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Tetracampeão do Rally dos Sertões, cearense Rogério Almeida conta vivências no esporte
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Tetracampeão do Rally dos Sertões, cearense Rogério Almeida conta vivências no esporte

O navegador falou sobre suas conquistas e como tem utilizado a vasta experiência na formação de novos profissionais
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O navegador Rogério Almeida (esquerda) abraça o piloto Milton Júnior (Foto: Reprodução / Instagram)
Foto: Reprodução / Instagram O navegador Rogério Almeida (esquerda) abraça o piloto Milton Júnior

Esporte clássico para os amantes de adrenalina, o rali tem conquistado cada vez mais adeptos em todo o País. No Ceará, Marcos Rogério Almeida, de 57 anos, leva o nome do Estado Brasil afora nas principais competições da modalidade há mais de 30 anos.

Na 32ª edição do Rally dos Sertões, ocorrida em agosto deste ano, o experiente cearense conquistou seu quarto título competindo pela categoria UTV 3. Com mais de 3.700 km percorridos em quase 32 horas, Rogério conquistou o primeiro lugar como navegador, ao lado do jovem piloto Milton Júnior, de apenas 24 anos.

Natural de Russas, na Região Jaguaribana, Rogério envolveu-se com o esporte a motor desde cedo e, de forma inevitável, viu a sua paixão se transformar em ofício. Tendo iniciado como piloto nas corridas de motovelocidade, o cearense agora vive os desafios de ser navegador em uma das vertentes mais complexas do automobilismo: o rali de regularidade. Nesta competição off-road (fora de estrada), vence a equipe que mais se aproximar do tempo de corrida pré-estabelecido.

Ao O POVO, Rogério conta as principais experiências vividas no esporte e como tem dedicado os últimos anos a ajudar novos entusiastas do rali a se estabelecerem na modalidade.

O POVO - Como iniciou a sua trajetória no rali?

Rogério - Começou como uma paixão de menino pela motocicleta. Venho de uma família menos favorecida do interior de Russas e a moto me fez sonhar com esse mundo, então depois de adulto comecei a competir. Sempre fui muito dedicado ao esporte a motor e assim já se foram quase 35 anos de envolvimento com essa paixão. Minha trilha era para ter seguido pelo asfalto, porque fui campeão estadual de motovelocidade nas minhas duas primeiras temporadas e disputaria o Campeonato Brasileiro na temporada seguinte, mas aí o (ex-presidente do Brasil, Fernando) Collor confiscou o dinheiro de todo mundo, inclusive dos meus patrocinadores. Por isso eu brinco dizendo que foi o Collor quem me jogou para o rali.

O POVO - Como ocorreu a transição de piloto para navegador?

Rogério - Quando eu saí do asfalto para a terra, virar navegador de carros foi um processo natural. Tive minha primeira experiência como navegador em 1991, no primeiro Campeonato Cearense em que fui campeão. Mas sendo acostumado a navegar e pilotar na moto, eu achei a navegação no carro muito simples e disse para o meu piloto que não iria mais navegar. Só voltei em 2000, para participar do Campeonato Brasileiro de rali. Fui novamente, gostei e desde então sigo envolvido com a navegação.

O POVO - Alguma vez você pensou em desistir da carreira no esporte a motor?

Rogério - Em 2004 eu estava na equipe Chevrolet e tive um ano muito difícil, tivemos muitas quebras no equipamento, tanto que cheguei para o meu chefe e disse que sairia da equipe. No Rally dos Sertões daquele ano, 48 carros disputaram a prova e o nosso foi o 48º colocado. Depois disso, meu chefe me desafiou, ele me envolveu nas mudanças da equipe e, em 2005, fomos campeões do Rally dos Sertões. Então aquele foi o único momento em que realmente tive vontade de parar, hoje eu não vejo data de validade para mim como navegador no rali.

O POVO - Nesta edição do Rally dos Sertões, vocês enfrentaram muitas dificuldades durante o percurso. Como foi a trajetória?

Rogério - Nos últimos anos, eu tenho me dedicado a somar minha experiência com a de pilotos novos no rali. Este ano eu corri com o alagoano Milton Júnior, novo e novato. É um menino de 24 anos que conseguiu montar uma estrutura bacana e nos levou a essa conquista, e essa foi uma prova muito difícil. Já na prova classificatória, para definir a ordem de largada, nós tivemos problemas com o carro, por isso largamos muito atrás. E logo no primeiro dia da competição, tivemos o mesmo problema da classificatória. Então evoluímos dia após dia durante a prova: começamos em sexto lugar, no dia seguinte ficamos em quinto, e só no penúltimo dia assumimos a liderança. Costumo dizer que as provas mais longas exigem estratégia e paciência, então nem sempre o mais rápido chega primeiro.

O POVO - Você acompanhou a ascensão do rali no Ceará e faz parte desse processo. Qual sua participação na formação de novos profissionais?

Rogério - Em 2005, quando venci o Rally dos Sertões, eu fui eleito o melhor navegador da temporada, uma espécie de Oscar do automobilismo brasileiro. E naquela época, eu fui o segundo nordestino a vencer o prêmio. Quando recebi essa comenda, lembrei de uma cearense que foi campeã pan-americana de saltos ornamentais, a Vitória Régia. Depois dela, nenhum outro cearense teve tanto destaque no cenário nacional. E eu levei essa história como um desafio pessoal e a partir daí comecei a organizar diversas provas para ter um nível de qualidade mais elevado. E um dos troféus que eu levo para a vida é ver vários navegadores e pilotos cearenses de uma geração nova brigando pelas provas no geral.

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