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Do interior do Ceará para universidade de Oxford
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Do interior do Ceará para universidade de Oxford

Cearense Aratuba é formada em Ciência da Computação, com mestrado na USP. Sonho de estudar na Oxford foi incentivado por colegas de trabalho
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Marcela Alves do interior do Ceará para universidade de Oxford (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal Marcela Alves do interior do Ceará para universidade de Oxford

Marcela Alves, 32 anos, é exemplo de superação e dedicação. Filha de agricultor e dona de casa, ela cresceu em Aratuba, na serra de Baturité, a 98 km de Fortaleza. Estudante de escola pública, ela sempre se esforçou em realizar os seus sonhos por meio dos estudos. Com o apoio do ProUni, cursou Ciência da Computação. Superou desafios como o domínio do inglês durante o programa Ciência sem Fronteiras e fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP).

Recentemente, Marcela conquistou uma bolsa para um doutorado em Ciência da Computação na Universidade de Oxford, na Inglaterra, um sonho realizado com muito esforço. Atualmente, no primeiro ano do doutorado, ela desenvolve um modelo computacional sobre o mercado de trabalho. Marcela permanece dedicada aos estudos e incentiva outros a não desistirem de seus sonhos.

O POVO - Como surgiu a ideia de fazer doutorado em Oxford?

Marcela Alves - A ideia de estudar em Oxford veio dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Oxford primeiro para trabalhar como engenheira de software. Jamais imaginei que conseguiria ser aprovada no PhD de Oxford e ainda conseguir uma bolsa de estudos. Mas meus colegas de trabalho me incentivaram muito falando que a universidade precisa de pessoas com o meu perfil: interessada e muito dedicada. Eu sempre quis fazer um doutorado, mas apenas sonhava com a Universidade de Oxford.

O POVO - Para você o que foi o diferencial que fez você chegar tão longe por meio dos estudos?

Marcela Alves - Com certeza foi a minha dedicação. Em universidades renomadas, os professores querem selecionar os melhores alunos, então a seleção envolve as notas da faculdade, mas também a nossa capacidade de conduzir pesquisa e interesse no assunto. Um doutorado é uma longa e difícil jornada, acredito que a minha história mostrou para os professores que eu sou uma pessoa qualificada.

O POVO - Como sua família reagiu quando descobriu que você iria fazer doutorado em Oxford?

Marcela Alves - A minha família é muito simples. Meus avós eram analfabetos e meus pais nem terminaram o ensino fundamental. Então a minha família não entende direito o que significa fazer um doutorado. Porém, minha mãe sempre me viu estudar muito. Ela diz que se eu consegui essa vaga, é porque eu queria muito e mereço.

O POVO - Como foi a preparação para sair do Brasil para começar a estudar em outro país?

Marcela Alves - Eu saí do Brasil pela primeira vez em 2013 para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos pelo programa Ciência sem Fronteiras. Durante meu mestrado na USP também consegui um intercâmbio acadêmico na Bélgica, então eu já sabia as dificuldades e desafios de estudar fora. Mas sabia também o quanto vale a pena, então vim para a Inglaterra com o coração aberto.

O POVO - Como você se sente sabendo que saiu do interior do Ceará e conseguiu chegar tão longe por meio dos estudos?

Marcela Alves - Eu me sinto extremamente orgulhosa do quanto que eu aprendi profissionalmente e sobre mim mesma. Eu sempre gostei muito de estudar, mas as dificuldades eram muitas. Foi preciso que eu encontrasse uma resiliência muito grande dentro de mim para não desistir e continuar procurando oportunidades. Eu também sinto uma gratidão profunda por meus professores, principalmente os das escolas públicas de Aratuba, que me incentivaram muito também. Ao longo do caminho, também fiz amigos muito queridos. Esses amigos são minha segunda família espalhada pelo mundo. Poder trazer um pouco de alegria para essas pessoas me deixa muito realizada.

O POVO - Como foi se adaptar na Universidade de Oxford?

Marcela Alves - A Universidade de Oxford é a mais antiga universidade de língua inglesa e uma das mais antigas do mundo, portanto a universidade ainda tem costumes praticados desde a idade média. Tendo sido estudante no Brasil e nos Estados Unidos, a formalidade definitivamente foi algo que eu tive que me adaptar. Na Universidade de Oxford estudam príncipes, filhos de primeiros-ministros, filhos de imperadores, atores famosos, então a universidade é bem elitista. O sentimento de não pertencimento era muito grande, mas desde que comecei o curso, isso tem melhorado muito porque apesar de não ter a criação privilegiada da maioria das pessoas que estudam na Universidade de Oxford, eu tenho interesse em construir minha própria história rica de conquistas.

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