Nascido em 22 de março de 1961, filho do engenheiro agrônomo Dion Saraiva Filgueiras, de Barbalha, e da dona de casa Lígia Maria Feitosa Saraiva, de Juazeiro do Norte, o professor e paleontólogo Antônio Álamo Feitosa Saraiva, de 63 anos, é sem dúvida “bem caririense”, como ele mesmo diz.
Casado com a bióloga Isabel Cristina Teixeira Saraiva e pai de dois filhos, há 30 anos atua na área da biologia e descobre a história da natureza através dos fósseis. Ele se considera desde pequeno como um “menino maluquinho”.
Depois de ser homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado Ceará, pela descoberta de um fóssil de camarão, e pelo Congresso dos Pterossauros, agora é a vez do professor Álamo ser agraciado com uma das premiações internacionais mais importantes do mundo da paleontologia: o Morris F. Skinner, da Society of Vertebrate Paleontology (SVP).
O POVO - Na sua infância, você tinha contato com a área?
Álamo Saraiva - Eu era um pouco menino maluquinho, gostava de querer ser cientista, achava que era operar lagartixa, fazer coleção de bichos, olhar a natureza, ver o pintinho nascendo do ovo das galinhas. Ao longo do tempo, por influência do meu pai e do meu avô, que tinham gado aqui, meus heróis de infância eram os vaqueiros: Zé Novo, Toinzinho e Boanerges. Até meus 14 anos, eu queria ser vaqueiro.
O POVO - Tem alguma meta que gostaria de alcançar?
Álamo Saraiva - Espero descrever ainda muitas espécies, publicar bons trabalhos, principalmente um que eu estou finalizando sobre as mortandades da formação Crato (formação geológica da Bacia do Araripe), fazendo um levantamento estatístico explicando por que existiam essas mortandades antes da fase marinha.
O POVO - Houve algum momento marcante da sua carreira que ficou gravado na memória?
Álamo Saraiva - Quando eu coordenei a primeira escavação paleontológica em perfil de fina escala aqui na Bacia do Araripe. Foi a primeira vez que houve esse tipo de trabalho e que deu uma publicação científica muito importante, porque a gente mostrou que realmente haviam transgressões marinhas e que essas transgressões causaram sete níveis de mortandades. A gente definiu o mar invadindo a região do Cariri e eu achei isso muito maravilhoso. Poderia também dizer que foi descrição de espécies fósseis, feita por mim. Botar o nome em uma espécie, é uma coisa muito legal, é muito importante. Você acrescenta conhecimento ao que a humanidade já tinha feito antes.
O POVO - Como você enxerga o futuro da paleontologia?
Álamo Saraiva - O futuro da paleontologia sempre foi uma grande preocupação minha. Por isso, acho que investi avidamente em formar novos quadros e os estudantes que foram alunos de iniciação científica, hoje terminaram doutorado e pós-doutorado, fizeram concursos e se encontram aqui na universidade. Eu sou um otimista, vejo a paleontologia com um futuro muito bom, mas claro, depende muito dos nossos governantes.
Se estuda paleontologia pensando no futuro, ou seja, em que situação estamos, como foi anteriormente e o que a gente espera, com esse conhecimento, resolver problemas do futuro. E o aquecimento global é uma coisa que tem tudo a ver com o aquecimento global que teve no início do cretáceo.
O POVO - Como é a sensação de ser o primeiro brasileiro agraciado por uma premiação internacional como essa?
Álamo Saraiva - Eu concorri com outros dois colegas e até me surpreendi, se não me falha a memória, eram um indiano e um francês. Mas eram pessoas reconhecidas no mundo todo, então eu ter recebido essa homenagem foi uma coisa que me deixou muito surpreso e ao mesmo tempo muito feliz. Porque apesar disso aqui ser o meu campo de divertimento, eu acho que foi um trabalho feito com seriedade, com uma certa abnegação. A pesquisa no Brasil, nem sempre você tem dinheiro e às vezes tira um pouco do bolso pra manter estudantes em campo e essa coisa toda. Eu acho que estou no caminho certo.
O POVO - Um conselho que o senhor daria aos estudantes que estão começando na área da biologia e se interessam por paleontologia?
Álamo Saraiva - Primeiro eu desejo boa sorte e que tenha a mesma felicidade profissional e pessoal que eu tive. E dizer que, além de estudar muito, biologia é campo, como o próprio nome diz: é o estudo da vida. É uma coisa que você tem que ter aquela curiosidade de menino, tem que pegar nos espécimes, ver a natureza. Não acredito em biólogo de computador. Claro que lá pra frente você vai ter programas de análises de parcimônia, de estatística, que aí realmente não tem jeito, vai ter que ir para o computador. Mas meu conselho é esse: vão para campo.