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Arte cearense nas passarelas do SPFW
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Arte cearense nas passarelas do SPFW

Maquiadora cearense integra a equipe de maquiadores do São Paulo Fashion Week 2024 e reapresenta a diversidade LGBT+ e arte cearense na capital paulista
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Maquiadora Shábilla Moura leva diversidade e arte cearense as passarelas do SPFW 24
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Maquiadora Shábilla Moura leva diversidade e arte cearense as passarelas do SPFW 24

A partir da habilidade nata para transformar vidas por meio das cores, Shábilla Moura deu os primeiros passos na carreira como maquiadora. Com formação de cabeleireira, o aprendizado da maquiagem aconteceu de forma autodidata.

A escolha pela área de atuação surgiu enquanto maquiava as amigas e recebia elogios. Assim, logo percebeu que tinha talento para a profissão. Fascinada pelas técnicas que via no reality show norte-americano "RuPaul's Drag Race", Moura foi aprendendo sobre este mundo com a prática.

Com 15 anos atuando no ramo da beleza, Moura se especializou como maquiadora em 2024. Foi a partir do reconhecimento pelo seu desempenho no curso Max Weber Beauty, promovido em São Paulo, que Shábilla foi convidada para participar profissionalmente da 53° edição da Casa de Criadores, plataforma dedicada à arte e moda brasileira.

Em conversa com O POVO, a fortalezense fala sobre sua ida a SP em outubro para representar o Ceará no São Paulo Fashion Week 2024. Levando um pedaço da arte do Vila União, bairro em que cresceu, para as modelos nas passarelas do renomado evento.

O POVO - Você pode falar um pouco mais sobre a sua especialização e como foi trabalhar com a Max Weber? Qual o impacto desses ensinamentos para a maquiagem para a passarela?

Shábilla Moura - Claro! A Max Weber é uma maquiadora com mais de 300 capas de revista, e foi uma experiência incrível aprender com alguém tão experiente. Depois da especialização, ela me convidou para integrar sua equipe em semanas de moda como a Casa de Criadores e, agora, o São Paulo Fashion Week. A maquiagem social é aquela voltada para eventos, como batizados, casamentos, festas, enquanto a maquiagem de moda é pensada para o desfile, luz e sombra, com foco em contar a história da roupa. É uma abordagem mais artística e conceitual.

A maquiagem de moda é muito diferente da social. Na maquiagem social, a gente prepara a cliente para momentos como casamentos, batizados, eventos especiais, enquanto na maquiagem de moda o foco é contar uma história, destacar a roupa através de luz e sombra, geralmente com peles mais limpas e elementos pontuais. O desafio é criar uma harmonia entre a maquiagem e o conceito do desfile, e é isso que faz a diferença.

Para o São Paulo Fashion Week, o conceito da maquiagem ainda será desenvolvido e repassado para mim.

OP - Gostaria de falar sobre sua experiência no São Paulo Fashion Week. Será a primeira vez que você participa desse evento?

Shábilla - Sim, é minha primeira vez no São Paulo Fashion Week. Antes disso, participei de duas edições da Casa de Criadores, um evento semelhante, mas de menor porte. Foi a Max Weber que me convidou para fazer parte da equipe dela nos eventos de moda. Ela reconheceu meu talento e me chamou para esses grandes eventos. Agora, estou muito empolgada para o São Paulo Fashion Week.

OP - Voltando um pouco para sua trajetória pessoal, como foi o processo de de se descobrir enquanto uma mulher trans e como esse momento se conectou com sua profissão?

Shábilla - Minha transição aconteceu por volta dos 29 anos, e foi um processo de descoberta e libertação. Cresci com a sensação de que algo estava errado comigo, como muitas pessoas LGBT sentem. Foi doloroso, porque desde cedo os outros já me rotulavam, e eu mesma não sabia quem era.

Quando comecei a me montar, percebi que me sentia mais eu mesma. E aí, aos poucos, fui entendendo que era essa pessoa, a Shábilla, e isso mudou completamente minha vida. A maquiagem, nesse processo, foi essencial para eu me sustentar e também para eu projetar minha identidade e arte em outras pessoas.

A maquiagem foi o que me permitiu viver minha transição de forma plena. Ela garantiu minha subsistência e, além disso, projetei parte da minha identidade feminina através das mulheres que eu maquiava. Foi um caminho que me deu dignidade e orgulho, sem precisar recorrer a alternativas difíceis como a prostituição, que muitas mulheres trans são obrigadas a escolher por falta de opções.

OP - Como você adiciona sua essência como um diferencial no seu trabalho como maquiadora?

Shábilla - Acredito que o meu diferencial, o que gosto na minha maquiagem, é pegar elementos da maquiagem da celebridade, a maquiagem de artista, e transformar essa mulher em uma celebridade naquele dia especial dela. Quero poder fazer com que as pessoas atinjam a sua melhor versão em seus momentos especiais.

OP - De que maneira acontece a dinâmica nos bastidores desses grandes desfiles? E quais são suas expectativas para o São Paulo Fashion Week?

Shábilla - É um caos criativo maravilhoso! São mais de 40 modelos por desfile, com o tempo corrido para cabelo e maquiagem. Às vezes, o conceito da maquiagem muda de última hora, o que nos exige muita criatividade e flexibilidade. É um ambiente desafiador, mas que nos faz crescer muito profissionalmente. Estou animada para representar a beleza cearense e levar esse talento para um dos maiores eventos de moda do Brasil. Já temos estilistas e stylists cearenses sendo reconhecidos lá fora e agora é minha vez de contribuir com essa excelência, mostrando que o Ceará tem muito a oferecer na maquiagem.

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