O futebol cearense carrega consigo uma paixão que ultrapassa os 90 minutos de jogo. Quando a bola não está rolando, as emoções continuam em conversas de bar, brincadeiras entre vizinhos, discussões acaloradas em grupos de mensagens e, claro, no humor, uma forma de aliviar a tensão da rivalidade.
No Clássico-Rei, essa energia se intensifica. As arquibancadas do Castelão se transformam em um caldeirão de sentimentos, onde o riso, as comemorações e as provocações sadias deveriam prevalecer sobre qualquer tipo de hostilidade, mas nem sempre é assim.
As cenas de confraternização e bom humor, que poderiam predominar na relação entre torcedores, muitas vezes dão lugar a confrontos fora de campo, que utilizam o que aconteceu dentro dele como pretexto, como registram diversos fatos recentes. Contudo, a essência do futebol no Ceará luta para se manter como um cenário de encontros e interações, levando o bom humor característico do Estado.
Foi com esse espírito que dois humoristas, cada um representando um lado da rivalidade, se reuniram na Arena Castelão a convite do Esportes O POVO, na véspera do Clássico-Rei deste sábado, 8, válido pela última rodada da fase de grupos do Campeonato Cearense, para mostrar como é possível manter a paixão, desejar ver seu time melhor que o rival, mas sem deixar que se transforme em inimizade ou brigas generalizadas.
De um lado, Bruno Paz, torcedor do Ceará. Do outro, o tricolor Aluísio Júnior. Ambos, além de compartilharem o amor pelo futebol, têm algo em comum: sabem que a gargalhada, em especial a cearense, é um remédio poderoso para qualquer tensão.
Bruno descreve sua relação com o Vovô como uma mistura de amor e estresse: "Às vezes, eu estou com raiva dos resultados, às vezes eu estou muito empolgado, iludido. Você não pode extrapolar muito, nem levar tudo para o coração", relata.
Por sua vez, Aluísio veste a camisa do Leão e se define como torcedor do “melhor time do mundo”. Para ele, as cores vibrantes e o próprio nome do time já carregam o simbolismo que o encanta desde a infância.
A convivência com amigos que torcem pelo rival nunca foi um problema para nenhum dos dois. Bruno conta que o que vale mesmo é a diversão, aquela troca de provocações que testa o limite da paciência sem ultrapassar o respeito.
"Um vizinho meu, por exemplo, tem duas portas em casa: uma pela frente e outra pelos fundos. Quando o time dele perde, ele evita sair pela frente, mas quando ganha, faz questão de me esperar na calçada para tirar onda", conta.
Para Aluísio, o esporte sempre foi motivo de bons momentos: "Grandes amigos meus vêm assistir aqui em casa com a camisa do time rival, até de outros lugares do Brasil. No fim, saem todos caladinhos, porque é 'pisa' de novo", brinca.
A violência, no entanto, ainda faz parte do cenário futebolístico, algo que ambos lamentam. Para Bruno, o humor deveria ser um caminho para aliviar as tensões e não as intensificar.
"Se tu quer ver um torcedor com raiva, não é no murro ou na paulada que tu vai conseguir. Ganha quem tem argumento, quem é mais engraçado, sem precisar empurrar ninguém. É quem faz o outro pegar ar", descreve.
Aluísio compartilha da mesma visão e reforça o poder de uma boa risada: "O mundo precisa sorrir, porque sorrir faz bem. O humor é isso: felicidade, leveza. A gente pode brincar, se divertir dentro do campo, mas se passar da diversão e da alegria, já é prejudicial. O importante da vida é conviver com harmonia, independente do time".