Participando da programação do 10º Congresso Nacional da Educação (Conedu), a Fundação Demócrito Rocha (FDR), representada pelo Comitê de Equidade Racial e de Gênero, conduziu a mesa-redonda “Como desenvolver a equidade no ambiente escolar”. Mediado por Lia Leite, gerente-editorial das Edições Demócrito Rocha (EDR), o debate contou com a participação de Grecianny Carvalho, promotora de Justiça do Ceará, e da professora doutora da UFC Maria de Nazaré.
O Conedu encerrou no sábado, 21, e foi realizado no Centro de Evento do Ceará. Congresso reuniu por três dias educadores, pesquisadores, estudantes, editoras, gestores educacionais e interessados na temática em debates, mesa-redondas, lançamentos literários e cursos.
“Iniciamos as discussões sobre o tema a partir do debate racial, mas à medida que fomos debatendo o assunto notamos que não dava para discutir equidade sem mencionar gênero”, iniciou Lia, citando as ações do Comitê de Equidade Racial e de Gênero da FDR para o desenvolvimento de ações que fortaleçam a equidade no âmbito educacional.
Na proposta de listar as formas de combate ao preconceito e favorecer a inclusão de estudantes no ambiente escolar e universitário, menções ao papel do educador foram destacadas como um dos principais desafios para tratar do assunto no ambiente educacional.
“Quando a gente fala de aprendizagem, de reduzir diferença, de cultura de paz e de tolerância, a gente tem que falar sobre bullying e cyberbullying”, afirma Grecianny ao explicar que “não existe fórmula pronta” para combater a intimidação sistemática – termo dado ao bullying conforme a Lei nº 13.185/2015.
A promotora de Justiça do Estado detalha que a capacitação de docentes no tratamento anti-bullying deve ser feita junto a uma série de ações com pais, alunos, gestores, sociedade e poder público.
“Eu só acredito que seja possível a gente efetivamente mudar, ter um progresso, ao trabalhar na questão da prevenção, e mediante uma ação conjunta entre família, escola, sociedade e poder público”, conta Grecianny.
A promotora cita, ainda, o Programa Previne, do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), que trabalha a questão da violência no ambiente escolar junto aos municípios, capacitando aqueles que lidam diretamente com a área da infância e da juventude na educação.
Levando o debate para o nível da educação superior, a professora doutora Maria de Nazaré Soares reforça a importância do papel do professor no desafio de ampliar a equidade no ambiente educacional.
“Eu acredito que o papel do professor atualmente vai muito de escutar os alunos, entender quais são as demandas e as novas perspectivas que os alunos trazem. Porque, dentro da educação convencional tradicional, o professor vai ser esse indivíduo que sabe de tudo, que já dominou todos os campos. Hoje, a educação está sendo desafiada a repensar isso”, analisa a mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará (UFC – PPAC).
Narazé detalha que as discussões sobre sexo, sexualidade e raça estão se “moldando de outras formas dentro desse corpo social das juventudes” e dar evidência aos jovens recém-chegados à universidade, muitas vezes aqueles advindos do sistema de cotas, é essencial para ampliar a discussão de igualdade na sala de aula.
“O primeiro passo é esse, será a partir dessa escuta que nos levará a pensar dinâmicas e articulações que vão se voltar para uma equidade de gênero e racial, e que realmente vai aderir a esse novo momento da sociedade. E o professor vai ser esse indivíduo que vai mediar a escuta”, conclui.
Durante o momento, a Edições Demócrito Rocha lançou o livro virtual “Machismo, Identidade e Novos Modelos de Masculinidade”, que aborda temáticas de homofobia, questões identitárias, educação de meninos, violência policial, machismo no ambiente corporativo e outros assuntos relacionados ao tema.
Com autoria coletiva de Alexandre Barbosa, Claudicélio Rodrigues da Silva, Deribaldo dos Santos e Valéria Lourenço, a obra busca discutir os modelos tradicionais de masculinidade, baseados em relações de poder e dominação, e os efeitos nocivos do machismo às pessoas de todos os gêneros.
Além do lançamento de “Machismo, Identidade e Novos Modelos de Masculinidade”, a FDR juntamente com a Universidade Aberta do Nordeste (Uane) introduziu o curso on-line “Como desenvolver a equidade no ambiente da escola”.
O livro é gratuito e pode ser adquirido no site da EDR. Já a formação possui matrícula no valor de R$ 126 e pode ser acessada no ambiente virtual da Fundação Demócrito Rocha.
Também participando da programação do 10º Conedu, o Canal Futura, parceiro do O POVO desde 2017, promoveu a mesa “Pacto pela alfabetização e qualidade na EJA”.
Com a participação de Bia Lima, supervisora de inclusão educacional da Fundação Roberto Marinho; Fernando Frochtengarten, gerente do departamento de EJA/FIC/Escola Virtual da Fundação Bradesco; e Socorro Nunes, coordenadora geral de Alfabetização de Jovens e Adultos na Secadi/MEC; o painel teve mediação de Roberto Catelli Jr., especialista em Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“É importante dizer, as pessoas [que buscam o EJA] são excluídas não somente por conta das questões educacionais, elas são excluídas também por conta de toda uma máquina da desigualdade social brasileira, que faz com que as pessoas saiam da escola para trabalhar. Então, o debate é enxergar que a educação é uma das ferramentas fundamentais para a gente reduzir essa dívida social e a desigualdade brasileira”, analisa Roberto Catelli Jr.
Listando dados da pesquisa “Juventudes fora da escola”, realizada em março deste ano pela Superintendência de Conhecimento da Fundação Roberto Marinho, Bia Lima levanta o questionamento: “Será que esses jovens querem voltar ao ambiente escolar?”.
“As motivações de retorno passam por algumas aspirações que falam de projeto de vida, ou seja, garantir emprego e renda, cursar uma faculdade, ter condições melhores para custear a vida familiar e outros fatores que levam aquele jovem adulto a retornar para o ambiente da escola”, avalia a supervisora de inclusão educacional da Fundação Roberto Marinho.