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Rayr, do Maracanã, da idolatria a Ceni à fama de herói pegador de pênalti
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Rayr, do Maracanã, da idolatria a Ceni à fama de herói pegador de pênalti

Destaque do Bicolor Metropolitano, goleiro se prepara para encarar o Ceará em dois jogos das semifinais do Campeonato Cearense
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O goleiro Rayr já foi protagonista em duas disputas por pênaltis em 2025 (Foto: Pedro Chaves/Especial para O POVO)
Foto: Pedro Chaves/Especial para O POVO O goleiro Rayr já foi protagonista em duas disputas por pênaltis em 2025

A bola foi forte, à meia altura, e ele se jogou sem hesitar. Defendeu, tanto a vaga do Maracanã para a segunda fase da Copa do Brasil, como a sua boa estreia na competição. Na verdade, defende, desde sempre — como ele mesmo define —, não só chutes, mas a própria família e os companheiros de time de vários golpes da vida.

Rayr, goleiro do Maracanã e grande destaque do duelo entre o Bicolor Metropolitano e o Ferroviário na primeira fase da Copa do Brasil, vive um bom começo de ano, mas revelou ao Esportes O POVO que também carrega dentro de si um campinho onde o jogo nunca parou completamente: o da saudade.

A saudade da mãe, que perdeu ainda jovem, quando acreditava estar na melhor fase da vida. A saudade de ser treinado pelo pai, de quem é muito companheiro, em campinhos de areia. A saudade de jogar bola com os amigos nas ruas de Ibicuitinga, município de 11 mil habiantes a 176 km de Fortaleza, ou de assistir ao ídolo Rogério Ceni em campo.

Rayr ainda discorreu sobre trabalho psicológico do Grêmio, que lhe auxiliou a permanecer no futebol e superar, na medida do possível, o principal trauma de sua vida; além da origem de seu nome — e também curioso nome de seu irmão mais novo.

Cresceu no futebol, cercado de gritos, treinos e promessas. O pai tem um “time de subúrbio”, como desenhou. O nome já era um prenúncio para o futebol, mas não para a posição escolhida desde que começou. Rayr, inspirado em Raí — do São Paulo. Mas o verdadeiro espelho vestia a mesma camisa e veio depois.

“Meu principal ídolo na infância era o Rogério Ceni. Eu acho que todo goleiro tem ele como referência, especialmente por ser um cara que revolucionou a posição na questão de jogar com os pés. Acho que todo goleiro, em algum momento da infância, sonhou em ser o Rogério Ceni. Comigo não foi diferente. Sempre tive ele como um grande espelho, não só como profissional, mas como pessoa, pela conduta dele fora de campo”, relata.

No começo da adolescência, quando ainda simulava ser Ceni, foi ao Grêmio-RS e acreditava viver o melhor momento de sua vida, mas foi surpreendido com a pior das notícias. “Eu perdi a minha mãe. Eu tinha 13 para 14 anos e estava jogando no Grêmio", conta.

O luto lhe atravessou ainda menino, como um raio. "Mudou tudo. Mudou até mesmo o meu temperamento, porque é um trauma muito grande". Mas havia uma rede de proteção. A psicóloga Fernanda Faggiani, das categorias de base do Tricolor Gaúcho, foi o que ele chama de "um anjo" naquele tempo sombrio, além do apoio de sua família.

"Foi mais do que fundamental para mim esse trabalho psicológico. Naquele momento, eu realmente precisava. Eu era uma criança, imagina a quantidade de coisas que passava pela minha cabeça”, relata.

“Meus amigos sabem, meus familiares sabem, mas nunca falei abertamente. Foi um trauma gigante, que é difícil até hoje. É outra vida conviver sem a presença materna. Meu sonho é o dela também, é o sonho de toda a minha família. Eu recebi a notícia aqui no Ceará, pois estava de férias do time. Eu estava no Interior. Recebia notícia e meu tio me levou para casa, foram dias assustadores que passei aqui. Mas eu tenho uma base familiar muito forte, me deram todo o suporte, além da ajuda da psicóloga (Fernanda Faggiani) do Grêmio”, detalha.

Desempenho no Maracanã e um “mal entendido”

Rayr pegou um pênalti na classificação contra o Ferroviário, ex-clube dele, e a declaração após o jogo correu pelas redes. "Quando você fala na internet, se expõe às interpretações. No momento que viralizou, no qual parece que eu alfinetei, na verdade, foi um momento de agradecer ao Ferroviário por ter me liberado, de forma sincera, já que eu mesmo pedi. Tenho total respeito por eles e foi o melhor para ambos na época", explica.

“Meus pais me ensinaram a respeitar o próximo, a ter dignidade. E, acima de tudo, uma lição que eu aprendi com meu pai e com a minha mãe é a humildade. Eles me ensinaram isso que, independente de qualquer coisa, independente do que você tenha ou do que as outras pessoas têm, você tem que procurar sempre respeitar todos”, lembra com carinho.

O arqueiro é titular absoluto do time alviceleste de Maracanaú. Sobre o bom histórico de pênaltis defendidos, comentou: “Eu estudo com os preparadores de goleiro, sempre vejo onde os batedores cobram, mas do Ferroviário eu já conhecia. Acertei o canto de três e os outros dois mudaram. Já era minha especialidade pegar pênaltis desde 2020, no São José”.

O curioso nome do irmão

Chamado pelo nome inspirado em um ídolo do São Paulo, Rayr conta que seu irmão foi "do contra" e decidiu torcer para o Palmeiras, mas também tem nome de jogador. “O nome dele é David Luiz, por causa do jogador, que hoje está no Fortaleza”, conta.

“Ele nasceu em 2014, depois do Brasil ganhar a Copa das Confederações em 2023. A esposa do meu pai estava grávida naquele tempo e aí ele não sabia como ia ser o nome da criança ainda e foi o David Luiz. Quando o zagueiro tirou aquele gol contra a Espanha lá em cima da linha, aí ele falou: ‘Pronto, o nome do menino vai ser David Luiz’. Aí depois do 7 a 1 não dava mais para trocar (risos), o menino já tinha nascido”, relata.

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