Atentos, os turistas estão em silêncio enquanto passeiam pelas salas do museu. Quando alguém do grupo se perde entre uma sala e outra do Memorial do Homem Kariri, basta um olhar do guia para o atrasado da vez se apressar e não atrapalhar os demais.
No meio de distintos sotaques dos visitantes, organizando tudo, está Pedro Gomes. No alto dos seus 10 anos, o anfitrião tem firmeza na fala. “Chama ele, vou começar”, diz o guia, esperando a atenção de todos para desfiar conhecimentos.
Se por um lado, Pedro é severo na organização. Por outro, sabe do seu carisma e consegue, naturalmente, tirar risos da plateia de olhos atentos.
No meio da visita numa tarde ventilada de agosto, começa um alvoroço na sala ao lado onde um grupo de turistas vê uma partida de futebol. A gritaria de “goool” interrompe uma explicação de Pedro sobre pinturas rupestres. O garoto, apesar de contrariado, se antecipa em saber: “Mas foi gol do Brasil?”. Todos riem e ele segue confiante na explicação.
O cativante menino integra as ações da Fundação Casa Grande, que há 35 anos realiza atividades de formação artística e cidadã de crianças e jovens da Chapada do Araripe.
Entre arqueologias e tecnologias, o espaço cultural na cidade de Nova Olinda, na região do Cariri cearense abriga o Teatro Violeta Arraes, a TV Casa Grande, a rádio Casa Grande FM e muito mais. Com tranquilidade, Pedro atua em diferentes áreas.
O POVO - Há quanto tempo você participa das atividades da casa?
Pedro - Desde os meus dois anos de idade. Eu moro aqui perto e eu vinha para cá brincar e recepcionar com minha irmã, Júlia, que hoje tem 18 anos. Aí ela saiu da Casa Grande e eu comecei a ficar só aqui, recepcionando.
OP - Como você aprendeu tanta informação sobre as obras do museu?
Pedro - Aprendi tudo isso com a minha irmã e ela sempre explicava desse mesmo jeito que eu explico. Aí eu aprendi só ouvindo ela falar. A Júlia entrou, mais ou menos, com uns nove anos ou menos aqui e eu aprendi com ela.
OP - Além de recepcionar os turistas, o que mais você faz?
Pedro - Eu sou gerente e fotógrafo. Aí a gente tem uma parceira com o teatro, onde a gente fotografa todo evento que tiver lá. Por exemplo, a Mostra Sesc, a gente vai lá, fotografa, faz vídeo, edita foto e vídeo, ainda faz o backup.
OP - E você também cuida da estrutura da TV?
Pedro - Sim, a gente organiza a televisão. Aí a gente mantém a sala da TV sempre limpa e também sempre trancada porque tem risco, né?
OP - E na rádio?
Pedro - Eu boto o programa “Nação Regueira” no ar e a gente inicia com uma vinhetinha que a gente escolheu. Eu faço o programa de dupla com meu amigo João Pedro. Eu boto minha sequência de música e depois ele coloca a dele. Vai assim até fechar uma hora de programa.
OP - O que você mais toca na sua sequência?
Pedro - Banda Adão Negro, Bob Marley, Marcelo Falcão e Edson Gomes.
OP - Mas você já tocou outros ritmos?
Pedro - Já tive programa de forró e tenho um de hip hop. O programa de forró era “Embolada e alguma coisa”, mas eu esqueci (o nome). O de hip hop tem o nome “Arrepiando o rap”.
OP - As pessoas se encantam muito com vocês nas visitas…
Pedro - É porque a Casa Grande é movida pelas crianças e as pessoas não são acostumadas com as crianças sabendo muito. Aí eles veem a gente recepcionando, sabendo as coisas.
OP - Você já pensou alguma profissão que você queira trabalhar no futuro?
Pedro - Fotógrafo. Eu gosto de fotografar os eventos de teatro, de música.
OP - E o que você deseja para o futuro da Casa Grande?
Pedro - Que seja sempre um lugar muito legal, que acolha muita criança para no futuro ela ter um emprego muito bom.