Mesmo em noite de público recorde na Arena Castelão (63.908 torcedores), volta ao G-4 da Série B e festa nas arquibancadas, nem tudo foi positivo para o torcedor do Ceará na noite da última segunda-feira, 18. Ao O POVO, alvinegros que foram ao estádio, mas não conseguiram entrar, mesmo com ingresso em mãos, relataram confusões, invasão e superlotação no Gigante da Boa Vista.
Além disso, houve relatos de truculência policial na retirada de torcedores com ingresso das esplanadas e venda de bilhetes falsos nos arredores. O promotor Edvando França, coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor), prometeu uma investigação após o relatório da Polícia Militar, que, por sua vez, confirmou a prisão de um homem e investiga se os acontecimentos configuram um crime contra o consumidor por parte do clube mandante.
Em nota, o Ceará lamentou os incidentes, pediu desculpa aos alvinegros que não puderam entrar no estádio devido à superlotação e prometeu estar "trabalhando para minimizar os transtornos causados". Alguns torcedores tiveram seus comentários respondidos pelo clube nas redes sociais, prometendo encontrar uma solução.
Conforme descreveu Edvando França, o que aconteceu na Arena foi uma ação antiga das torcidas, nomeada de "modo livre", em que cerca de 30 a 50 pessoas se juntam e invadem o estádio. Para ele, houve uma falha na segurança que permitiu o ocorrido, mas o promotor destacou que a liberação das catracas nesses casos é protocolar para não gerar pisoteamento.
Segundo o responsável pelo Nudtor, ainda que veja como correta a atitude da Polícia em não deixar os torcedores ultrapassarem a capacidade limite da arena, os prejudicados devem registrar um boletim de ocorrência e buscar soluções na justiça para serem ressarcidos.
No público divulgado pelo clube (63.908), o número ultrapassa o limite máximo de 63.903 espectadores predefinido pela administração do Gigante de Boa Vista por questões de segurança — sendo, inclusive, o maior da história desde que virou Arena.
O POVO buscou a Secretaria do Esporte do Ceará (Sesporte) para saber se houve alteração neste limite, posto a remoção de algumas cadeiras anteriormente, mas não teve retorno.
Torcedores ouvidos pelo O POVO relataram que foram barrados na entrada, mesmo com ingresso, devido à superlotação. Por segurança, quando atingiu — ou ultrapassou — o limite, os policiais bloquearam a entrada.
A atuação da Polícia Militar (PM) também foi criticada. "Foi incompetente para impedir a entrada de quem está sem ingresso e truculenta com quem estava com ingresso na mão e não conseguiu entrar", disse um torcedor que preferiu não se identificar.
"Fui até a catraca, houve a invasão e a Polícia começou a impedir a entrada até mesmo de quem estava com ingresso", comentou outro torcedor alvinegro.
Yuri Capibaribe, torcedor alvinegro que conseguiu entrar no estádio, relatou que subiu as escadas por volta de 20h50min, no momento em que viu o início da invasão no setor superior norte. Parte da multidão pulava as catracas, enquanto outra, o próprio portão, que acabou cedendo.
"Depois disso, todo mundo entrou de uma vez na superior norte e foi para a inferior central. Me dirigi para o portão K, que era o meu portão da inferior central. Fiquei na fila, entrei umas 21h15min. Quando deu 21h30min teve outra invasão, só que no meu setor. Tinha gente gritando lá, um monte sem ingresso. Sei que essa mesma turma acabou derrubando outro portão, que era a divisa da inferior central com a inferior norte", contou.
"Vi muito pouco policiamento nas entradas, muito pouco mesmo, não era suficiente para muita gente. Pelo menos foi um resultado positivo e não teve nada grave, ninguém se machucou, nenhum ferimento, porque poderia ter sido pesado", complementou Yuri.
Sobre o policiamento, O POVO contatou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para entender o ocorrido. De acordo com o órgão, a Polícia Militar conduziu, na mesma noite, um suspeito, de 27 anos, a uma unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), autuando-o por crime contra a paz no esporte.
Além disso, investiga as circunstâncias de crime contra o consumidor e outras ocorrências que tiveram boletins registrados. Todavia, a SSPDS não se posicionou sobre os relatos de truculência policial.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que a Polícia Militar do Ceará (PMCE) conduziu, na noite dessa terça -feira (18), um suspeito, de 27 anos, a uma unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), onde foi autuado por crime contra a paz no esporte. A ocorrência foi registrada nas imediações de um estádio de futebol, localizado no bairro Boa Vista - Área Integrada de Segurança 7 (AIS 7) de Fortaleza.
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) investiga, ainda, as circunstâncias de crime contra o consumidor e outras ocorrências, que também aconteceram na noite dessa terça-feira, no bairro Boa Vista. Os casos de crime contra o consumidor foram noticiados, por meios de Boletins de Ocorrência (BOs), no 16º Distrito Policial (16º DP), onde foram repassadas mais informações.
O promotor de justiça e coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor), Evando França, vai abrir uma investigação e instaurar um procedimento para descobrir o que causou a superlotação no Castelão. Serão analisadas as possíveis falhas policiais, a carga de ingresso disponibilizada e a atual capacidade da arena.
Segundo ele, estará sendo montada, com prioridade, uma reunião entre os orgãos responsáveis pelas operações em jogos no estádio e os clubes que mandam partidas no local. O momento é tido como essencial e urgente para evitar que ocorra algo parecido nesta sexta-feira, 22, quando Fortaleza e Flamengo se enfrentam no Castelão, também com promessa de casa cheia, mas dessa vez com torcida visitante.
Ontem foi uma noite histórica: recorde de público da Arena Castelão e uma das maiores marcas de um clube brasileiro nesta temporada. Não é qualquer torcida que faz isso. Antes de mais nada: obrigado, Nação Alvinegra! Vocês são incomparáveis. Se estamos nesta reta final lutando pelo acesso, muito se deve a vocês.
No entanto, também lamentamos pelos incidentes e pedimos sinceras desculpas àqueles que foram de alguma forma prejudicados. Desde já, o Ceará Sporting Club está trabalhando para minimizar os transtornos causados a alguns torcedores que não conseguiram adentrar o estádio, analisando caso a caso, e em breve o Clube divulgará mais detalhes.