Os montantes contabilizados pelo Banco Central ao longo dos últimos anos demonstram uma atuação intensa dos bancos públicos no País e também o despertar do interesse dos bancos privados nesta modalidade. No Ceará, sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) - principal instituição quando o assunto é microcrédito na Região -, outros agentes também conseguem crescer na modalidade.
Ao O Povo, o Santander informou que expandiu o número de clientes de 191.032, em 2021, para 291.206, em 2024, no Ceará. O banco é o único privado com um linha de microcrédito orientado em atividade, chamada Prospera, e saltou de R$ 478,72 milhões desembolsados para R$ 693,30 milhões nos últimos três anos, enquanto o ticket médio manteve-se por volta dos R$ 2,8 mil.
"No Ceará, nós temos hoje o estado com maior carteira do programa em microcrédito. São mais de R$ 700 milhões de carteira ativa, com expectativa de crescimento de mais de 20% em 2024", afirma Raquel Zelinda, head comercial do Prospera no Nordeste.
Mas o Santander não é o único banco privado a investir em microcrédito no Estado. O Itaú, no último ano, disse ter um aumento de 39% na carteira ativa. Já a concessão de crédito foi ainda maior, com crescimento acima de 100%.
"Acreditamos no potencial empreendedor do Ceará e por isso fortalecemos a atuação do Microcrédito Itaú no Estado. No último ano, ampliamos a operação na região dobrando o número de especialistas de microcrédito para tornar o acesso à linha mais eficiente", ressalta Marcos Paulo Coelho, superintendente de Microcrédito no Itaú Unibanco.
Já a cooperativa de crédito Sicredi contabilizou no Ceará, ano passado, um total de R$ 30.665.670 para MEIs (microempreendedores individuais); R$ 23.129.518 para micro empresas; R$ 34.935.326 para pequenas empresas; e R$ 52.096.033 para médias empresas.
Absoluto no Ceará e no Nordeste quando o assunto é microcrédito, o BNB mira ampliar o Crediamigo juntamente com as demais linhas do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Dos R$ 3,6 bilhões de meta para este ano, pelo menos R$ 1 bilhão será destinado a micro e pequenas empresas, segundo projeta Eliane Brasil, superintendente da instituição no Ceará.
"Nós temos grandes trunfos: o conhecimento da região, ótimos prazos e ótimas taxas", provoca Eliane, ciente que a estratégia do governo federal de ter nos bancos de fomento um instrumento de desenvolvimento dá vantagem ao BNB.
"Se compararmos o volume que esses bancos privados estão ofertando e comparar a um Banco do Nordeste ainda é muito tímido. Mas eles estão começando a observar esse mercado e à medida que eles forem aplicando dinheiro nesse público de baixa renda e esse pessoal for honrando os compromissos, os bancos vão ampliando a carteira", avalia João Mário de França, professor do Caen-UFC.
Ele aponta o senso de oportunidade das instituições privadas, as quais apostam nos MEIs na expectativa de que evoluam para pequenas empresas, médias e até grandes negócios.
Mas, alerta a economista Silvana Parente, "o banco privado não entra com visão de desenvolvimento." "O objetivo é lucro e não desenvolvimento. A preocupação da gente é a de que, se o setor privado der para essas faixas de baixa renda sem a metodologia adequada, vai correr o risco de aumentar o endividamento e não o desenvolvimento dessas pessoas. Porque eles vão atuar sem o crédito orientado", observa.