Os líderes da oposição na Venezuela, Edmundo González Urrutia e María Corina Machado, apelaram à "consciência" dos militares e policiais ao sugerir ontem que eles rompam com o chavismo e parem de reprimir os protestos. González assina como "presidente eleito" a nota em que reafirma sua vitória.
"Membros das Forças Armadas e policiais, cumpram seus deveres constitucionais e não reprimam o povo", pede o comunicado. "O novo governo, eleito democraticamente pelo povo venezuelano, oferece garantias a quem cumprir o seu dever."
Após a divulgação do documento, o procurador-geral, Tarek William Saab, ligado ao chavismo, disse que iniciou mais uma investigação criminal contra González Urrutia e María Corina, desta vez por ele ter assinado como "presidente eleito". Segundo Saab, os dois podem ser indiciados por seis delitos, incluindo "incitar as Forças Armadas à desobediência".
A oposição afirma que obteve uma vitória incontestável. "Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro teve 30%. Essa é a expressão da vontade popular", diz o texto, assinado por González Urrutia e María Corina.
"No entanto, Maduro se recusa a reconhecer que foi derrotado e, diante dos protestos legítimos, lançou uma ofensiva brutal", diz a oposição. "Fazemos um apelo à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa violação massiva dos direitos humanos, alinham-se com Maduro e seus vis interesses."
Protestos
As manifestações deixaram pelo menos 16 mortos, segundo organizações de direitos humanos. A ditadura chavista afirma que há mais de 2 mil detidos. Dois militares morreram em incidentes violentos.
González Urrutia foi indicado como candidato por María Corina, que venceu as primárias da oposição, mas foi impedida de concorrer. Ele foi reconhecido como presidente eleito por EUA, Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá.
Outros países, como Brasil, Colômbia e México, ainda não reconheceram o resultado e cobram os dados detalhados da votação A posição dos três foi elogiada ontem pelo presidente da França, Emmanuel Macron, em um telefonema com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Em suas redes sociais, Macron afirmou que apoia a posição brasileira e o desejo do povo venezuelano por uma eleição transparente. "Essa demanda está no centro de qualquer democracia", disse o francês.
Atas de votação
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo chavismo, ratificou na sexta-feira a vitória de Maduro com 52% dos votos, ante 43% do opositor. No entanto, até agora não apresentou as atas de votação, documentos extraídos das urnas que comprovariam os resultados, alegando um suposto ataque hacker.
Maduro, que recebeu uma declaração de "lealdade absoluta" do alto comando militar, na semana passada, alega que há uma tentativa de "golpe de Estado" em curso na Venezuela. Ele prometeu colocar todos os presos em duas penitenciárias de segurança máxima concluídas recentemente.
Carta
Um grupo de 30 ex-presidentes latino-americanos cobrou ontem que Lula reafirme seu compromisso com a democracia e reaja ao que chamam de "evidente usurpação da soberania popular" por parte de Maduro.
Assinam a nota os ex-presidentes Mauricio Macri (Argentina), Álvaro Uribe, André Pastrana e Iván Duque (Colômbia), Carlos Mesa (Bolívia), e Felipe Calderón e Vicente Fox (México), além do ex-premiê espanhol José María Aznar, entre outros líderes - nenhum ex-presidente brasileiro subscreveu a carta.
"O que está acontecendo é um escândalo. Todos os governos americanos e europeus sabem disso. Admitir tal precedente ferirá mortalmente os esforços que continuam a ser feitos com tanto sacrifício nas Américas para defender a tríade da democracia, do Estado e dos direitos humanos", afirma a mensagem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)