O opositor Edmundo González Urrutia, rival do presidente venezuelano Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho, chegou ontem a Madri e pediu asilo à Espanha. Imediatamente, os agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) suspenderam o cerco à Embaixada da Argentina em Caracas, que teve o fornecimento de energia restituído.
A aparente suspensão do cerco à embaixada argentina, que estava sob proteção do Brasil, reduz a tensão e alivia a situação dos seis opositores venezuelanos que estão refugiados dentro do prédio. Do lado de fora, nos bastidores, cresce a especulação de que a fuga de González Urrutia para Madri estaria ligada ao fim das ameaças à sede da missão diplomática da Argentina.
O cerco teria sido, segundo analistas venezuelanos, uma manobra de diversão internacional do chavismo, durante as negociações entre Maduro e o premiê espanhol, Pedro Sánchez, para conceder asilo a González Urrutia, que além de ter sido adversário nas urnas é apadrinhado político de María Corina Machado.
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Autoridades holandesas confirmaram que González Urrutia esteve escondido na residência de seu embaixador em Caracas, de 29 de julho a 5 de setembro - dia em que o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, emitiu o mandado de prisão contra ele.
Da casa do embaixador holandês, González Urrutia se mudou para a residência do embaixador espanhol, de onde começou a negociar sua saída da Venezuela. A saída do opositor foi anunciada na noite de sábado pela vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez.
Ela disse que o regime de Maduro decidiu conceder a González Urrutia uma passagem segura para a Espanha, poucos dias depois de ordenar sua prisão, para ajudar a restaurar "a paz política e a tranquilidade na Venezuela".
No X (ex-Twitter), o chanceler da Espanha, José Manuel Albares, confirmou a chegada de González Urrutia em uma aeronave da Força Aérea. "O governo espanhol está comprometido com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos", disse.
Em mensagem de áudio distribuída para a imprensa, González Urrutia prometeu continuar a luta contra a ditadura. "Em breve, continuaremos a luta para alcançar a liberdade e a recuperação da democracia na Venezuela", afirmou.
González Urrutia tem sido um dos principais alvos da perseguição política do regime de Maduro após as eleições de julho, que o ditador alega ter vencido, embora todas as evidências mostrem o contrário. Até agora, o regime se recusou a divulgar as atas eleitorais que comprovariam o resultado.
O candidato opositor passou a ser alvo de uma investigação focada na divulgação de cópias das atas eleitorais em um site que comprovam a vitória de González Urrutia nas eleições. Por isso, ele é acusado pela ditadura de conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem.
A oposição, liderada por María Corina, afirma que as atas publicadas no site são uma prova da vitória de González Urrutia, com mais de 60% dos votos. No entanto, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo chavismo, declarou Maduro reeleito para um terceiro mandato de seis anos, sem apresentar nenhum detalhe da apuração, como exige a lei, alegando uma violação de seus sistemas.
A proclamação de Maduro como vencedor da eleição desencadeou uma onda de protestos na Venezuela, que resultaram em 27 mortes, 192 feridos e mais de 2,4 mil detidos. Maduro responsabiliza Corina Machado e González Urrutia pela violência e pediu a prisão de ambos. Por enquanto, ela se recusa a fugir e permanece na clandestinidade. (Com agências internacionais)