preconceito racial divulgada pelo Ceará durante a semana em forma de camisa, ganhou força com o mosaico exibido pelos alvinegros. "Fogo nos racistas". Uma mensagem simbólica de um clube que tem no preto sua maior identidade. Uma mensagem que não precisa de contexto ou motivo para ser lembrado. É importante por si só. Aliado a isso, centenas de bandeirolas tomaram conta do Castelão.
Embalado pelo grito quase ensurdecedor dos alvinegros, o Ceará teve a chance de abrir o placar segundos após o apito inicial. Saulo Mineiro, ao interceptar a tentativa de passe do defensor americano, saiu cara a cara com o goleiro Elias. Encobriu o rival, mas não acertou o fundo das redes na conclusão. A tentativa, porém, foi suficiente para inflamar ainda mais os torcedores. Sem se afobar, os comandados de Léo Condé tiveram maturidade para assimilar a carga emocional e jogar da forma correta no primeiro tempo.
Saulo teve outra chance, aos 26 minutos, desta vez em sua maior especialidade: cobrança de pênalti. Após a falta sofrida por Aylon dentro da área, o atacante pegou a bola na marca da cal. O barulho de antes tornou-se um silêncio absoluto. Os olhares de quase 64 mil pessoas estavam voltadas para o camisa 73. Ele não treme. Do vazio, a explosão quando a bola estufa a rede. A vibração foi tamanha que mexeu com a estrutura do estádio.
No segundo tempo, a tensão foi instaurada. O Ceará, que ainda teve um gol anulado por impedimento na primeira etapa, cria boas chances para ampliar o placar, sobretudo em lance com Pulga, mas não faz. Conforme os minutos passam, o 1 a 0 fica perigoso. O América-MG, embora sem grande contundência ofensiva, passa a ter mais a posse e empurra o Vovô contra sua própria área. A ideia do time cearense torna-se os contra-ataques.
Os olhares singulares de tantos com o mesmo sonho se estabeleceram nos últimos 15 minutos. Ali, um embate interno parece ter aflingido os alvinegros. Entre a vontade de empurrar o clube amado e o medo do pior acontecer, as reações se misturaram. Os gritos de desespero em cada avanço do América-MG. Aos mãos nos olhos. O suspiro de alívio quando, ao invés de balançar as redes, o escanteio da equipe mineira carimbou o travessão, já aos 40 minutos.
No fim, prevaleceram os sorrisos e abraços. Camisas giradas ao vento enquanto o grito de "ninguém cala esse nosso amor" era ecoado, música que marca a campanha de recuperação e, principalmente, de esperança inabalável dos fiéis torcedores. O Alvinegro, assim como em 2009, pode conquistar o acesso em Campinas (SP).
Série B 2024
Ceará
4-3-3: Bruno Ferreira; Rafael Ramos, João Pedro, D. Ricardo e Matheus Bahia; Richardson, Lourenço e Mugni (Lucas Rian); Aylon (Recalde), Saulo Mineiro (Barceló) e Erick Pulga. Téc: Léo Condé
América-MG
4-3-3: Elias; Mateus Henrique (Daniel Borges), Ricardo Silva (Eder), Lucão e Nicolas; Alê, Juninho e Elizari (Adyson); Rodriguinho, Fabinho (Vinicius) e Brenner (Davó). Téc: Lisca
Local: Arena Castelão, em Fortaleza/CE
Data: 18/11/2024
Árbitro: Anderson Daronco-Fifa/RS
Assistentes: Eduardo Gonçalves da Cruz/MS e Lúcio Beiersdorf Flor/RS
Gols: 28min/1ºT - Saulo Mineiro (CEA)
Cartões amarelos: Eder, Nicolas e Lucão (AME)
Público e renda: 63.908 (R$ 1.454.872)