O futebol é cíclico. Bons e maus momentos farão parte de um clube enquanto ele existir e, no Fortaleza, obviamente, não é diferente — e nunca foi. A péssima fase que o Leão vive neste início de temporada não é uma novidade na “Era Vojvoda”. O técnico argentino já passou por perrengues maiores e conseguiu superá-los, como a luta contra o rebaixamento em 2023, mas o bom histórico não é suficiente. O comandante terá, novamente, de se provar.
A maioria dos torcedores, que são passionais e sempre querem ver seu time no melhor momento possível, não se apega ao que já aconteceu. O que importa é o presente. E o presente não é nada bom para o Tricolor. Além do amargo vice-campeonato estadual para o maior rival, o time acumula seis derrotas e apenas duas vitórias nos últimos dez jogos. Não só isso: o desempenho em campo é desastroso.
No revés para o CRB, na quarta-feira passada, o elenco tricolor deixou o campo sob gritos de “time sem vergonha”, proferidos por torcedores que estavam na Arena Castelão. E aí entram os desafios de Vojvoda, que terá de arrumar a casa em meio aos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores. Afinal, o Tricolor encara o Fluminense já amanhã e o Racing-ARG na próxima terça.
Antes de qualquer coisa, é preciso resgatar a confiança do elenco. Não se trata de um plantel desqualificado tecnicamente, mas falta convicção. Mais importante do que jogar bonito, o Tricolor precisa vencer partidas. É assim que o clube estabelece força e, principalmente, resgata a sintonia com a torcida, que está magoada e extremamente insatisfeita — sentimento justo diante de toda a expectativa criada, do orçamento recorde e dos feitos importantes conquistados em 2024.
Em paralelo, Vojvoda precisa encontrar soluções dentro do próprio elenco. A atual janela de transferências é limitada, e o Fortaleza não conseguirá fazer grandes movimentações além dos atacantes Allanzinho, ex-Ferroviário, já anunciado, e Deyverson, do Atlético-MG, que tem acerto encaminhado. Parte da solução passa, também, pelo desenvolvimento de alternativas táticas que consigam potencializar alguns jogadores importantes, como Lucero, artilheiro do clube em 2023 e 2024. Atualmente, o Leão sofre pelo pragmatismo e é facilmente anulado.
Um ponto positivo é que, com o início do Brasileirão, o Fortaleza poderá naturalmente jogar de forma reativa, explorando os contra-ataques, modelo que deu muito certo na campanha no torneio no ano passado, quando brigou pelo título e terminou em quarto lugar. O elenco, por característica, tende a render mais atuando em transição do que quando precisa ser propositivo.
E, para além de toda a parte teórica, é necessária atitude dos jogadores em campo. A equipe não superará o mau momento com passividade e comodismo. Nisso, entra o trabalho motivacional da comissão técnica e, em paralelo, o acompanhamento psicológico diário. Vojvoda, inclusive, comentou sobre isso em entrevista coletiva após o revés para o CRB.
"Há um trabalho psicológico coletivo, é um trabalho também para outros momentos que acontecem na temporada. Que bom que, nesses momentos, sempre se fale do aspecto psicológico. É um aspecto importante que está sendo trabalhado no Fortaleza. Posso assegurar isso: o trabalho psicológico não é de um dia para o outro", descreveu.
Fonte: Luca Laprovitera, jornalista e pesquisador