Toda chave carrega a promessa de dar voltas e abrir uma porta. No futebol, algumas demoram a se mover, ficam presas no enferrujado de uma fase ruim. Há fechaduras que custam a se abrir, por mais que se tente por um lado, por outro, ou que o corpo empurre já sem lógica clara. O Fortaleza vinha assim, tentando forçar passagem por frestas estreitas, acumulando desencaixes, tropeços e desencontros, trocando totalmente o formato da chave a cada tentativa, sem achar a correta.
As derrotas inquietavam a torcida e aqueles que tentavam abrir a porta. Mas todo ciclo tem seu estalo e, no último sábado, 29, diante do Fluminense, a chave pareceu, enfim, girar na Arena Castelão. A vitória por 2 a 0 na estreia do Brasileirão trouxe mais do que três pontos: foi um respiro antes do início do grande desafio da temporada: a Copa Libertadores.
Amanhã, o time de Vojvoda encara, com a confiança restabelecida, o Racing, da Argentina, considerado o adversário mais forte no Grupo F. O duelo, novamente no Gigante da Boa Vista, representa a chance de consolidar a mudança de perspectiva, provar que o time pode seguir competindo em alto nível e dizer: “O ano começou”, como vem fazendo parte da torcida.
A equipe sabe que um bom resultado na primeira rodada pode ser diferencial em um grupo equilibrado, que conta ainda com Colo-Colo-CHI e Bucaramanga-COL. E, para isso, precisava sacudir o peso dos dias anteriores, reencontrar a vitória, que só viu duas vezes em dez jogos antes de estrear no torneio nacional. E reencontrou.
O escrete vermelho-azul-e-branco vinha de quatro partidas sem vencer, incluindo derrotas moralmente pesadas e inesperadas ante Sousa-PB e CRB-AL, além do revés no Clássico-Rei da final do Cearense, no qual perdeu a hegemonia do Estado. A forte confiança se despedaçava, a paciência da arquibancada mudava para cânticos aflitos. Houve protestos, cobrança, barulho e silêncio de preocupação. Mas também houve reação.
Logo aos três minutos de jogo contra o Fluminense, Lucero fez o que o time precisava: empurrou a bola para as redes e, também, a torcida do Fortaleza. Aos 20 minutos, Tinga ampliou com um cabeceio após cobrança de escanteio de Pol Fernández, e o Leão abriu o processo para se reencontrar. Será essa a chave a ser virada?
O camisa 9, autor do primeiro gol do time e de toda a competição, resumiu em poucas palavras, após o jogo: "Tínhamos que virar a chave". E viraram. Ou pelo menos começaram a virar. Agora, a porta está entreaberta e a terça-feira dirá se ela pode ser empurrada de vez, com força, por um Castelão lotado e pelo ímpeto de um time que pode ter entendido que algumas chaves, ou peças de seu plantel, tem seu tempo de girar.